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Biorrefinaria na Zona Franca de Manaus tornará realidade o “pré-sal verde”

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Por Eduardo Geraque

Produção de óleo de palma já substitui diesel fóssil usado em geradores na região e também servirá para combustível de avião

O aumento da exploração do “pré-sal verde”, termo usado pelo CEO do Grupo BBF (Brasil BioFules), Milton Steagall, para explicar o potencial que as monoculturas de palma (ou dendê) têm na Amazônia virou realidade. O contrato feito entre a empresa – que em 2020 comprou da Vale a Biopalma – e a Vibra Energia – antiga BR Distribuidora – prevê a inauguração de uma biorrefinaria na Zona Franca de Manaus até 2026.

De forma inédita em escala industrial, o empreendimento de R$ 2,2 bilhões e capacidade para 500 milhões de litros por ano vai garantir tanto o fornecimento do combustível sustentável de aviação (SAF) quanto de diesel verde. Tudo a partir do processamento do óleo de palma.

“O Brasil tem um imenso potencial para se tornar líder na produção de biocombustível de segunda geração”, afirma Steagall. O CEO da empresa, que é a maior produtora de óleo de palma da América Latina, participou do Seminário Agronegócio, organizado pelo Lide e pelo Estadão, em 10 de outubro, na capital paulista.

Hoje, a BBF utiliza o óleo de palma como insumo para a produção de biocombustíveis para geração de energia renovável nos sistemas isolados da Amazônia, que levam energia para mais de 140 mil moradores de localidades remotas da região. “Ao vencermos o leilão e termos um contrato de 15 anos em um setor que é bastante regulado, conseguimos ter recursos para plantar palma e, de forma gradativa, ir substituindo o diesel fóssil pelo feito com óleo de palma. Essa foi a estratégia que fez a BBF crescer. Toda a discussão que existe hoje no agro passa pela questão do financiamento”, afirma Steagall.

Óleo de palma é aposta entre os biocombustíveis. Foto- Daniel Teixeira-Estadão
Produção

O passo que está sendo dado agora, o da biorrefinaria, também está atrelado ao contrato com a Vibra, empresa que ficará com toda a produção. “Como a questão dos leilões no setor elétrico é um modelo meio que esgotado, o foco agora vai para os combustíveis de segunda geração”, afirma o CEO da BBF.

Em termos de enfrentamento das consequências do aquecimento global, o uso de combustível de fonte fóssil na aviação é um grande vilão. O que abre uma busca por alternativas que sejam renováveis.

Das bancadas dos laboratórios que estudam o problema em vários países do mundo existe um conjunto robusto de dados que favorecem o óleo de palma como matéria-prima para impulsionar os potentes motores do setor aéreo.

Por causa da constituição bioquímica do óleo de palma, é possível obter mais energia em uma menor área plantada na comparação com outros tipos de monoculturas. A palma produz dez vezes mais óleo por hectare quando comparada com a soja, outra importante matéria-prima utilizada para produção de biocombustíveis.

“O Brasil precisa encontrar soluções para seus próprios desafios e ser protagonista em sustentabilidade”, afirma o CEO da BBF. Segundo o executivo, não faz sentido o País optar por um outro caminho. “São 31 milhões de hectares degradados na Amazônia onde é possível ter uma produção em barril de óleo vegetal maior do que o pré-sal explorado hoje pela Petrobras. Por que vamos partir para um combustível que precisa, primeiro, pegar o produto, seja milho ou cana-de-açúcar, para transformar em etanol e, depois, em querosene de aviação sustentável? Com a palma, a natureza está dando o querosene praticamente pronto, o óleo só precisa de uma pequena hidrogenação”, compara Steagall.

Desmatamento

O Brasil compete com outros países do mundo na produção de palma ou dendê. E eles estão do outro lado do mundo, casos da Indonésia, Malásia e Tailândia.

Em termos gerais, uma das preocupações de atores importantes da sociedade, como setores do governo e ONGs, é que os graves problemas socioambientais registrados nos países asiáticos – como destruição florestal, contaminação de rios por causa do uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos e invasão de áreas de comunidades locais – também se espalhem pelo Brasil.

Os dendezeiros, que vieram da África para a Bahia no século passado, chegaram ao bioma amazônico nos anos 1940 e, em um primeiro momento, foram alvo de pesquisas agronômicas por parte de várias equipes de cientistas.

Por décadas, instituições públicas tentaram viabilizar a produção em larga escala dos dendezeiros na região, como já ocorria principalmente na Bahia. Mas o cultivo da palma ganharia um impulso mais significativo apenas no início dos anos 2000.

Desde então, milhares de famílias estão se beneficiando da produção. Como as plantações não podem ser mecanizadas, toda a cadeia produtiva pode gerar renda para as populações locais. Há várias pesquisas na região que mostram como a agricultura familiar, associada aos dendezeiros, pode ser um caminho importante para os amazônidas.

São várias empresas que processam a palma no Norte do Brasil. Falando em termos gerais, Steagall é direto quando perguntado sobre a relação entre produção e desmatamento na Amazônia.

“Por que preciso desmatar? Nós conseguimos ser líderes na produção do óleo de palma do mundo, o óleo mais consumido pela humanidade, sem derrubar nenhuma árvore. O governo brasileiro tinha de estar falando isso em toda a esquina”, diz o executivo.

O novo passo dado pela BBF com a produção de biocombustível na Zona Franca tem o potencial para gerar 7 mil empregos. “É preciso gerar oportunidades para as pessoas, por exemplo, fugirem de atividades ilegais na região.” As operações da BBF envolvem atividades em vários Estados do Norte, como Roraima e Pará.

Outros usos

O dendê fornece dois tipos de óleo: o de palma, extraído da polpa, e o óleo extraído da amêndoa, chamado de óleo de palmiste. Cada palma pode render até 5 toneladas de óleo por ano – volume 5 a 10 vezes superior comparado a outros óleos vegetais. Além disso, o cultivo exige menos terra para render a mesma quantidade de óleo do que seus principais substitutos.

Os principais produtores de óleo de palma são a Malásia e a Indonésia. Juntos, esses países são responsáveis por cerca de 87% da produção mundial. O Brasil produz aproximadamente 0,5% do azeite de dendê consumido no mundo, sendo o Pará o maior Estado produtor.

Acredita-se que os dendezeiros foram introduzidos no Brasil no século 16 e se adaptaram muito bem, principalmente ao clima tropical das regiões Norte e Nordeste.

Depois de colhidos, os frutos são aquecidos e se retiram as amêndoas. O processo, então, segue caminhos diferentes para a obtenção do óleo bruto (óleo de palma) e o óleo de palmiste. O óleo de palma é rico em vitamina A, vitamina E e outros antioxidantes, ômega 6 e ômega 9, além de ácido esteárico e ácidos graxos, como o ácido palmítico.

Estima-se que 72% da produção mundial de óleo de palma siga para a indústria alimentícia. O produto é usado em diversos alimentos, e, em muitos deles, é matéria-prima, como nas margarinas, nos sorvetes, em cremes, recheios de biscoitos, chocolates e, é claro, no óleo de cozinha.

As propriedades do óleo de palma também o tornam muito útil para a indústria de cosméticos e de beleza. Seus antioxidantes combatem radicais livres e são de alta absorção (Estadão, 18/10/23)

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