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Açúcar: Água e pedra

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

Não dá para negar que o mercado futuro de açúcar mergulhou num tédio tão intenso que deve provocar sonolência àqueles que são obrigados a ficar olhando a tela de negociação de NY. O fechamento de sexta-feira a 27.12 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento março/24, foi o décimo quarto em seguida que permaneceu abaixo dos 28 e acima dos 27 centavos de dólar por libra-peso. A variação entre a máxima e mínima nesses excruciantes dias foi de apenas 3.2% em relação a média dos fechamentos no mesmo período. Isso é praticamente 1/3 da média dos últimos 24 anos para um período de 14 dias. Mas, afinal, o que isso quer dizer?

A resposta a essa pergunta demandaria um aprofundamento científico. O que pode querer dizer é que o mercado está chegando à exaustão, período que costuma antecipar um colapso do mercado ou uma ruptura para níveis mais altos de maneira violenta e vigorosa. Lembra o ditado “água mole em pedra dura…” Os fundos são a água e os fundamentos a pedra.

No início desta semana, devido ao feriado na sexta, o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, publicou a posição dos fundos e descobrimos que os especulativos acrescentaram 28,286 lotes comprados na última apuração, enquanto o mercado se moveu apenas 50 pontos no período analisado (do fechamento de terça-feira dia 7 de novembro contra a terça anterior, dia 31 de outubro).

Em tese, nesse ritmo, os fundos especulativos precisariam comprar pelo menos 150,000 contratos adicionais para elevarem o preço de NY no patamar de 30 centavos de dólar por libra-peso. No COT (Commitment of Traders),  o relatório dos comitentes publicado hoje, referente ao dia 14 de novembro em relação ao dia 7, mostrou um aumento novamente de 1,884 lotes (e o mercado variou negativamente 41 pontos).

O dólar encerrou a semana valendo R$ 4,8986 uma queda de 0.12%. Os valores em reais por tonelada do açúcar em NY variaram negativamente em R$ 13/ton para a 23/24, inalterado para a 24/25, e queda de R$ 21/ton para a 25/26.

Para validar o desapontamento em relação à NY, o volume médio de negociação tem sido abaixo de 85,000 lotes por dia enquanto a posição em aberto (contratos que foram comprados ou vendidos, mas ainda não foram liquidados por uma operação oposta) variou pouco mais de 4.000 lotes em 14 pregões. Ao mesmo tempo, a volatilidade anualizada do mercado despencou de 26% para 22%, o que implica em dizer que o mercado está apresentando um comportamento mais estável. Ou seja, os participantes estão mais confiantes nas condições atuais do mercado e nas perspectivas futuras, levando a menos incerteza e, portanto, a movimentos de preços menos abruptos.

Enquanto alguns esperam o mercado de açúcar fazer novas altas, o petróleo derrapa feio e mostra custo e carrego nos três primeiros meses de negociação. Isso ocorre quando o vencimento mais curto é mais barato que o vencimento mais longo, que inclui o custo e carrego. Essa é uma característica de mercados cuja oferta é maior do que a demanda e, consequentemente, quem produz dá descontos maiores para que o comprador leve o produto o quanto antes.

Resumindo a novela, o mercado de energia continua pressionado, apesar de um relatório divulgado no início da semana pelo JP Morgan recomendando aos clientes que comprassem a commodity. Como diria um experiente trader do mercado financeiro com quem tive o privilégio de trabalhar: “Nada como uma boa dica para a gente quebrar”. Em um mês, o acumulado nas perdas de Brent, diesel, WTI e gás natural é de 9%, 11%, 11% e 14%, respectivamente.

O que impede o mercado de açúcar de realizar, ou se preferirem, quebrar o suporte de 27 centavos de dólar por libra-peso é que os consumidores industriais tem ordem de compras ao redor de 26.50-27.00, assim, qualquer realização mais significativa deverá encontrar – pelo menos por algum tempo – compradores nos níveis mais baixos.

A média de 50 dias está em 26.98 centavos de dólar por libra-peso, acendendo a luz amarela para quem acompanha esse tipo de indicador. A média de 100 dias é de 25,63 centavos de dólar por libra-peso, ainda um pouco longe.

Como temos alertado aos nossos clientes, a Índia deverá reduzir o volume de açúcar para a produção de etanol. Depois de terem direcionado 4.1 milhões de toneladas de açúcar para produzir etanol na safra passada, as estimativas para a safra 2023/2024 recém iniciada encolheram dramaticamente para 3.5 milhões de toneladas de açúcar. O esquálido mercado de energia é o grande “incentivador” dessa mudança. A próxima mudança – eu apostaria sem pestanejar – é que a Índia vai começar lentamente a emitir licenças para exportação de açúcar. Vamos ver como as coisas evoluem.

Na semana do açúcar no final de outubro, pelo menos 50% das pessoas apostavam em açúcar a 30 centavos de dólar por libra-peso, fico imaginando quanto estaria esse percentual hoje.

Em tempo: o lineup em Santos em 16/11, de acordo com a Williams era de 4.35 milhões de toneladas (comparado com 5.26 dia 8/11). O tempo de espera caiu de 33.54 dias para 26.11 dias (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 17/11/23)

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