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Açúcar: Mais dúvidas que certezas, mais perguntas que respostas

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou esta sexta-feira com o vencimento outubro/24 cotado a 18.67 centavos de dólar por libra-peso, amargando uma queda acumulada na semana de 53 pontos (11.68 dólares por tonelada) enquanto o vencimento seguinte – março/25 – fechou a 18.99 centavos de dólar por libra-peso com queda de 63 pontos (13.89 dólares por tonelada). Apesar do real mais fraco (veja a seguir), desvalorizando quase 3% na semana, o açúcar em reais por tonelada teve alteração mínima para esta safra.

A semana teve eventos que podemos considerar como cisnes negros, mas que não chegaram a trazer tumulto para os mercados de commodities agrícolas. A tentativa de assassinato ao candidato republicano Donald Trump e a falha cibernética mundial dos clientes Microsoft e Crowdstrike que cancelou voos, suspendeu cirurgias, interrompeu tráfico ferroviário entre outros problemas. Que mundo é esse que estamos vivendo?

No mercado de açúcar, enquanto o número da safra do Centro-Sul converge para um consenso de 600-605 milhões de toneladas de cana, o balanço mundial de oferta e demanda de açúcar parece um verdadeiro enigma. Dependendo de quem você perguntar, você pode ouvir desde “um déficit de 5,5 milhões de toneladas de açúcar até um superávit de 8 milhões de toneladas”, segundo o renomado especialista Michael McDougall, da PGM. Assim fica bem mais fácil planejar, não é mesmo? Será que a equipe de inteligência de mercado enlouqueceu?

Outra confusão recorrente gira em torno do número da safra da Índia, que também parece depender do humor (ou do livro) de quem é consultado. O segundo semestre está cumprindo bem o seu papel de trazer mais dúvidas do que certezas.

Desde novembro de 2022, o mercado futuro de açúcar em Nova York não registrava uma posição tão baixa de contratos em aberto, que é o número total de contratos futuros não liquidados. Atualmente, temos cerca de 765.000 contratos em aberto. Para entender o quão baixo esse volume é, basta comparar com a média dos últimos dois anos, que foi de 890.000 contratos. Nesse período, o máximo de contratos em aberto alcançou 1.026.000.

Vale lembrar que entre 50% e 60% do volume diário negociado na bolsa é de spreads. Os spreads permitem que os traders usem estratégias mais complexas e sofisticadas, aproveitando as variações relativas dos preços entre diferentes meses de vencimento, em vez de depender de movimentos diretos de preço. Como o spread não envolve risco direcional, mas apenas a variação entre os dois meses negociados, o volume tende a ser maior. Mas, o ponto é por que essa redução de volume?

Em 2023, a Bolsa de Nova York negociou 36.975.000 contratos futuros de açúcar, um volume que só foi superado em 2020, quando foram negociados 38.580.000 contratos. Em 2024, até o final de junho, foram negociados 17,7 milhões de contratos, o que representa uma queda de 17% em relação ao mesmo período do ano passado. A previsão é que o ano de 2024 termine com um total de menos de 31 milhões de contratos negociados.

Como o Brasil é o maior exportador de açúcar do mundo e, nos últimos doze meses, inundou o mercado global com 36,5 milhões de toneladas de açúcar, é surpreendente que o volume de futuros negociados tenha diminuído. Uma possível explicação para esse comportamento é a ausência dos fundos. Na sexta-feira, o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência reguladora americana do mercado de commodities, divulgou que, até a terça-feira passada, a posição dos fundos era de apenas 1.380 lotes comprados, um número extremamente baixo.

A verdade é que, há muito tempo, os fundos migraram para outras commodities do grupo das “softs”, como cacau, café e suco de laranja, que apresentavam potencial de lucro mais atraentes (leia-se volatilidade). Com isso, o açúcar foi relegado a segundo plano. Como mencionamos na semana passada, os fundos estão atualmente sem apetite para o mercado de açúcar.

De nossa parte, acreditamos que o preço mínimo do açúcar neste ano já foi alcançado: os 17,95 centavos de dólar por libra-peso negociados em 16 de maio. Após essa data, o mercado subiu quase 300 pontos, trazendo alegria para as usinas. No entanto, a percepção de que o governo Lula não está cumprindo adequadamente a “lição de casa” no que diz respeito ao controle de gastos e à redução de despesas está desvalorizando o real frente ao dólar, o que, por sua vez, está pressionando os preços do açúcar para baixo. O dólar encerrou a semana valendo R$ 5,6059 ainda abaixo da máxima de R$ 5,6777 fechamento do dia 2 de julho.

Tecnicamente, segundo nosso colaborador Marcelo Moreira, “o contrato com vencimento em outubro de 2024 encerrou a semana com o indicador estocástico indicando que o mercado está “sobrevendido” e permanece em tendência de baixa. O próximo suporte importante está em 17,89 centavos de dólar por libra-peso, enquanto as resistências estão em 19,17, 19,38 e 20 centavos de dólar por libra-peso. Se o preço romper o suporte de 17,89 centavos, os próximos suportes importantes estarão em 17,49 e 16,60 centavos de dólar por libra-peso. Para o contrato com vencimento em julho de 2025, o suporte importante está em 17,79 centavos de dólar por libra-peso, com resistências em 18,50 e 19,17 centavos de dólar por libra-peso. Caso o preço rompa o suporte de 17,79 centavos, o contrato pode testar os níveis de 16,27 e, finalmente, 15,56 centavos de dólar por libra-peso.”

Quer adquirir o livro “Commodities Sem Fronteiras”? Você encontra na Livraria Martins Fontes, em São Paulo, ou pelo link abaixo. Boa leitura. https://oseulivreiro.com.br/produto/commodities-sem-fronteiras/ (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 19/7/24)

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