País fica atrás de 15 outras nações da América Latina e Caribe, entre elas Chile, Argentina e México.
O Brasil caiu três posições no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo o relatório divulgado nesta quinta-feira (8).
O índice é composto pela expectativa de vida ao nascer, a escolaridade e a renda. Antes na 84ª posição, o Brasil agora é 87º na lista de 191 países analisados pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
O IDH do Brasil em 2020 era 0,758 e caiu para 0,754 em 2021, um decréscimo de -0,004. Segundo a metodologia do índice, quanto mais perto de 1 estiver um país, melhor o IDH.
Essa é a primeira vez que o Brasil apresenta queda em dois anos seguidos. Em 2019, o país havia registrado 0,766 após 11 anos de crescimento.
O Brasil registrou apenas duas outras quedas no IDH ao longo desse período, em 2002 e 2015.
Para Rodrigo Prando, doutor em sociologia e professor Universidade Presbiteriana Mackenzie, a pandemia de Covid-19 explica a queda do Brasil no ranking, mas não somente.
“Como o índice trabalha com fatores como expectativa de vida, renda e escolaridade, todos afetados pela pandemia, temos esse impacto. É importante observarmos outros rankings a serem divulgados em breve, ainda mais os que dizem respeito à educação. O Brasil deve piorar em todos. Podemos creditar isso à conjuntura pandêmica, mas as ações governamentais só trabalharam para piorar um país que já era muito desigual”, avalia.
Para Fabrício Polido, especialista em direito internacional e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a queda do desenvolvimento humano no Brasil por dois anos seguidos é muito preocupante, uma vez que o país retorna a níveis de 2016, quando o IDH foi de 0,755.
O professor explica que a queda reverte grande parte do progresso brasileiro nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda de 2030 da ONU, entre os quais estão a erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade e a igualdade de gênero.
As informações do relatório acendem um sinal vermelho em meio a um mundo em crise. Na avaliação de Polido, as perspectivas para o futuro não são boas.
“O globo está sem direção, de crise em crise, aprisionado por um ciclo de combate aos resultados da degradação das condições de vida, trabalho e meio ambiente, com concentração da pobreza em larga escala, e governos são incapazes de enfrentar as raízes dos problemas”, afirma.
Polido aponta para um “impacto devastador para bilhões de pessoas em todo o mundo” causado pela pandemia da Covid-19 e pela guerra na Ucrânia. Questões como a elevação do custo de vida, crises energéticas e a dependência de combustíveis fósseis “golpearam duramente” países da América Latina, Caribe, África Subsaariana e do sul da Ásia.
“A inversão de indicadores é praticamente universal, pois mais de 90% dos países registraram declínio em sua pontuação do IDH em 2020 ou em 2021 e mais de 40% tiveram queda em ambos os anos, o que revela que a crise ainda está se aprofundando para muitos”, diz.
Em comparação com os países da América Latina e Caribe, o Brasil fica atrás de 15 nações: Chile, que tem o maior IDH da região, Argentina, Bahamas, Trindade e Tobago, Costa Rica, Uruguai, Panamá, Granada, Barbados, Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Névis, República Dominicana, Cuba, Peru e México.
O levantamento da ONU traz ainda o Índice de Desenvolvimento de Gênero (GDI na sigla em inglês). O relatório aponta que a expectativa de vida ao nascer das mulheres caiu de 77,4 anos em 2020 para 76 anos em 2021. Os homens também registraram queda, passando de 70,7 anos para 69,6 no mesmo período. A diferença entre a expectativa de vida entre homens e mulheres em 2021 foi de 6,4 anos.
O GDI mede as desigualdades de gênero pela expectativa de vida feminina e masculina ao nascer, anos de escolaridade esperados de mulheres e homens para crianças e média de anos de escolaridade de mulheres e homens para adultos com 25 anos ou mais e pela renda estimada de mulheres e homens.
Na população brasileira, a expectativa de vida ao nascer registrada em 2021 foi a menor em 12 anos. A média era de 72,8 anos, ante 72,9 em 2009 (Folha de S.Paulo, 9/9/22)