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Rios se aproximam de seca histórica em pontos da Amazônia

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Em Manaus, nível do rio Negro é o 13º mais baixo em 120 anos de medição, e emergência se espraia por médio e alto rio Solimões.

Dados compilados pela Defesa Civil do Amazonas mostram um agravamento da estiagem e uma aproximação da situação a momentos extremos de seca —aos piores níveis hídricos nas medições históricas— em rios que são o coração dessa porção da Amazônia.

As realidades são diversas, assim como existem distintas Amazônias, mas os dados reunidos pela Defesa Civil e análises feitas por institutos de pesquisa e monitoramento apontam uma estiagem próxima dos extremos no alto e médio rio Solimões, no baixo rio Negro (onde está Manaus) e no rio Madeira.

Nessas regiões, se deram as consequências mais visíveis da seca até agora. Comunidades ficaram isoladas em Tabatinga (AM) e Benjamin Constant (AM), no alto Solimões. No lago onde está Tefé (AM), no médio Solimões, mais de 120 botos e tucuxis morreram em dez dias.

Em Manaus, a orla do rio Negro está interditada. No curso do Madeira, a usina hidrelétrica Santo Antônio –a quarta maior do país– suspendeu operações.

A tendência é que a vazante dos rios se prolongue e avance por novembro, segundo pesquisadores ouvidos pela Folha –em outros outubros, o fim da estiagem costuma ocorrer na segunda metade do mês.

Haverá menos chuva, da mesma maneira que houve menos chuva em meses já tradicionalmente com baixas precipitações –julho, agosto e setembro. Isso significará uma retomada mais lenta do volume dos rios, com impactos que podem se estender até a próxima estiagem, a de 2024.

 Os dados da Defesa Civil, que usa medições da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), mostram uma cota do rio Solimões em Tabatinga (AM) de 0,11 m na segunda-feira (2). O pior indicador na cidade de fronteira se deu em 11 de outubro de 2010, com –0,86 m. O valor negativo se deve a uma questão metodológica, em razão de uma referência adotada inicialmente.

Fonte Boa (AM), uma cidade próxima a Tefé, no médio Solimões, tinha cota de 10,53 m, ante uma mínima de 8,02 m em 16 de outubro de 2010, segundo os dados compilados pela Defesa Civil.

Já em Manaus, conforme análise feita pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a cota do rio Negro, de 15,4 m, é a 13ª pior num histórico de 120 anos de medição. No fim de outubro de 2010, foi registrada a pior cota: 13,63 m.

Em Nova Olinda do Norte (AM) e Humaitá (AM), as cotas do rio Madeira se aproximam das mínimas históricas, registradas em 1995 e 1969, respectivamente. A usina hidrelétrica que precisou interromper a geração de energia em razão da seca do rio fica em Rondônia.

Dos 62 municípios do Amazonas, 24 estão em situação de emergência, conforme boletim atualizado pela Defesa Civil nesta terça (3). É o caso de todas as 7 cidades do alto Solimões e de 7 das 8 cidades do médio Solimões.

O governo do Amazonas e a Prefeitura de Manaus também decretaram situação de emergência, uma forma de facilitar ações administrativas na região.

 “A seca costuma ir até meados de outubro. Agora, a previsão é que se estenda até início de novembro, com os rios ‘descendo’”, afirma Renato Senna, climatologista e pesquisador do Inpa. “O que ocorre deve entrar no conjunto das piores secas históricas.”

A estiagem, porém, não será “absoluta”, conforme o pesquisador. Pancadas de chuva vão ocorrer, mas em atraso, em menor quantidade e mais isoladas.

“De toda forma, há uma condição generalizada de estiagem nessas bacias amazônicas, como dos rios Negro, Solimões, Branco e Jutaí”, diz Senna. “A situação deve se agravar.”

A estiagem severa é resultado de uma combinação de dois fenômenos: o El Niño, que é um aquecimento acima da média no oceano Pacífico, perto da linha do Equador, e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte

Pesquisadores do Instituto Mamirauá coletam amostrar de botos mortos no lago Tefé (AM). Foto  Bruno Kelly Reuters

 As anomalias que o El Niño provoca na Amazônia, com menos chuvas, ainda prosseguirão na região, segundo o meteorologista Giovanni Dolif, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

“O centro e o sul da Amazônia vivem períodos secos sazonais. É preciso aguardar o que está na média e o que foge da média”, diz Dolif. “A gente ainda não teve toda a anomalia que o El Niño pode provocar.”

Já houve chuvas abaixo da média em períodos que já são pouco chuvosos. Agora, isso deve se repetir no período de chuvas na Amazônia.

“O início das chuvas terá volumes menores. A retomada do nível dos rios vai atrasar. As mínimas em outubro e novembro poderão atingir mínimas históricas”, afirma o meteorologista.

Segundo ele, é possível que os rios não se recuperem até os valores médios esperados, o que pode refletir no próximo período de estiagem. “Já existe uma preocupação para a estiagem do ano que vem”, diz Dolif.

Ele vê o atual cenário de seca como de “magnitude considerável”, mas afirma não ser possível prever se situações extremas se repetirão de forma generalizada na Amazônia.

A bacia do rio Madeira é uma das mais afetadas pela estiagem, segundo os pesquisadores. Também merece mais atenção, conforme os especialistas, o que se passa no rio Jutaí, no oeste do Amazonas, por vivenciar uma seca não vista há 15 anos (Folha, 4/10/23)

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