Produção nacional pode se beneficiar com o ‘maior bloco de investimentos dos últimos 100 anos’, mas para isso tem de acelerar, avalia o diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria.
Na avaliação do diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, o setor industrial terá de incorporar de forma “muito acelerada” a agenda verde diante do cenário de emergência climática que cresceu de escala nos últimos anos. “Vamos ter de fazer uma transição muito acelerada. Nós vamos ter, talvez, o maior bloco de investimentos dos últimos 100 anos.”
Lucchesi participou da abertura do Fórum Estadão Think: “Neoindustrialização apoiada pela transição energética — Como unir a política industrial e a política de sustentabilidade. O evento ocorreu na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta sexta-feira, 20.
Ele diz que o Brasil tem condição de se beneficiar desse movimento e pode se transformar no “que a Arábia Saudita é hoje para a produção de energia fóssil”. Mas também avalia que o País tem desafios pela frente. “O Brasil tem um enorme potencial de energia sustentável barata, mas temos tarifas caras. Tem alguns penduricalhos que criam distorções de preços”, afirma.
A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.
Qual será o papel da mudança energética para a indústria?
O mundo inteiro está avançando na direção da transição energética, da transformação ecológica e da descarbonização produtiva. Nos últimos 200 anos, a nossa matriz energética foi alimentada por combustíveis fósseis, e isso tem aumentado as emissões em todas as atividade humanas. As questões climáticas — e no Brasil, nós vimos as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas florestais — se colocaram na emergência e, inclusive, talvez, no plano do não retorno. Vamos ter de fazer uma transição muito acelerada. Nós vamos ter, talvez, o maior bloco de investimentos dos últimos 100 anos. É uma grande oportunidade.
E o que se coloca para o Brasil?
O Brasil tem um enorme potencial para liderar as agendas da energia verde e, consequentemente, da indústria verde. A gente tem de pensar não apenas em como criar uma nova commodity, uma nova soja da energia verde. Temos de pensar a agenda da descarbonização produtiva. Um bloco de investimento em que nós consigamos atrair investimentos diretos estrangeiros, parcerias tecnológicas, desenvolvimento de pacotes tecnológicos para a produção do aço verde, da química verde, da indústria verde de uma forma geral.
É difícil um país se reindustrializar. Não há um exemplo disso na história, mas é uma oportunidade única. Teremos o maior bloco de investimento da história recente da humanidade, com uma enorme vantagem competitiva do Brasil. Temos as condições dadas. Nós podemos ser o que a Arábia Saudita é hoje para a produção de energia fóssil. Como temos uma sociedade sofisticada, um grande mercado, um setor empresarial industrial sofisticado, temos uma competência de engenharia, tudo isso pode criar vantagens competitivas para o Brasil recepcionar um grande bloco de investimentos. Mas temos um dever de casa.
E quais são os desafios para o Brasil?
A reforma tributária é importante na melhor equação da carga tributária. A carga tributária era excessivamente concentrada na indústria. Temos problemas na regulação energética. O Brasil tem um enorme potencial de energia sustentável barata, mas temos tarifas caras. Tem alguns penduricalhos que criam distorções de preços. Precisamos ter uma melhor regulação do gás natural, porque é um degrau importante para a transição energética, e o Brasil tem um preço muito elevado. É uma agenda importante que precisamos tratar, bem como os outros custos Brasil, que penalizam fortemente a indústria brasileira, além dessa taxa de juros fora do lugar que anula uma série de vantagens competitivas para o Brasil (Estadão, 21/9/24)