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O fôlego do etanol 2G acabou? Ações desabam quase 90% desde o IPO

Por Pasquale Augusto

A principal promessa da Raízen, e grande diferencial à época da estreia na B3, era o etanol de segunda geração (E2G)

A Raízen (RAIZ4), que nasceu de uma joint venture entre Cosan (CSAN3) e Shell em 2011, foi responsável pelo maior IPO do ano de 2021, movimentando cerca de R$ 6,9 bilhões e sendo precificada a R$ 7,40.

Mas, desde então, a companhia vem enfrentando desafios na bolsa. Desde março de 2022, a ação opera abaixo do preço do IPO e, agora, já desabou quase 90%, sendo negociada abaixo de R$ 1. 

O que explica este tombo? 

Grandes expectativas com o etanol de segunda geração (E2G)

A principal promessa, e grande diferencial da companhia à época da estreia na B3, era o etanol de segunda geração (E2G), biocombustível feito a partir dos resíduos da cana comum (de primeira geração) e do açúcar.

Esse biocombustível ganhou muita atenção por seu apelo ESG. Afinal, o produto conta com uma pegada de carbono 80% menor que a da gasolina e 30% menor que a do etanol de primeira geração. Por conta disso, ele poderia ser vendido no mercado com um prêmio de até 70% sobre o valor do E1G.

Outra vantagem do E2G é ser feito com resíduos, ou seja, ele não compete com a produção de alimentos, o que também é considerado positivo pelo viés ESG.

Além disso, a Raízen conseguiria produzir 50% a mais sem precisar aumentar um hectare sequer com cana-de-açúcar.

O que mudou no mundo?

No entanto, a chegada do pós-pandemia promoveu uma mudança global nas prioridades de empresas e consumidores no que diz respeito à sustentabilidade. Somou-se a isso a alteração no patamar dos juros globais.

Na visão de Lucas Villela Boacnin, gerente de novos negócios da Argus, empresa de dados sobre commodities, houve também uma redução no ritmo das discussões sobre descarbonização com a volta de Donald Trump à Casa Branca e os incentivos à exploração de combustíveis fósseis, com o slogan “Drill, baby, drill”.

“Esse movimento mexeu com toda a questão de crédito para produtos renováveis. Os renováveis ainda dependem muito crédito e hoje são mais caros que os derivados do petróleo, principalmente agora que a cotação do óleo está mais baixa. Isso afetou muitos biocombustíveis e commodities, não só o E2G”, afirma Boacnin.

A nova postura política dos EUA restringiu a importação pelo país de matérias-primas e produtos renováveis. Além disso, o atual shutdown do governo norte-americano paralisou parcialmente a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que define regras federais e sobre créditos de carbono. Com isso, muitas discussões foram adiadas até março do ano que vem, uma incerteza que afeta todos os combustíveis voltados à descarbonização.

Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, não é que o tema ESG deixou ser importante, mas o cenário de juros altos e aperto financeiro fez as empresas reverem suas prioridades e tornou mais difícil a compra de combustíveis com prêmio, como é o caso do E2G.

“A demanda acabou ficando abaixo do esperado, assim como o retorno sobre o capital alocado nesse projeto. A elevação dos juros, assim como o baixo retorno sobre os investimentos sustentáveis, acabaram colocando o balanço da companhia em uma situação delicada — embora ainda solúvel”, explica Quaresma.

A situação das usinas da Raízen

Do total levantado no IPO, quando a Selic era de 5,25% e os investimentos eram menos custosos, 80% dos recursos seriam destinados pela Raízen para a construção de 20 plantas de E2G e 39 plantas de biogás até 2031.

A companhia, no entanto, está bem longe desse patamar. Atualmente, a Raízen possui três plantas de E2G em operação, todas localizadas no interior do estado de São Paulo: em Guariba (Usina Bonfim), Barra Bonita (Usina Barra) e Valparaíso (Usina Univalem).

A empresa também avança na construção de duas novas unidades: uma na Usina Vale do Rosário, em Morro Agudo, e outra na Usina Gasa, em Andradina — ambas igualmente situadas no interior paulista.

No dia 17 de janeiro de 2025, anunciou o fim da operação da sua planta-piloto (Costa Pinto) de E2G localizada em Piracicaba, no interior paulista.

No segundo trimestre da safra 2025/2026 (2T26), a produção de E2G atingiu 43 mil m³, um crescimento de 186% na comparação com o 2T25, resultado do avanço operacional nas usinas Univalem, Barra e Bonfim.

Ainda há esperança para o E2G?

Na visão do gerente da Argus, o E2G não perdeu força. Pelo contrário, ele acredita que ainda existe uma demanda considerável, especialmente na Europa, pela forma como os mandatos ambientais e regulatórios são estruturados.

“Na Europa há muita restrição no uso de matérias-primas de primeira geração ou crop based, que são aquelas que podem competir com comida, como é o caso do etanol de primeira geração. O E2G não cai nesse problema”.

“Eu acredito que esse prêmio pago pela Europa para o E2G vai se confirmar, mas isso depende da capacidade do Brasil de advogar, porque esses mercados acabam sendo protecionistas e moldam toda sua regulação para proteger o mercado interno”, afirma o especialista.

Boacnin reforça que os combustíveis de descarbonização mais avançados, como o caso do SAF (Combustível Sustentável de Aviação), ainda dependem de regulações que apoiem seu uso. Ele afirma que, a partir de 2030, o mundo deve ver um gatilho para demanda, com novos mandatos formais para uso do SAF.

A Raízen poderia produzir etanol de milho?

Outro fator que mexe com o setor de etanol é o avanço expressivo do biocombustível feito a partir do milho, com custos até 40% menores que o da cana-de-açúcar.

Recentemente, a Petrobras (PETR4) manifestou interesse em retornar para o mercado de etanol, mas descartou oficialmente o interesse de se tornar uma parceira da Raízen, que produz exclusivamente etanol de cana.

Na visão da Empiricus, novos investimentos estão basicamente interrompidos até que o balanço da companhia seja equalizado.

“O etanol de milho é uma questão importante para o setor, por ser uma alternativa competitiva ao etanol de cana. Entretanto, o endividamento precisa ser reduzido antes que a Raízen considere entrar no segmento.”

A tentativa de turnaound da Raízen

No final do ano passado, a Raízen trocou seus principais executivos e começou uma reestruturação, amparada em corte de custos e também na venda de ativos.

Em outubro de 2024, a Cosan, holding que controla a Raízen, anunciou Nelson Gomes, antigo diretor presidente do grupo, substituindo Ricardo Mussa como CEO da Raízen.

No primeiro trimestre da safra 2025/2026 (1T26), a relação dívida líquida/Ebitda ajustado da Raízen estava em 4,.5x, um aumento expressivo ante os 2,.3x do 1º trimestre de 24/25 (1T25). Já a dívida líquida ficou em R$ 49,21 bilhões, um crescimento de 55,8% no mesmo comparativo.

Apesar da dívida elevada, Quaresma destaca que a companhia já fez o trabalho de alongamento desse passivo, com poucos vencimentos neste ano-safra, sendo a maioria concentrados a partir de 2027 e 2028.

A Raízen está executando um plano de desinvestimentos de ativos, que pode levantar entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões nos próximos 18 meses. Desde o final do ano passado, já levantou mais de R$ 3 bilhões, com destaque para 55 usinas de geração distribuída, Usina Santa Elisa e do Leme.

Porém, em sua última divulgação de resultados, a Raízen reconheceu que, para fortalecer a estrutura de capital e acelerar a desalavancagem, está, ao lado de seus acionistas controladores, “avaliando ativamente uma potencial capitalização”.

Em setembro, a Cosan anunciou um aporte de R$ 10 bilhões do BTG Pactual e da Perfin.

Segundo o CFO Rodrigo Araujo, porém, os recursos da transação serão totalmente alocados para fortalecer a estrutura de capital da Cosan, e não serão utilizados para capitalizar a Raízen.

Na visão da analista da Empiricus Research, o aporte basicamente resolve a questão de alavancagem da holding, além de melhorar a governança das subsidiárias.

“Os novos acionistas contam com um extenso histórico de sucesso no setor de infraestrutura brasileiro e que também participarão da gestão da Raízen, podem ajudar a acelerar o processo de turnround e desalavancagem”.

Como os analistas veem a ação?

De nove recomendações de bancos e casas de análise sobre Raízen registradas no terminal do TradeMap, cinco são de compra e quatro, de manutenção.

Apesar do momento atual, BTG Pactual, XP Investimentos e Safra, por exemplo, seguem com suas recomendações de compra para a ação.

Em outubro, o Safra reduziu seu preço-alvo para as ações da RAIZ4 de R$ 2,90 para R$ 1,40, mantendo recomendação outperform (equivalente à compra).

Embora a Raízen tenha avançado em seu processo de turnaround e demonstrado uma alocação de capital mais disciplinada, ainda existem preocupações, segundo o banco.

“Entre elas, a possível diluição em caso de aumento de capital, a pressão contínua da queda nos preços do açúcar e o aumento da oferta de etanol de milho”, afirmam Conrado Vegner e Vinícius Andrade, analistas do Safra (Money Times, 3/11/25)


Cosan capta R$ 1,8 bi em oferta de ações; capitalização já chega a R$ 9 bi

O grupo Cosan, controlador da Raízen, vem desde o ano passado buscando melhorar a estrutura de seu capital e o endividamento. Foto: Raízen/Divulgação

Até agora, incluindo essa oferta, a companhia já levantou R$ 9 bilhões, e mais outra venda de ações, de cerca de R$ 1 bilhão, acontece nos próximos dias, apurou o ‘Estadão/Broadcast’

A Cosan fechou na noite desta segunda-feira, 3, uma oferta de ações (follow-on) com a qual levantou R$ 1,8 bilhão, apurou o Estadão/Broadcast. A oferta faz parte de uma capitalização da holding que controla empresas como Raízen e Compass e que soma no total R$ 10 bilhões.

Até agora, incluindo essa oferta, a companhia já levantou R$ 9 bilhões, e mais outra venda de ações, de cerca de R$ 1 bilhão, acontece nos próximos dias, de acordo com pessoas a par das operações. As informações sobre esta segunda oferta devem se tornar públicas nesta terça-feira, 4.

Na oferta que foi a mercado, fechada nesta segunda-feira, foram vendidas 362,5 milhões de ações, segundo apurou o Estadão/Broadcast. A demanda pelos papéis por investidores institucionais no livro de ordens ficou perto de dez vezes ao que foi ofertado, de acordo com as pessoas ouvidas pela reportagem.

As ações foram vendidas a R$ 5,00, conforme previamente definido. Também, 50% desta oferta está condicionada a permanência com os papéis pelos investidores por dois anos e os outros 50%, por 100 dias.

Dos R$ 1,8 bilhão, cerca de R$ 900 milhões foram alocados no varejo; e a outra metade, com investidores institucionais. Nesse grupo, a empresa priorizou os investidores que já tinham ações da companhia.

Mesmo assim, acrescentou uma pessoa a par da operação, muitos ficaram sem papéis e, com isso, existe a percepção de que a segunda oferta prevista para esta semana também encontre elevada demanda.

Na follow-on (oferta de ações ao mercado), a demanda forte pelos papéis da Cosan veio de gestoras de recursos e a maioria locais. Os estrangeiros ficaram com cerca de 15% dos papéis distribuídos aos investidores institucionais.

A R$ 5,00, o preço do papel foi considerado atrativo, por conta de um desconto perto de 20% em relação ao preço de tela, segundo gestores que participaram de conversas com a empresa. As apresentações fechadas para investidores (roadshows) começaram no dia 24 de outubro e terminaram nesta segunda-feira.

Além da oferta que foi a mercado, a operação teve a venda de 1,45 bilhão de ações emitidas pela Cosan, R$ 7,25 bilhões, compradas pelo BTG Pactual, pela gestora Perfin e pelos family offices ligados à família do empresário Rubens Ometto, Aguassanta e Queluz.

Nova oferta

Uma segunda oferta, na casa de R$ 1 bilhão, deve ocorrer nos próximos dias, e deve ser fechada no dia 11 de novembro, ao mesmo preço, sem lockup. A segunda operação poderia chegar a R$ 2,75 bilhões (550 milhões de ações), mas dependia do sucesso da primeira oferta, fechada hoje. Por isso, será vendido um lote menor, totalizando os R$ 10 bilhões necessários para a capitalização da holding.

Pelo desenho da operação, aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no último dia 30, o controlador, Rubens Ometto, permanece como sócio majoritário, com 50,01% de participação nas ações ordinárias, e mantém sua posição como presidente do conselho.

Já o BTG e a Perfin ingressam com participação combinada de 49,99%. Os três sócios firmaram acordo de acionistas e em conjunto passam a deter 55% do capital social da Cosan.

O grupo Cosan vem desde o ano passado buscando melhorar a estrutura de seu capital e o endividamento, o que já levou à venda da participação bilionária adquirida na operação de metais da Vale e a venda de várias usinas de sua joint venture com a Shell de energia renovável, a Raízen.

Após a injeção de capital, a dívida da Cosan deve cair para R$ 13,7 bilhões, de R$ 23,7 bilhões no segundo trimestre.

A oferta fechada hoje foi coordenada pelo BTG, o Bradesco BBI, além do Santander e do Itaú BBA. Na nova oferta, o Citi também vai participar (Estadão, 4/11/25)


Shell busca alternativas de capitalização na Raízen sem obter controle, diz jornal

Imagem Reuters – Marcos Brindicci

A Shell está atrás de formas de capitalizar Raízen (RAIZ4), joint venture da empresa junto da Cosan (CSAN3). A informação é do Valor Econômico.

Com sede no Reino Unido, a Shell contratou, segundo fontes escutadas pelo jornal, a empresa britânica Lazard para ajudar na estruturação e reduzir o endividamento da Raízen.

Está sendo discutida uma solução na qual a Shell não assuma o controle da empresa. De acordo com rumores, a Shell estaria disposta a colocar até US$ 1 bilhão na Raízen, mas quer atrair investidores para participarem do aumento de capital.

Tudo isso ocorre junto dos esforços da Raízen em vender ativos, com negociações, por exemplo, dos ativos na Argentina.

Outra possibilidade é um aumento de capital via oferta de ações (follow-on), com desconto e entrega de bônus de subscrição para os potenciais investidores. No entanto, mesmo para essa alternativa, a visão é de que a chegada de um sócio estratégico seria importante para atrair novos aportes.

Vale lembrar que, no final de setembro, o BTG Pactual Holding & Asset Management e a empresa deinvestimentos Perfin anunciaram um aporte de R$ 10 bilhões na holding Cosan (Money Times, 3/11/25)

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