O mundo teve novamente seu dia mais quente já registrado, na última segunda-feira, 22 de julho, ultrapassando o domingo (21), que acabara de conquistar o título, segundo dados preliminares do serviço de monitoramento climático da União Europeia.
Com ondas de calor em todo o mundo e incêndios florestais em partes do Mediterrâneo, da Rússia e do Canadá, a temperatura média global do ar na superfície subiu para 17,15°C na segunda-feira.
Esse número foi 0,06°C superior ao recorde de domingo, de acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, que acompanha esses dados desde 1940.
O dado é uma média global, portanto inclui as temperaturas no hemisfério sul, que atualmente está no inverno, o que reduz o índice.
Os cientistas disseram que é possível que a terça (23) ou esta quarta-feira (24) superem novamente o recorde da segunda-feira.
Até esta semana, o dia recordista em calor havia sido registrado em julho de 2023, quando o pico diário foi quebrado em quatro dias consecutivos, de 3 a 6 de julho. Antes disso, o número mais alto havia sido computado em agosto de 2016.
O que torna o recorde deste ano incomum é que, diferentemente de 2023 e 2016, em abril o mundo saiu do padrão climático El Niño, que geralmente amplia as temperaturas globais devido a águas mais quentes do que o normal no Pacífico Oriental.
Karsten Haustein, cientista climático da Universidade de Leipzig, na Alemanha, disse que é notável que o recorde tenha sido quebrado novamente agora que o mundo está na fase “neutra” do chamado El Niño-Oscilação do Sul.
Isso aponta para a influência maior do que nunca da mudança climática, impulsionada pela queima de combustíveis fósseis, no aumento das temperaturas globais.
“A última segunda-feira pode ter estabelecido um novo recorde de temperatura média global absoluta, mais quente de todos os tempos, ou seja, de dezenas de milhares de anos atrás”, disse Haustein.
A China emitiu uma série de alertas de calor nesta semana, com dezenas de estações meteorológicas em partes da região central e noroeste do país registrando temperaturas superiores a 40°C.
Taiwan se prepara para o impacto do tufão Gaemi nesta quarta-feira, com fábricas e mercados financeiros fechados em meio a previsões de chuvas torrenciais.
Os cientistas afirmam que a mudança climática está tornando os tufões —ciclones tropicais que ganham energia ao se alimentarem do calor do oceano— mais intensos, capazes de atingir velocidades de vento maiores e despejar mais chuva.
O Japão também sofre com um calor recorde durante todo o mês de julho. Alertas de insolação foram emitidos em 39 das 47 prefeituras do país na segunda-feira, com temperaturas superiores a 37°C.
Na terça-feira, mais de 40 milhões de norte-americanos estavam enfrentando temperaturas perigosas, principalmente no oeste dos Estados Unidos, onde rajadas de vento e condições de seca alimentaram dezenas de incêndios florestais.
Até mesmo o Ártico está enfrentando uma onda de calor.
Fairbanks, no Alasca, deve atingir 31°C nesta quarta-feira, aproximando-se de recordes anteriores, enquanto as temperaturas em partes do Ártico canadense, russo e norueguês têm atingido temperaturas mais de 9°C acima da média de 1979 a 2000 para esta época do ano.
“O que realmente surpreende é a magnitude da diferença entre a temperatura dos últimos 13 meses e os recordes anteriores. Estamos em território desconhecido e, à medida que o clima esquenta, certamente quebraremos novos recordes nos próximos meses e anos”, disse Carlo Buontempo, diretor do departamento de mudança climática do Copernicus (conhecido pela sigla C3S), na terça-feira.
Todos os meses desde junho de 2023 —ou seja, 13 meses consecutivos— foram classificados como os mais quentes do planeta desde o início dos registros, em comparação com o mês correspondente nos anos anteriores, disse o Copernicus.
Alguns cientistas apontam que 2024 pode superar 2023 como o ano mais quente já registrado, uma vez que as mudanças climáticas e o fenômeno climático natural El Niño —que terminou em abril— elevaram ainda mais as temperaturas neste ano.
O observatório Copernicus, porém, é cauteloso ao comentar essa possibilidade. “Por enquanto, 2024 está quente o bastante para que o ano inteiro” bata o recorde, disse o serviço europeu, “mas o calor excepcional registrado nos últimos quatro meses de 2023 faz com que ainda seja cedo demais [para prever]” (Folha, 25/7/24)