- Executivo da gigante dinamarquesa diz que biocombustível brasileiro tem potencial
- Iniciativa faz parte de movimento de descarbonização das operações da empresa
A dinamarquesa Maersk, uma das maiores transportadoras marítimas de contêineres do mundo, afirmou nesta segunda-feira (20) que está em processo de testes de uma mistura de etanol brasileiro com metanol e diesel marítimo, conhecido como bunker, para suas embarcações, visando descarbonizar operações.
A depender dos resultados dos testes, que incluem o uso de 10% de etanol no combustível marítimo, a empresa deverá iniciar negociações comerciais com grandes produtoras do biocombustível no Brasil, como Raízen, Copersucar, Inpasa, FS e Atvos, disse o vice-presidente de Políticas Regulatórias da Maersk Latam, Danilo Veras, a jornalistas.
Considerando os grandes volumes de combustíveis consumidos pelas embarcações, as negociações deverão versar sobre a capacidade de as companhias ofertarem o etanol de forma sustentável, afirmou Veras, ponderando que o biocombustível brasileiro se mostra com elevado potencial de descarbonizar.
A busca pela descarbonização é uma questão chave para o setor de transporte marítimo, que responde sozinho por cerca de 3% de todas as emissões de gases do efeito estufa do planeta.
O movimento tem potencial para abrir um mercado enorme para a indústria de etanol. Uma mistura de 10% no combustível de todo o segmento marítimo no mundo poderia demandar, hipoteticamente, 50 bilhões de litros, um volume que supera com folga a produção brasileira, que deve girar em torno de 35 bilhões de litros em 2025.
Veras evitou afirmar quando a companhia poderia adotar a mistura em suas embarcações, mas pontuou que a escala de aumento da demanda pelo biocombustível e seus impactos são fatores analisados.
“Quando você dá um salto em escala é preciso estar muito certo de que ele é sustentável”, afirmou ao lado de executivos da Raízen, Copersucar, Inpasa, FS e Atvos.
A Maersk representa 15% do mercado mundial de transporte marítimo e tem a meta emissões líquidas zero até 2040, alcançando um equilíbrio entre a quantidade de gases de efeito estufa emitida e o volume removido da atmosfera. Os testes para usar biocombustíveis são um dos caminhos nesta direção.
DEMANDA É CHAVE
Veras explicou que, embora o etanol brasileiro seja produzido em áreas de cana-de-açúcar consolidadas, sem impacto relevante para desmatamento, ou fabricado em regiões onde se produz o milho na segunda safra, o que reduz a pegada de carbono, as empresas fornecedoras precisarão comprovar que todo o processo é ambientalmente sustentável.
O uso de biomassa para movimentar as caldeiras das usinas também é outro fator favorável ao etanol brasileiro, acrescentou. “Parte das discussões comerciais são sobre sustentabilidade”, declarou, ressaltando que a companhia não admite que o processo possa causar devastação ambiental. “Estamos felizes até o momento porque está caminhando com dados de boa qualidade.”
O vice-presidente de Novos Negócios da Atvos, Caio Dafico, um dos executivos do setor de etanol presentes no anúncio, afirmou que o Brasil tem condições de “quadruplicar” a produção de forma sustentável, desde que receba uma sinalização de demanda.
As discussões com as empresas produtoras de etanol começariam tão logo os testes com a mistura de etanol em bunker terminarem. Os testes da mistura em navios movidos a metanol devem terminar em 23 de outubro, antes de a companhia realizar os mesmos procedimentos com bunker.
A adoção da mistura de biocombustível, contudo, tem desafios de infraestrutura portuária no Brasil, e a companhia avalia se exportaria o biocombustível para realizar a mescla no exterior, em um primeiro momento.
Em nota nesta segunda-feira, o vice-presidente sênior e chefe de Transição Energética da Maersk, Morten Bo Christiansen, disse que as empresas apoiam os trabalhos adicionais da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) para examinar a compatibilidade de segurança do etanol com a tecnologia de motores marítimos, após o órgão adiar, na sexta-feira (17), as discussões sobre o tema (Folha, 21/10/25)