Setor deve ser afetado, porém, por demanda mundial, juros e eleições nos EUA.
A fase mais difícil do agronegócio está passando, mas ainda há muitos fatores internos e externos que podem afetar o desempenho do setor. Evolução da economia mundial, taxas de juros, câmbio, participação chinesa no mercado e demanda estão entre eles.
Quatro dos principais bancos que atuam no setor estiveram reunidos nesta quarta-feira (4) no Congresso Brasileiro de Algodão, em Fortaleza (CE), para discutir tendências do setor.
Após um 2024 que se desenhou fora do ritmo que vinha sendo obtido nas safras recentes, a análise é de uma melhora.
Este ano será um período de queda do PIB (Produto Interno Bruto) da agropecuária, após o recorde de 2023, mas o indicador volta a crescer em 2025. Cada instituição trabalha com um número diferente, e as taxas de crescimento vão de 3,5% a 4,5%.
Para Pedro Fernandes, do Itaú BBA, será um período de margem apertada para o produtor, mas não significa que será ano ruim. Estará na média dos últimos dez anos.
Será um período de comedimento nos investimentos. O produtor terá de pensar bem antes de assumir grandes riscos, afirma ele.
Para Maurício Une, do Rabobank, ainda será um período desafiador para as commodities, que passam por riscos de muita volatilidade. O produtor precisa se precaver, adotando principalmente opções, aconselha o representante do banco.
Marcelo Rebelo, do Banco do Brasil, diz que será um período de gestão de risco, mas o Brasil tem vantagem comparativa em relação aos demais concorrentes.
O país é importante em alimentos e em energia renovável, mas precisa ter uma agenda de preservação ambiental responsável. Um fator favorável é que o Brasil tem a China como parceira estratégica.
A China, uma grande parceira do agronegócio brasileiro, apesar dos desafios de curto prazo, tem uma estratégia de longo prazo de aprofundamento de relações, em particular na América Latina, diz ele.
Para André Nunes, do Banco Corporativo Sicredi, os preços estão dados, e o produtor não consegue mudá-los. Portanto, é fundamental uma boa estratégia de comercialização.
A China é uma peça importante no cenário do agronegócio brasileiro. Rebelo diz que estamos acostumados a ver o país asiático crescer de 5% a 7% ao ano. Mas, pensando em um espaço de dois a três anos, essa taxa caminha para 3% a 4%.
Será uma desaceleração gradual, mas organizada, sem nenhuma crise sistêmica que leve a uma desaceleração mais forte, afirma o representante do Banco do Brasil.
Para Une, do Rabobank, definições de juros nos Estados Unidos e no Brasil, além de eleições americanas dão um tempero bastante complexo para esse cenário. A tendência nos Estados Unidos é de baixa dos juros, enquanto a do Brasil é de alta.
O câmbio pode ficar bastante instável. Para este ano, os representantes dos bancos acreditam em uma apreciação do real.
Esse cenário, no entanto, depende das eleições nos Estados Unidos. Uma vitória de Donald Trump aumentaria o confronto com a China, a inflação subiria e a queda dos juros seria reavaliada pelo Fed (banco central dos EUA).
Com uma vitória de Harris Kamala, o enfrentamento comercial com a China continuaria, mas com menos intensidade. A inflação cede, e o banco central dos EUA teria mais espaço para cortar os juros.
Une diz que as maiores economias do globo estão meio cambaleando e um reaquecimento da demanda global fica mais para 2025 e 2026. Aí viria um cenário um pouco mais positivo.
Quanto aos preços das commodities em 2025, não deverá ter alívio para os produtores. Fernandes, do Itaú, acredita que eles ainda estarão bastante pressionados.
A safra americana evolui muito bem, a relação de estoque e de uso está confortável nas principais commodities, com exceção do açúcar.
Essa relação de estoque e uso confortável, mais uma visão de macroeconomia de um mundo que cresce menos, traz uma pressão de preços de commodities para baixo.
Apesar das dificuldades, os analistas acreditam que o setor manterá um crescimento de área, embora em ritmo menor do que nos anos recentes (Folha, 5/9/24)