Por Arnaldo Luiz Corrêa
Chegamos ao final do terceiro trimestre de 2022 e, com ele, a expiração do contrato futuro de açúcar na Bolsa de NY com vencimento para outubro/22, que apresentou uma entrega física de 14,652 lotes, equivalentes à 744,000 toneladas de açúcar.
Segundo um experiente trader do mercado, um dos recebedores tem destino certo do produto para as suas refinarias ou pode usá-lo como devolução (swap) dos açúcares de terceiros utilizados ao antecipar os vultosos prêmios recentemente negociados no mercado de açúcar refinado. Já os vendedores podem ter aproveitado o fortalecimento do spread outubro/março fazendo com que o mercado carregue o açúcar para eles até março. No final, nenhuma surpresa. A entrega não foi um indutor direcional.
O contrato de outubro expirou a 18.60 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de 32 pontos na semana, equivalentes a sete dólares por tonelada. O março/23, agora o primeiro vencimento, encerrou negociado a 17.65 centavos de dólar por libra-peso, praticamente inalterado. Os contratos correspondentes às safras 23/24 (maio/julho/outubro/março) e 24/25 (idem) sofreram enorme pressão durante a semana coincidindo com a valorização do dólar em relação ao real. Dessa forma, com a moeda brasileira desvalorizando 3% na semana, NY – nos meses mencionados – retraiu-se em média 5 dólares por tonelada, mas os valores médios em reais subiram cerca de R$ 35 por tonelada.
A UNICA informou que a moagem de cana no Centro-Sul acumulada na primeira quinzena de setembro alcançou a marca de 405.8 milhões de toneladas, 10.3% menor do que a quinzena anterior, mas 2.6% melhor do que a mesma quinzena do ano passado. Se pegarmos as últimas 5 safras, o acumulado desta quinzena acabou representando 76.1% de toda a cana moída naquele ano. Portanto, seria razoável admitir que a safra atual deve encerrar com uma moagem total próxima de 533-540 milhões de toneladas, bem em conformidade com a expectativa do mercado.
O hidratado suspirou um pouco, sendo negociado a R$ 2,8000 por litro, com impostos, segundo Tarcilo Rodrigues, da BioAgência. O valor corresponde a 14.50 centavos de dólar por libra-peso, ou aproximadamente 350 pontos de desconto em relação ao açúcar NY (base março). Conceitualmente, em commodities a arbitragem entre subprodutos (açúcar e etanol) da mesma base (cana) tendem a se aproximar de zero, ou o etanol recupera de valor ou o açúcar vai buscar o etanol.
A maioria das usinas parece estar em compasso de espera aguardando o que vai acontecer após a eleição presidencial cujo primeiro turno ocorre neste domingo, dia 2 de outubro. Qual será a abordagem do governo federal a partir de 2023 em relação aos impostos federais incidentes sobre os combustíveis? Uma parte do mercado simplesmente decidiu não vender hidratado e aguardar as urnas e essa atitude pode ter contribuído artificialmente para a firmeza do mercado de hidratado durante os últimos dias.
Se a isenção dos impostos for prorrogada a tendência é – tudo o mais inalterado – que a próxima safra seja mais açucareira e ai podemos ver uma enxurrada de açúcar que vai pressionar as cotações de NY. A desvalorização da rúpia indiana desloca o ponto de equilíbrio do açúcar daquele país para 18.50 centavos de dólar por libra-peso. Como os indianos gozam de maior proximidade geográfica de países consumidores de açúcar na Ásia, é natural que o açúcar deles negocie a prêmio sobre NY pela diferença de frete marítimo. Assim, NY a 18 centavos de dólar por libra-peso deve ser um importante nível de equilíbrio. No entanto, NY já está abaixo disso. 140 pontos abaixo na 23/24 e 190 na 23/24.
A Índia deve aumentar o percentual de mistura de etanol na gasolina para 12% dos atuais 10%. Isso é positivo pois retira açúcar do mercado. O país tem sido favorecido pelos recentes preços altos e passou uma safra sem ter que subsidiar o mercado de açúcar. Se os preços do açúcar em NY despencarem, a volta dos subsídios é possível. Um subsidio de ₹ 3,000 põe o ponto de equilíbrio ao redor de 16 centavos de dólar por libra-peso. Se reduzido para ₹ 1,500 o ponto se move para 17 centavos de dólar por libra-peso. Será esse o chão do mercado?
Domingo é dia de eleição. Se tivermos a volta do PT, o setor pode esperar o mesmo tratamento que lhe foi dado no passado nos 14 anos infames de governos petistas, ou seja, será instado a pagar a conta, seja por meio de controle do preço dos combustíveis, seja por meio de algum subsidio ou mecanismo de administração de preços. Só para lembrar que nos dez últimos anos de governo petista, seis de Dilma e quatro do ex-presidiário, em 60% do tempo, o setor vendeu hidratado abaixo do custo de produção.
Se tivermos mais quatro anos do incumbente, como já prometido pelo mesmo, os impostos federais continuarão zerados e os preços administrados via interferência na Petrobras poderão ser deletérios para a expansão do setor.
Considerando a provável mudança da matriz energética mundial no pós-guerra e a crise que abateu a Europa nesse setor, o mundo poderá demandar no médio e longo prazo um enorme volume de combustíveis renováveis e o Brasil poderá perder uma excelente oportunidade se não houver expansão, planejamento estratégico e segurança jurídica para os investidores em potencial.
Assim, independentemente de quem vai sentar na cadeira presidencial em 2023, urge ao setor buscar uma representatividade forte e atuante em Brasília, alguém que transmita de maneira firme e vigorosa e possa exercer a pressão no Governo e no Congresso para que a tomada de decisões não prejudique seus legítimos interesses. Alguém que tenha a cara do setor. Caso contrário, vai ser o que tem sido sempre, mais do mesmo o famoso “manda a conta pros usineiros” (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 1/10/22)