Por Celso Ming
O combustível sustentável de aviação ainda encontra barreiras para se firmar como vetor de transição energética no setor.
Já há biocombustíveis competitivos para automóveis e caminhões; as centrais termoelétricas estão sendo substituídas; as fontes de energia renovável estão se multiplicando. Mas a produção de combustíveis limpos para aviões está muito atrasada.
Seu nome e sobrenome é Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês) que deve substituir o querosene no processo de descarbonização do setor aéreo.
A aviação civil global pretende cortar pela metade as emissões de carbono até 2050, tendo como ano-base o volume registrado em 2005 – o que requer a eliminação de 21,2 gigatoneladas de carbono em 30 anos. A meta é a de que os combustíveis sustentáveis de aviação contribuam com 65% dessa redução.
Pode ter por matéria-prima biomassas, óleos vegetais e resíduos agrícolas. E prevê, em média, a redução das emissões de CO2 em até 80% no seu ciclo que começa na produção e termina na sua queima. O SAF já foi utilizado em mais de 450 mil voos, conforme informações da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, na sigla em inglês).
Mesmo defendido pelo setor, o SAF ainda encontra barreiras para se firmar como vetor de transição energética. Altos custos de produção e oferta reduzida geram incertezas.
“Mesmo com a disparada dos preços, o querosene de aviação continua mais barato. E existem, também, problemas com a logística de distribuição. Não é todo aeroporto que tem SAF disponível, na quantidade e nos preços compatíveis”, explica Pedro Cortês, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).
Pairam incertezas sobre as especificações técnicas da próxima geração de turbinas das aeronaves comerciais. Trata-se de saber se serão capazes de operar com 100% de combustível sustentável e como será a manutenção desses equipamentos a partir do uso massivo desses combustíveis. Hoje, a regulação permite voar com uma mistura de 50% de querosene tradicional e 50% de SAF, mas, por falta do produto, no Brasil nenhuma companhia opera dessa forma.
Os investimentos globais em expansão da cadeia produtiva são incipientes. Para a aviação atingir a meta de carbono zero em 2050 será necessário produzir 8 bilhões de litros de SAF em 2025 e 449 bilhões em 2050. Em 2021, a produção foi de apenas 100 milhões de litros.
O Brasil tem condições de ser grande player no setor, capaz de produzir até 9 bilhões de litros de SAF por ano, conforme estudo da organização Roundtable on Sustainable Biomaterials (RBS) financiado pela Boeing.
Empresas como a Petrobras, Embraer e Raízen já se apresentaram para o jogo. Mas não detalharam como e quando pretendem desenvolver seus planos. A falta de um marco regulatório com incentivos à produção para aumentar a oferta e reduzir os custos inibe investimentos na área (Com Pablo Santana e Shagaly Ferreira; O Estado de S.Paulo, 9/10/22)