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Na ONU, Lula perdeu relevância e legitimidade

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Por Eliane Cantanhêde
Presidente brasileiro cobra muito de todo o mundo, mas apresenta pouco no latifúndio que lhe cabe, o Brasil.

O presidente Lula que abrirá nesta terça-feira a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, não tem a força, a disposição e o portfólio de feitos e promessas daquele Lula de 2023, que estava de volta, tinindo, para o terceiro mandato. O discurso e as cobranças serão basicamente os mesmos, mas Lula, assim como a atenção e a repercussão internacional, não.

A expectativa é que repita o tom e o script de domingo no Pacto do Futuro, evento paralelo à abertura da Assembleia Geral, um ano antes da COP-30, em Belém: críticas à “perda de vitalidade” da ONU e à falta de atualização do Conselho de Segurança e cobrança aos países ricos por mais responsabilidade, recursos e ações coordenadas no combate à fome, à miséria e à crise climática.

Bem colocado, mas Lula perdeu relevância e um tanto de legitimidade ao cobrar muito de todo o mundo, mas apresentar pouco no latifúndio que lhe cabe, o Brasil, por excesso de ideologia e pretensão na política externa, reação morosa e frágil às crises ambientais, relação difícil e custosa com os demais poderes. Na Saúde, jogou a dengue nas costas da ministra Nisia Trindade. Na Educação, gastou-se metade do mandato revendo a reforma do segundo grau.

Ao abrir a Assembleia Geral, como fazem todos os anos os presidentes brasileiros ou seus representantes, Lula estará carregando seus erros, como dar corda para Nicolas Maduro, levar rasteira de Daniel Ortega e aproximar-se perigosamente de China e Rússia e ajudar o projeto chinês de usar os Brics como instrumento de poder.

O próprio Itamaraty, profissional e pragmático, começa a assumir o incômodo com o excesso de ideologia da “política do Celso Amorim”, que causa retrocessos, projeta dificuldades e, pior, impede uma comparação avassaladora, como se esperava, com os tempos dramáticos de Jair Bolsonaro, que isolou-se dos nossos parceiros tradicionais, aliou-se a ditadores e empurrou o Brasil para a condição de “pária internacional”.

Parecia fácil e até natural que qualquer presidente faria melhor e traria alívio a um Brasil ainda traumatizado pela pandemia e pela era Bolsonaro, especialmente Lula, com dois governos bem-sucedidos na inclusão, no investimento nas regiões mais pobres, no meio ambiente, na cultura e na política externa. Mas algo anda emperrado.

Se há uma área que, bem ou mal, vem surpreendendo positivamente é a economia, no crescimento, inflação, desemprego. Mas ainda há muitas dúvidas e essa foi, justamente, a área em que Bolsonaro não naufragou. Com uma diferença: ele lavou as mãos e Lula insiste em se meter. Há controvérsias se ajuda ou atrapalha (Estadão, 24/9/24)

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