Por Arnaldo Luiz Corrêa
Na última semana, o mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou com o contrato de março de 2024 sendo negociado a 27.08 centavos de dólar por libra-peso, registrando um aumento de 34 pontos em relação ao fechamento da semana anterior, equivalente a um ganho de 7.50 dólares por tonelada. Contudo, vale ressaltar que a valorização do real em relação ao dólar (encerrando a semana em R$ 5,0832) praticamente neutralizou o aumento nos preços do açúcar em Nova York.
É notável o impressionante volume de moagem divulgado pela UNICA até 1º de outubro, totalizando 493 milhões de toneladas de cana, o que representa um aumento de 14.24% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, a produção total de açúcar atingiu a marca de 32.6 milhões de toneladas, um crescimento de quase 25% em relação ao ano anterior. Se esse ritmo de produção for mantido, é possível que ao final da safra alcancemos uma produção total de cana superior a 630 milhões de toneladas. No entanto, a capacidade de processar todo esse volume é uma questão que merece atenção.
No recente relatório do COT (Commitment Of Trades), que é um documento que detalha as atividades dos comitentes nos mercados de futuros e opções de commodities, divulgado na sexta-feira pela CFTC (Commodity Futures Trading Commission), uma agência independente do governo dos Estados Unidos responsável pela regulamentação desses mercados, foram observados aumentos discretos nas compras realizadas por fundos especulativos. De acordo com os dados da terça-feira, esses fundos acrescentaram mais 10,626 lotes às suas posições, totalizando agora 175,590 lotes em compras.
É relevante notar que a variação no mercado, considerando o período de terça a terça, conforme apurado pelo relatório, foi de 138 pontos. Isso indica que os fundos especulativos conseguiram impulsionar as cotações em Nova York aparentemente com um volume de negociação relativamente baixo.
É importante mencionar que a semana foi interrompida devido a um feriado no Brasil. Portanto, resta-nos aguardar com expectativa o que nos reserva na próxima semana.
Imaginando que a Índia siga adiante com suas ameaças de não exportar açúcar nesta safra 23/24, de acordo com os números publicados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), isso resultaria em um estoque final estimado em 11.8 milhões de toneladas de açúcar. Esse valor representaria um aumento significativo de 24% em relação ao estoque de passagem da safra 21/22, quando o país despejou quase 12 milhões de toneladas de açúcar no mercado internacional, apesar da promessa anterior de limitar a exportação a 7.2 milhões de toneladas.
É importante ressaltar que um estoque dessa magnitude é equivalente a aproximadamente 20 semanas de consumo interno na Índia, o que pode exercer pressão sobre os preços internos do açúcar. No entanto, é necessário considerar que parte desse açúcar provavelmente será destinada à produção de etanol.
Quanto à Tailândia, apesar da redução prevista na produção de açúcar devido a um déficit hídrico acumulado de 32% ao longo do ano, o país começa a safra com um estoque substancial de quase 8 milhões de toneladas de açúcar. A expectativa é que encerre a safra (em novembro de 24) com pelo menos 3.9 milhões de toneladas em estoque. Essa quantidade significativa de açúcar disponível pode ter implicações no mercado internacional, influenciando os preços e a oferta global.
Considerando a capacidade de fornecimento da Índia e da Tailândia, que juntas podem contribuir com pelo menos 8 milhões de toneladas de açúcar (6.5 milhões da Índia e um adicional de 1.5 milhão da Tailândia), e levando em conta o extraordinário volume de açúcar que o Brasil está projetando para a atual e próxima safras, é evidente que manter um discurso otimista no mercado se torna desafiador. Acreditamos, no entanto, que os preços ainda podem ser sustentados até o final deste ano, mas é importante observar que quanto mais artificialmente o mercado se elevar, mais rápida pode ser a queda.
Analisando os números de forma imparcial, a oferta de açúcar, mesmo que enfrente alguns contratempos por parte de outros grandes produtores, não parece estar em risco iminente. O que está gerando preocupações no momento é a situação da logística portuária, que está causando atrasos nos embarques, problemas com nomeações de navios e congestionamento nos armazéns. Essas questões, quando combinadas, estão pressionando as usinas que não têm espaço para armazenar o açúcar e podem optar por direcionar mais cana para a produção de etanol.
Nos níveis de preço atuais, cada 1% de redução na produção de açúcar em favor do etanol representa uma diminuição significativa na margem das usinas, calculada em R$ 3.9 milhões para cada milhão de toneladas de cana. Essa é, sem dúvida, uma decisão difícil que as usinas precisam tomar.
O conflito em andamento no Oriente Médio, desencadeado pelo ataque terrorista contra Israel, suscita uma preocupação legítima: é possível que o preço do petróleo ainda não tenha refletido integralmente os riscos associados a essa situação volátil. Potenciais desdobramentos resultantes da instabilidade na região têm o potencial de surpreender os mercados e reverter substancialmente as perspectivas. Esse cenário pode ser equiparado a um “cisne negro”, um evento imprevisível e de grande magnitude que poderia exercer um impacto significativo nos mercados durante este último trimestre do ano. Vamos nos proteger?
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A compulsão contemporânea por atualização constante de informações compromete seriamente nossa capacidade de planejamento e visão estratégica de longo prazo. Embora o consumo incessante de notícias possa dar a ilusão de estarmos bem-informados, na realidade ele frequentemente nos desvia do essencial, saturando-nos com informações fragmentadas e, paradoxalmente, contribuindo para uma visão distorcida ou incompleta dos eventos. Em outras palavras, o excesso de informações pode, na verdade, ser um vetor de desinformação. Quem diz isso não sou eu, mas o Nassim Taleb.
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É absolutamente revoltante a postura da esquerda brasileira ao acusar Israel, vítima dos ataques terroristas do Hamas. É impressionante como esse grupo político, que reúne uma série de ideologias questionáveis na política brasileira, cria narrativas que parecem pertencer a um mundo paralelo, onde o Hamas é retratado como um grupo inofensivo, e ditaduras como as de Cuba e Nicarágua são distorcidas em “democracias”.
Essa distorção da realidade é nada menos que uma tentativa de justificar o injustificável e é um exemplo do extremismo que tem minado há alguns anos o diálogo político construtivo. Em vez de abordar os problemas com responsabilidade e base em fatos, a esquerda brasileira opta por criar um cenário distorcido que não faz jus à complexidade das questões em jogo (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting;13/10/23)