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Os desafios das potências da América do Sul no agronegócio global

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Por Fabiana Alves

  O agronegócio na América do Sul já possui sua relevância no mercado global, impulsionado pelo crescimento populacional e pela demanda crescente por alimentos. Nesse contexto, países como Argentina, Brasil, Chile e Peru têm um papel importante e estão ganhando destaque no setor. Enquanto os dois primeiros se destacam no mercado global de commodities, com foco em produtos como soja, milho, trigo e proteína animal , o Chile e o Peru se diferenciam pela capacidade de cultivar produtos com maior valor agregado.

Atualmente, a Argentina é a maior exportadora global de farelo de soja e a terceira maior de milho do mundo, além de ser um importante player nos setores de carne bovina e trigo. Já o Brasil é um dos principais produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo, e o setor é responsável por 25% do Produto Interno Bruto nacional.

O Chile é reconhecido pela produção de salmão e vinhos de alta qualidade, além de frutas frescas e castanhas. O Peru tem se destacado pela oferta de frutas tropicais na entressafra global e pela relevante indústria pesqueira. Essas diferenciações permitem que estes países explorem nichos com retornos econômicos significativos e alimentos com grande importância nutricional (“superfoods”). A estratégia também reduz a dependência de commodities agrícolas tradicionais, tornando as economias desses países mais resilientes às flutuações de preços e às pressões competitivas.

Embora o agronegócio seja relevante para a economia desses países, é importante considerar os desafios a serem enfrentados, como os efeitos negativos das mudanças climáticas, desastres naturais, questões políticas e sociais, e oscilações nos preços das commodities. Além disso, as flutuações nos mercados internacionais e as barreiras comerciais também podem afetar o comércio da região, criando obstáculos para os exportadores.

No Brasil, um dos principais assuntos em discussão hoje é a reforma tributária, medida que visa modernizar a arrecadação de impostos no país e favorecer a competitividade entre as empresas. Os impactos para o agronegócio ainda não estão claramente definidos, mas o setor está atento à possível alta nos alimentos e os desdobramentos para toda a cadeia produtiva.

Com uma área plantada em expansão, em 2023 o Brasil colheu uma safra recorde de soja e milho, considerando um aumento de 40 milhões de toneladas se comparado com a safra anterior, de 2021/22, o que resulta em um desafio em termos de custos logísticos elevados para o produtor brasileiro, considerando armazenamento, carregamento, transporte e exportação.

Outro aspecto fundamental é a supressão do desmatamento ilegal, que afeta a imagem do país perante os nossos “clientes”, os consumidores globais para os quais exportamos.

Os eventos extremos advindos das mudanças climáticas que impactam o agronegócio, que por sua vez tem uma parcela significativa no PIB dos países da América do Sul, são fatores extremamente relevantes. No Peru, o El Niño aquece a água do mar e afeta a vida marinha da região, impactando a indústria pesqueira. No Chile e Argentina o La Niña pode resultar em secas severas prejudiciais aos cultivos de ambos os países.

No Cerrado Brasileiro, cujo atual regime de chuva viabiliza duas ou até três safras, e é dependente da floresta tropical densa da Amazônia, também pode ser seriamente afetado com o aumento das temperaturas médias globais.

A agenda de sustentabilidade ambiental e social também é um desafio comum entre os países para gerenciar seus impactos. No entanto, vimos na última década, uma evolução significativa na forma como as empresas e os produtores exploram o tema, a partir da mudança de paradigma, com a implementação de tecnologias e com novas gerações trazendo visões diversas ao negócio.

Com isso, a sustentabilidade passa a ser uma área cada vez mais estratégica, impulsionada pela conscientização e produção sustentável, que faz com que as empresas implementem mudanças reais em suas operações, visando oportunidades de negócio a longo prazo. Ou seja, a tradicional equação do risco e retorno incorporou a sustentabilidade do negócio como terceiro fator!

Nesse cenário, é importante ressaltar as medidas positivas que têm sido adotadas. Produtores têm investido em agricultura regenerativa, abordagem que combina técnicas agrícolas tradicionais com inovações modernas para melhorar a saúde do solo, além de aumentar a biodiversidade e sequestrar carbono da atmosfera. Com isso, todo o sistema agrícola passa a ser mais produtivo e sustentável, com o benefício da mitigação dos efeitos negativos das mudanças climáticas.

Os países têm buscado investimentos em tecnologia e inovação para aumentar a eficiência produtiva e reduzir os impactos de suas operações. Além disso, a atual busca de adequação de legislações sociais e ambientais robustas e regulamentações adequadas aos desafios tem sido fundamental. As parcerias com instituições governamentais, privadas e a sociedade civil também são essenciais para promover projetos de conservação e incentivo à agricultura de baixo carbono.

Por outro lado, o mercado de carbono precisa amadurecer mais rapidamente na região para contribuir com o processo de conservação, restauração e redução das emissões de gases de efeito estufa.

Esses aspectos demonstram a necessidade do compromisso conjunto da cadeia do agro e é essencial reconhecer e divulgar as ações positivas. Dessa forma, a ideia da integração do agronegócio na América do Sul oferece sinergia entre as expertises e visões diferentes de cada local, além de fortalecer a relevância global da região.

A partir dessa troca, é possível construir um portfólio de soluções mais estável e diversificado, proporcionando conexões que geram negócios, impulsionando o desenvolvimento do setor e fomentando a sustentabilidade e o crescimento do agronegócio nesses países exportadores, favorecendo suas economias locais.

Vivemos uma nova era do agronegócio, onde a atualização da estratégia do setor e a comunicação de forma coordenada se faz necessário para que essas iniciativas sejam reforçadas, disseminadas e contribuam com o reconhecimento do Brasil e da América do Sul como fundamentais não só para segurança alimentar global, mas também como produtores sustentáveis. 

Com estratégia e comunicação organizadas para lidar com os desafios, poderemos ter a escuta que o Agronegócio desta região  merece nos principais fóruns internacionais que discutem o futuro comercial, as regulamentações sobre cadeias produtivas, e ações para conter o impacto climático global (Fabiana Alves, CEO do Rabobank Brasil e Head para a América do Sul; Assessoria de Comunicação, 3/11/23)

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