Produtos são aposta do governo brasileiro para industrialização a partir de transição energética.
Consideradas fundamentais no desejo brasileiro de usar a transição energética como motor para uma nova indústria, as tecnologias de hidrogênio verde e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) demandam ainda forte apoio governamental e só devem atingir a maturidade em 2035.
Essa é a avaliação da MIT Tech Review, publicação do braço de energia da renomada universidade americana, lançado nesta quarta-feira (16) no Rio de Janeiro, com base em entrevistas com executivos palestrantes do evento Energy Summit, que ocorreu em junho na cidade.
A publicação lista dez tendências no processo de transição energética, apontando gargalos e sugerindo medidas para governos, corporações e investidores acelerarem o desenvolvimento tecnológico e a geração de negócios.
Outras tendências citadas são a captura de carbono, o uso de inteligência artificial para eficiência energética, a geração distribuída de energia solar, o armazenamento de energia, pequenos reatores nucleares, a fusão nuclear, o uso de materiais mais avançados na indústria e a computação quântica.
Algumas, como a fusão nuclear, ainda estão em estágio muito inicial de desenvolvimento. Já o uso da energia solar para geração distribuída, na outra ponta, é amplamente disseminada atualmente.
“A inovação tecnológica é o grande motor da transição energética”, diz o CEO da MIT Technology Review, André Miceli. “Agora é a hora de investir em tecnologias que moldarão as próximas décadas”.
O Brasil é apontado como uma das lideranças no processo de transição, pela elevada capacidade de geração de energia renovável. Já começa a atrair projetos de hidrogênio verde, considerado fundamental para descarbonizar indústrias como a siderúrgica e a química.
Para os especialistas do MIT, os governos terão papel fundamental no desenvolvimento dessa tecnologia, com políticas de subsídio e créditos de carbono para fomentar a infraestrutura para produção, transporte e armazenamento.
Em agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou projeto de lei que cria incentivos a esse setor no Brasil, com renúncia fiscal de até R$ 18 bilhões. A expectativa é que a aprovação destrave projetos hoje em estudo no país.
Também no caso do SAF, o incentivo governamental é considerado fundamental pela publicação. E, também neste caso, o Brasil já aprovou uma lei para fomentar redução de emissões pelas companhias aéreas com o uso do combustível, que pode ser produzido a partir do etanol.
A MIT Technology Review entende que a adoção em larga escala dos dois produtos ocorrerá por volta de 2035. O horizonte de desenvolvimento das tecnologias durará entre 2025 e 2040, dependendo da agilidade na atuação de governos, empresas e investidores.
“As tendências deste relatório mostram que a transição energética é uma grande oportunidade e precisa ser conduzida com inteligência estratégica”, afirma Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit, evento que será realizado anualmente no país para debater a inovação no setor.
“Políticas públicas robustas e o envolvimento de setores além do setor energético serão essenciais para que essas inovações sejam implementadas com sucesso, trazendo benefícios reais para a sociedade.” (Folha, 17/10/24)