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Açúcar: Na contramão do mercado

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento outubro/24 cotado a 22.65 centavos de dólar por libra-peso, 347 pontos de alta em relação à semana anterior, equivalentes a 76.50 dólares por tonelada, após ter negociado na máxima de 23.13 centavos de dólar por libra-peso. Vale destacar que o volume negociado na terça-feira foi acima de 455,000 contratos, o segundo maior volume de negociação diária deste século, perdendo apenas para o dia 12 de fevereiro de 2020, com mais de 516,000 contratos.

E os fundos viraram a mão: com base no relatório do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, publicado hoje (sexta-feira), mas tendo como base a terça-feira passada, os fundos especulativos estavam long 2,571 lotes. De terça para cá, a posição em aberto não teve nenhuma alteração substancial.

Quem nos acompanha já conhece nossa visão sobre o mercado de açúcar. Quando o mercado atingiu 17,50 centavos de dólar por libra-peso, afirmamos que aquelas eram as mínimas e que o mercado ainda não havia precificado os problemas iminentes, como a seca que afetava (e ainda afeta) os canaviais, um mix de produção menor de açúcar e, após os incêndios, a percepção de que a safra do próximo ano também poderia ser comprometida em termos de volume. Naquele momento, destacamos que esses níveis representavam uma excelente oportunidade de compra para as safras futuras, especialmente para os consumidores industriais que costumam fixar sua matéria-prima em dólares por tonelada. Dissemos ainda que o mercado negociaria acima de 20 centavos de dólar por libra-peso antes do final do ano.

O que aconteceu no mercado nesta semana, no entanto, está fora do escopo da nossa análise. Há uma diferença clara entre um mercado construtivo, que era e continua sendo nossa visão para o açúcar — um mercado que sustenta os preços e se consolida à medida que os fundamentos se confirmam — e um mercado impulsionado pelo pânico, como o que estamos presenciando agora. A pergunta que todos gostariam de ver respondida é: qual foi o gatilho para esse aumento brusco nos preços? Podemos apenas conjecturar.

Seriam os fundos os responsáveis? Não acreditamos, pois os fundos especulativos estavam vendidos a descoberto em cerca de 20.000 lotes na semana passada, um volume que, mesmo se coberto, seria insuficiente para causar esse frisson no mercado. Entre as terças-feiras dos dias 10 e 17 de setembro, o mercado subiu 150 pontos, enquanto os fundos passaram para 2.600 lotes comprados. A velocidade com que o mercado reagiu nesse período foi de um ponto para cada 150 lotes comprados pelos fundos. Além disso, é comum vermos os fundos construindo suas posições gradualmente, em vez de atuarem de forma tresloucada, a menos que algo inesperado tenha impactado os fundamentos. Mas será que isso realmente aconteceu?

Pouca coisa mudou nesta semana que justificasse um movimento tão acentuado. Na semana passada, por exemplo, o mercado estava relativamente calmo, como se estivesse calculando os efeitos da seca nesta fase final da safra e o impacto dos incêndios na cana plantada para a próxima safra. Além disso, há um número crescente de washouts (ajustes de posições entre comprador e vendedor, liquidando a diferença sem movimentar o produto) ocorrendo, que, segundo um corretor experiente de mercado físico, não deve ter ultrapassado 200.000 toneladas. Isso não é suficiente para justificar um movimento de preços tão intenso. No fim, são apenas conjecturas.

De um lado os nefelibatas que apostam em safra de 620 milhões de toneladas de cana e produção de açúcar acima dos 42 milhões de toneladas e do outro, os pragmáticos, que preferem agir com a lógica e com a razão, que fazem as contas na ponta do lápis e observam uma sucessão de eventos que vai colocar tanto a moagem quanto a produção de açúcar em níveis bem abaixo do que o mercado previra originalmente.

Operações estruturadas podem ter sido o gatilho dessa alta? Considerando que as opções venceram no começo da semana e as usinas têm pouca fixação para fazer para março/25, parece improvável que essa tenha sido a causa, muito embora os acumuladores (sempre eles) começam a dar calafrios àqueles que usaram essa estrutura para maio/25 em diante. Acho improvável que tenha afetado o mercado.

Bem, se não foram os fundos, se não foram os fundamentos mudando drasticamente nem operações tóxicas com derivativos idem, o que nos sobra?

Mercados em alta vertiginosa, quase desenhando um gráfico parabólico, ou em quedas abruptas, como a que vimos no final do ano passado, sempre têm um protagonista oculto. Alguém que foi pego na contramão do mercado, ou seja, aquele sujeito que estava pesadamente vendido e, de repente, começa a suar frio quando o cenário externo aponta para uma alta nos preços futuros na Bolsa. Nos meios acadêmicos, esse movimento é apelidado de forma elegante como “get-me-out” (me tira daqui!), mas nós, reles mortais, chamamos isso de pânico mesmo.

Quando enormes posições vendidas começam a derreter, a chamada de margem dá uma bela bagunçada no fluxo de caixa. E qual é o remédio? Recomprar a posição a qualquer custo via futuros ou opções, o que faz com que a volatilidade das calls (opções de compra) suba como um foguete. Afinal, nada como o desespero para deixar o mercado agitado. As chances de que essa tenha sido a causa,eu diria que é de 8:10.

Os spreads que, como gosto de dizer, são a manifestação no mercado futuro daquilo que os operadores do mercado físico percebem, demonstraram que as casas comerciais trouxeram para mais perto as disponibilidades que tinham no futuro. Isso se faz por meio da compra de spreads. O spread março/maio valorizou quase 20 dólares por tonelada. Ou seja, a preocupação do mercado é que não apenas a safra do Centro-Sul do próximo ano possa ser menos, mas também que pode começar mais tarde. O spread maio/julho valorizou 13 dólares por tonelada. A posição em aberto no outubro/24 saltou quase 12,000 lotes indicando que a trading que comprou (o spread outubro/março) vai querer receber o açúcar na expiração do contrato no próximo dia 30. Nós dissemos aqui que esse semestre iria ser de muita volatilidade. Por enquanto está se confirmando.

Causou surpresa a rapidez com que a Bolsa decidiu alterar as margens desta vez. Curioso, não? Especialmente se lembrarmos que, no ano passado, quando o mercado rondava os 28 centavos de dólar por libra-peso, ela não teve essa mesma pressa. Por que será que agora a diligência apareceu com tanta eficiência? Algum novo senso de responsabilidade repentino? Ou talvez as circunstâncias atuais tenham motivado uma preocupação… bem específica. Perguntas no ar.

Análise Técnica (Marcelo Moreira): O vencimento Out-24 encerrou a 22.66 centavos de dólar por libra-peso. Com essa disparada nos preços muitos “stops” foram acionados e o desespero dos vendidos gerou uma distorção no curto prazo. Nos últimos 7 pregões o Out-24 chegou a subir 469 pontos ou 103.40 dólares por tonelada.  Todos os próximos vencimentos out-24/dez-24/março-25/maio-25/ julho-25 encerraram a semana muito acima do topo da Banda de Bollinger dos 50 dias. Essa oportunidade deveria ser aproveitada para as usinas protegerem a safra 25/26. Atenção: No curto prazo poderemos ver o mercado corrigindo 200 ou 300 pontos buscando voltar a negociar “dentro do canal” da Banda de Bollinger! Então, aproveitem essa “distorção”!

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