Editorial Folha de S.Paulo
PIB é relevante, mas avanço pífio da renda revela letargia econômica brasileira.
As dimensões do Produto Interno Bruto têm apelo histórico no imaginário político nacional. O posto de oitava maior economia do mundo motivou ufanismo durante a ditadura militar; petistas até hoje celebram um duvidoso sexto lugar em 2011, sob Dilma Rousseff.
Tais colocações não raro são saudadas como um sinal de pujança, como se o país fosse rico e precisasse apenas de uma melhor distribuição de renda. Trata-se de leitura errônea dos dados.
É fato que, com oscilações aqui e ali, o Brasil costuma figurar nas últimas décadas entre as dez maiores economias do mundo —noticia-se agora que, pelas projeções do Fundo Monetário Internacional, recuperaremos neste 2023 a nona colocação de antes da pandemia.
Nada há de espantoso aí, dado que a população brasileira está igualmente entre as maiores do planeta. Quando se divide o PIB pelo número de habitantes, há muito não aparecemos nem entre os 70 países mais abonados.
A comparação internacional, ademais, é sujeita a distorções. Com a mera conversão do PIB em moeda local para dólares, um país pode melhorar ou piorar sua colocação devido a variações circunstanciais da taxa de câmbio.
O alegado sexto lugar brasileiro de 2011 (a série histórica do FMI mostra atualmente uma sétima posição naquele ano), por exemplo, foi calculado num momento de força do real, quando a cotação do dólar aqui rondava R$ 1,80.
Por essa razão, os cálculos mais sofisticados utilizam uma métrica que considera o poder de compra das moedas nacionais, conhecida como PPP. Nessa conta, o Brasil aparece hoje até em posição melhor, a oitava, no ranking das maiores economias —e as oscilações ao longo do tempo são menores.
O tamanho de uma economia não é irrelevante, claro, uma vez que confere ao país maior peso nas negociações internacionais. Mas a renda per capita, sua evolução e sua distribuição são indicadores muito mais precisos de prosperidade.
Nesse aspecto, não resta dúvida de que nosso desempenho na história recente é muito ruim. Segundo o FMI, desde 1980 o PIB por habitante cresceu pouco menos de 50% no Brasil, ante mais de 100% nos países ricos e de 200% no conjunto dos pobres e emergentes.
Os dados descrevem um gigante estagnado e pouco produtivo, que vê aumentar a distância entre seus padrões de bem-estar e os do mundo desenvolvido (Folha, 18/10/23)