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Açúcar: Um ótimo sinal para o futuro

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

Com a participação importante dos fundos especulativos, que segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira, estavam long (comprados) 72,000 lotes, adicionando 15,560 lotes em relação à semana anterior, o mercado futuro de açúcar em NY acabou por encerrar a semana com o vencimento março-25 cotado 23.01 centavos de dólar por libra-peso, valorizando 39 pontos no acumulado da semana, equivalentes a 8.60 dólares por tonelada.

Os fundamentos do mercado de açúcar permanecem positivos, mas a recente e rápida elevação dos preços em NY reflete, em grande parte, a movimentação dos fundos especulativos e o ajuste dos livros das tradings, que fortaleceram os spreads diante da expectativa de uma combinação de eventos que podem tornar o cenário ainda mais volátil. Explico: nas últimas quatro semanas, os spreads subiram significativamente, com o contrato março-maio ganhando 98 pontos e o maio-julho apreciando 59 pontos, o que indica que o mercado acredita em um início tardio da próxima safra e na possível escassez de açúcar disponível nesse período.

Essa volatilidade é reforçada pela incerteza sobre o tamanho da safra atual, com estimativas variando entre analistas que projetam uma moagem de cana acima de 600 milhões de toneladas e a maioria prevendo algo entre 585-590 milhões. Além disso, há o comportamento do mix de produção e o imprevisível impacto da seca e dos incêndios nos canaviais, um fator difícil de calcular.

Um experiente executivo do setor ressalta que “400 mil hectares foram queimados, dos quais, pelo menos, 40% com soqueiras que não brotaram. Isso inevitavelmente levará a uma redução de área plantada. Outro ponto crítico é a falta de mudas, e a cana está consideravelmente atrasada. A próxima safra, que deve começar mais tarde (em abril), verá a cana muito curta. A quebra no próximo ano será significativa.”

Com base na produção deste ano no Centro-Sul, que foi de 79 toneladas de cana por hectare, estima-se uma perda de 5-6% na produção para o próximo ano. Considerando a média de produção das últimas cinco safras, é possível projetar – ainda que de forma aproximada – uma estimativa de 560 milhões de toneladas para a próxima safra.

É exatamente por essa lógica que o mercado se orienta, e não à toa os spreads – que refletem o sentimento dos participantes do mercado físico no mercado futuro – estão se fortalecendo. Agora, o leitor mais atento pode estar pensando: se o sentimento é de firmeza no mercado, por que não simplesmente comprar o futuro?

A questão é que as tradings operam volumes imensos, e apostar na direção do mercado envolve riscos elevados, muito caixa e uma vulnerabilidade considerável. É mais seguro e financeiramente saudável (menos chamadas de margem!) negociar o spread, uma operação que se aproveita da valorização dos vencimentos mais curtos, causada pela escassez, em relação aos vencimentos mais distantes. Afinal, ninguém gosta de surpresas desagradáveis com a volatilidade.

Quando olhamos para o próximo ano e assumimos uma safra menor, podemos adicionar outros ingredientes ao caldeirão. A Índia, por exemplo, é sempre uma incógnita – capaz de surpreender. E se o petróleo WTI cair abaixo de 70 dólares por barril e o preço do açúcar no mercado externo alcançar 23 centavos de dólar por libra-peso, é bem provável que nossos amigos indianos fiquem mais do que contentes em vender seu produto no mercado internacional.

O Brasil despejou quase 38 milhões de toneladas de açúcar no mercado internacional nos últimos doze meses, elevando sua participação nas exportações globais de 37,5% para 56%. Essa dependência do açúcar brasileiro traz uma consequência natural: maior volatilidade. Se o Brasil pega um resfriado, o mercado global de açúcar acaba com pneumonia. Por isso, a atenção aos fatores como o risco de “morte súbita” da safra atual e as perspectivas para a próxima são cruciais, pois ambos podem impactar drasticamente os preços internacionais.

Recentemente, quando o mercado de Nova York estava negociando a 18,50 centavos de dólar por libra-peso, alguns analistas internacionais chegaram a profetizar que os preços cairiam para 17 centavos. Nossa recomendação naquela época foi clara: não ficar vendido nesses níveis, já que os fundamentos eram (e continuam sendo) construtivos. Incentivamos os consumidores industriais a fixarem preços para as safras seguintes. Agora, convencer compradores a fixarem na baixa e vendedores na alta sempre é um desafio. No entanto, os encantadores de serpente com suas teorias mirabolantes costumam conseguir o oposto – fazer com que vendam na baixa e comprem na alta. O mercado é um verdadeiro teste de nervos, e o racional nem sempre prevalece.

Em nossa opinião o mercado subiu muito rápido e deveria se consolidar nesse nível antes de mudar de patamar, mas é verdade que o nível de incerteza que atinge os tomadores de decisão subiu bastante. Temos que ficar de olho nos próximos números da UNICA que serão o nosso guia para os próximos passos. Os valores em reais por tonelada que as usinas estão conseguindo fixar seus açúcares de exportação para a safra 25-26 são extremamente remuneradores e comparando-os com os valores devidamente corrigidos pelo IPCA nos últimos dez anos, observamos que esse nível ou acima dele, só ocorreu em 18% dos eventos nesse intervalo de tempo.

Se houver dúvidas em relação ao momento de fixar, é possível fazer uma put sintética, ou seja, fixa-se o açúcar em reais por tonelada e concomitantemente compra-se uma call (opção de compra) 200/300 pontos acima do mercado. Se NY continuar subindo, aproveita-se parte desse movimento de alta.

Outro ponto importante a observar para o próximo ano é o crescimento do ciclo Otto, que aumentou 2,7% nos últimos doze meses. Além disso, as vendas de veículos leves tiveram o melhor desempenho em uma década, e o PIB deve crescer 2% no próximo ano. Esses fatores indicam que o consumo de combustível vai absorver uma fatia maior da cana, o que deve estreitar a arbitragem entre o açúcar e o etanol.

A boa notícia é que as usinas entrarão no sexto ano consecutivo de preços remuneradores, o que fortalece a saúde do setor e começa a atrair a atenção de instituições financeiras. Essas instituições, agora mais otimistas, estão ampliando a oferta de crédito para o setor. Paralelamente, a gestão de risco está ganhando uma relevância inédita, sinalizando um avanço significativo na maturidade do mercado. Um ótimo sinal para o futuro!

Análise Técnica (por Marcelo Moreira): O mercado de açúcar apresentou uma nova entrega de 1,70 milhões de toneladas contra o vencimento de Out-24, que fechou a 22,67 centavos de dólar por libra-peso. Esse movimento fez o contrato Março-25 atingir a máxima da semana de 23,45 centavos. Enquanto os vendidos ajustaram suas posições, os compradores, ainda digerindo a alta de aproximadamente 114 US$/tonelada em 15 dias, retraíram-se. Desde a máxima de 23,64 centavos em 26 de setembro, o contrato oscilou entre 23,64 e 22,15 centavos. As próximas resistências estão em 23,47 centavos, com suportes em 22,97, 22,00, 20,45 e 19,97 centavos de dólar (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 5/10/24)

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