A situação pesa ainda mais para as usinas de cana, que já enfrentam um ambiente de margens negativas.
A redução do preço da gasolina pura (A) pela Petrobras, decidida nesta segunda-feira (20/10), aumentou a pressão sobre as usinas de cana-de-açúcar e de milho, que enfrentarão pelos próximos meses um “teto” mais baixo para os preços do etanol. A situação pesa ainda mais para as usinas de cana, que já enfrentam um ambiente de margens negativas com a produção de açúcar e margens apertadas na produção de etanol.
A Petrobras reduzirá os preços de sua gasolina A em R$ 0,14 o litro, mas o reflexo disso na bomba será uma redução de até R$ 0,10 o litro, já que a gasolina C conta com 30% de etanol anidro, avaliou Martinho Ono, diretor da trading SCA, à margem de evento promovido pela consultoria Datagro.
Até então, o mercado de etanol hidratado vinha trabalhando com a perspectiva de uma elevação de preços nos próximos meses, já que, nos níveis atuais, o consumo ultrapassaria a produção. Atualmente, o etanol hidratado é vendido nas bombas com um preço médio de 67% do valor da gasolina C nos postos de São Paulo, que representam metade do consumo nacional de combustíveis. Com isso, o consumo de etanol hidratado vem se mantendo entre 1,7 bilhão a 1,8 bilhão de litros.
Segundo Ono, a perspectiva até então era de que o preço do etanol precisaria subir para que a correlação de preços subisse dos atuais 67% para 70% a 72%, reduzindo a demanda para um nível em que a produção seria capaz de atender nos próximos meses, quando as usinas de cana entram em entressafra e abastecem o mercado apenas com seus estoques.
Em preços, isso implicaria em uma alta de R$ 0,30 o litro no preço do etanol hidratado nas bombas para que o mercado se equilibrasse, saindo dos atuais R$ 3,30 o litro para R$ 3,60 o litro, segundo Ono. Porém, agora com a redução do preço da gasolina, o preço do etanol hidratado não deverá ter que subir tanto, e poderá subir até R$ 0,20 o litro nas bombas, acredita o executivo.
A perspectiva mais modesta para a alta do etanol nos próximos meses limita a capacidade das usinas de cana de compensarem as perdas que vêm tendo com o açúcar. Segundo executivos e analistas consultados pela reportagem, além da produção de açúcar estar dando prejuízo para todo o setor, o biocombustível está dando pouca margem positiva para poucos produtores.
O alento para o setor pode ser o ajuste previsto a partir de janeiro para todo o ano de 2026 na alíquota de ICMS para a gasolina C, que será elevada em R$ 0,10 o litro. Esse aumento, segundo Ono, deve compensar os R$ 0,10 o litro de redução de preço que já começará a valer a partir desta terça-feira (21/10).
Ainda segundo Ono, a decisão da Petrobras “tirou uma ansiedade” que dominava os produtores de etanol, já que até então o preço doméstico da gasolina A estava em torno de R$ 0,30 o litro mais alto do que o preço internacional da gasolina internalizada. “Era uma redução esperada, mas foi menor do que a arbitragem. O mercado recebeu bem”, disse o diretor da SCA (Globo Rural, 20/10/25)