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Açúcar: Retiro espiritual

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

Enfrentando resistência para superar a marca de 28 centavos de dólar por libra-peso e com o objetivo de atingir a cobiçada cifra de 30 centavos, o mercado futuro de açúcar em Nova Iorque decidiu – pelo menos é o que parece – fazer uma pausa nesse ímpeto. Em uma semana que teve mais feriados que sessões de mercado, com o Brasil e os EUA pausando para celebrações nacionais, o mercado acabou se acomodando em um clima de ‘vamos aguardar e ver o que acontece’. O resultado foi um fechamento na sexta-feira com uma redução acumulada de 30 pontos durante a semana, levando o contrato de março/24 a encerrar cotado a 26.88 centavos de dólar por libra-peso numa espécie de retiro espiritual dos preços, com esperanças de dias mais iluminados pela frente.

Nos demais vencimentos, tivemos quedas entre 2 e 5 dólares por tonelada nos meses de maio/24 até março/25 (que representam a safra 24/25 do Brasil) e uma pequena elevação dos preços (média menor que 1 dólar por tonelada) nos vencimentos de maio/25 em diante. Como o real praticamente ficou inalterado na semana em relação ao fechamento de sexta-feira passada, os valores de NY convertidos em reais recuaram 38 reais por tonelada no março/24, média 18 reais por tonelada nos vencimentos da 24/25 e inalterado nos meses restantes.

Vamos lá, queridos aficionados do açúcar, respondam rapidinho: quando foi a última vez que Nova Iorque fechou o dia com o açúcar batendo os gloriosos 28 centavos de dólar por libra-peso? Se você palpitou 16 de setembro de 2011, acertou no alvo! Há doze anos, quando as calças coloridas e o Blackberry ainda estavam na moda!

É verdade que o mercado também teve seu momento de fama com um pico de 29.39 centavos, só para depois despencar quase 200 pontos. E os míticos 30 centavos? Ah, esses deram o ar da graça na semana anterior. Desde o Sugar Dinner no Brasil — onde os traders estavam muito otimistas — o mercado tem dançado um tango entre 26.75 e 27.95 centavos, com uma média que não desafina, marcando 27.36 centavos. É o tipo de intervalo que até quem não entende de mercado poderia jogar dardo e acertar!

Os pontos altistas estão todos acionados. Chuva nos canaviais interrompendo a moagem, chuva no porto de Santos interrompendo os embarques, além de noticias da Indonésia sobre a necessidade de importação de açúcar e do Egito comprando açúcar, e todo o arsenal de noticias fundamentalistas que deveriam impulsionar o mercado. Sem sucesso. Notícias requentadas. Hoje não temos a divulgação do COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, para ver a posição dos fundos especulativos devido ao feriado de Ação de Graças nos EUA. A posição será informada na segunda-feira. Pelo volume negociado na semana, não se deve esperar nenhuma alteração de nota.

O renomado economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, apresenta uma visão mais otimista sobre a economia do Brasil em comparação com a maioria de seus pares. Ele aponta que, enquanto muitos analistas se focam excessivamente nos desafios fiscais do país – um ponto frágil do governo – a MB Associados projeta um déficit fiscal contido, estimado em cerca de 0.7% do PIB.

O otimismo da MB, no entanto, deriva de uma perspectiva mais ampla, que inclui o dinamismo do setor agropecuário, a expansão prevista da indústria petrolífera até 2029/2030, e o fortalecimento do setor de mineração.

Segundo Mendonça de Barros, o Brasil se firmou definitivamente como um gigante no mercado global de açúcar e está avançando rumo a um modelo de crescimento comercial robusto, semelhante ao asiático, com um superávit comercial expressivo de US$ 90 bilhões impulsionando a economia. No entanto, ele alerta que sem uma solução para os problemas fiscais, o país não alcançará um crescimento econômico sustentável, pois a resolução desta questão é fundamental para permitir a redução das taxas de juros a níveis que favoreçam um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 24/11/23)

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