Por Pasquale Augusto
Na última terça-feira (29), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o Governo enviará nos próximos dias um Projeto de Lei (PL) chamado de “combustível do futuro”
Entre as principais demandas, está o aumento da mistura de etanolna gasolinade 27% para 30%, assim como de 12% para 15% de biodiesel no diesel.
“Estaremos enviando nos próximos dias o projeto do Combustível do futuro. Estamos aguardando apenas as assinaturas dos ministros Fernando Haddade Geraldo Alckmin. É um projeto de lei para descarbonizar a nossa matriz de transporte”, disse Silveira.
Existe soja e cana suficientes para isso?
Para Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o aumento da mistura nos combustíveisé positiva no aspecto ambiental, no entanto, os produtos dependem da safra agrícola.
“Dessa forma, você pode ter um ciclo ruim em um ano e maiores volumes no ano seguinte. Em anos de safras piores, o ideal seria reduzir esses níveis de mistura, já que o preço pode subir na bomba para o consumidor, o que no final do dia acarreta em uma inflaçãomaior e combustíveis mais caros”, explica.
Para o diretor do CBIE, o momento é interessante em termos de oferta interna para os biocombustíveis, já que a China, principal importadora de soja do Brasil, tem diminuído as compras da oleaginosa.
“Essa seria uma solução para utilizar essa sojaque está sobrando. No entanto, diferente do que acontece no etanol na gasolina, que já existe um limite de mistura, não há uma delimitação para o biodiesel. Ou seja, o governo poderia mexer nesse limite a depender dessa sazonalidade, desses fatores mercadológicos”, conclui.
Segundo Marcelo Di Bonifácio, analista de açúcar e etanol na StoneX, o setor é amplamente capaz de comportar essa nova demanda, especialmente pelos investimentos crescentes no setor de etanol de milho, que podem ganhar cada vez mais espaço no mercado do etanol, assim com as usinas produtoras de cana-de-açúcar conseguem ajustar o mix para produzir mais anidro.
A semana do etanol
De acordo com o analista da StoneX, o mercado do biocombustível contou com poucas movimentações na última semana, com o preço do etanol hidratado avançando 1,82%, em R$ 2,1948, de acordo com o indicador Cepea/Esalq.
“Os preços na bomba subiram novamente na semana passada, reflexo de uma maior demanda, que deve ser ainda mais estimulada por conta do ajuste da Petrobras (PETR4), que tem elevado a gasolina comum ao consumidor final. Porém, os preços mais baratos nas usinas, que chegaram a tocar menores níveis desde o início de 2021, puxaram bastante consumo pelo lado das distribuidoras, que já enxergam esse potencial aumento da busca pelo hidratado na bomba. Assim, os estoques nas distribuidoras tem crescido, por isso o ritmo de aumento no preço do etanol nos postos tem sido um pouco lento”, comenta.
A paridade continua em queda, alcançando patamares abaixo de 70% em 6 estados e no DF: São Paulo (61,7%), Minas Gerais (63,4%), Mato Grosso (58,9%), Goiás (62,8%), Paraná (66%), Mato Grosso do Sul (65,2%) e Distrito Federal (64,6%).
“Isso deve certamente puxar consumo em agosto e em setembro, mas a tendência mais provável é que a paridade em algum momento volte a subir com mais demanda e encarecimento do etanol”, discorre.
Vai faltar açúcar?
Para o açúcar, a tendência de alta vem sendo forte nas últimas semanas, principalmente na semana passada, quando surgiu a notícia de que a Índia pode proibir as exportações na safra 2023/24.
As chuvas no sul do país (importantes regiões canavieiras) não foram boas em agosto, que pode ter sido o pior mês em mais de um século em termos de precipitação.
“O Centro-Sul, que está com fortes ganhos de produtividade nos canaviais e aumentando o mix açucareiro, é fator baixista para o açúcar. No entanto, ele não deve ser suficiente dadas as estimativas de quebra da Ásia, por isso um clima majoritariamente altista em Nova Iorque (ICE Futures)”, finaliza Bonifácio (Money Times, 3/9/23)