Embarques foram impulsionados por problemas na oferta na Europa e por bons prêmios pagos pelo etanol certificado.
A São Martinho deverá elevar a exportação de etanol na safra 2022/23 (abril/março) para mais de 250 milhões de litros, ou aproximadamente 28% da produção total projetada para o ciclo, com a companhia contando com uma boa janela para embarques aos europeus, ao mesmo tempo em que os preços no mercado interno caíram por questões tributárias, disse nesta terça-feira (8) um executivo em teleconferência de resultados.
A companhia, uma das maiores empresas do setor, que revisou o guidance de produção de etanol para 903 milhões de litros em 2022/23, deve exportar mais 95 milhões de litros na segunda parte da safra 22/23, após exportação de 163 milhões de litros no acumulado do ciclo até segundo trimestre do ano agrícola, disse o diretor financeiro e de Relações com Investidores, Felipe Vicchiato.
Ele explicou os embarques foram impulsionados por problemas na oferta na Europa e também por bons prêmios pagos pelo etanol certificado pelo selo Bonsucro.
As exportações de etanol compensaram a fraqueza do mercado local, acrescentou o executivo, ponderando também que se os preços internos não tivessem caído tanto, com consumidores migrando para a gasolina mais competitiva, provavelmente as vendas externas não teriam sido tão fortes.
Ele disse ser difícil saber no momento se as exportações nos próximos anos poderão ser fortes como aconteceu na safra atual, salientando incertezas sobre como ficará a tributação no setor de combustíveis no próximo governo.
“É muito difícil saber qual vai ser o prêmio de exportação para o mercado de Bonsucro no próximo ano. Este ano foi excepcional. Parte desse prêmio foi porque preço do mercado local caiu muito. Se o mercado local não tivesse tido a queda tão grande, provavelmente a exportação não teria sido tão grande”, completou.
“Se voltar parte da tributação, talvez não tenhamos tanta exportação”, acrescentou.
Representantes do setor de combustíveis têm dúvidas quanto à manutenção da isenção dos impostos federais sobre os produtos em 2023, e veem com incerteza ainda maior a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF).
Um eventual fim da isenção de PIS/Cofins sobre os combustíveis tem o potencial de elevar os preços a partir de 1º de janeiro.
A incerteza sobre a política tributária também dificulta projeções de investimentos, disse o diretor da São Martinho.
“A questão de alocação de capital… a gente considerando a alteração na política de preços, não tem grandes projetos para frente, o único projeto que estamos estudando no momento é de biogás na unidade Santa Cruz. Seria um capex da ordem de R$ 180 mihões, demoraria dois anos para investir”, disse ele.
“No mais, o que sobrar de caixa, vamos distribuir via dividendos, não tem outro grande projeto que estamos fazendo”, completou.
A São Martinho divulgou resultado trimestral na véspera, fechando o segundo trimestre do ano agrícola com lucro de R$ 212,6 milhões, queda de 42,3% na comparação anual.
Canavial
A São Martinho avalia que, se chuvas favorecerem, a produtividade da sua safra de cana pode subir entre 5% e 10% na próxima temporada, disse o diretor.
Ele comentou ainda que o canavial da companhia está pronto para ter melhora de produtividade, e que a meta da empresa é de que sua moagem de cana nos próximos dois a três anos chegue a 23,5 milhões a 24 milhões de toneladas/ano, versus guidance de aproximadamente de 20 milhões de toneladas em 22/23.
A produção de açúcar da São Martinho foi estimada em 1,2 milhão de toneladas em 2022/23, com o “mix” de cana destinada a açúcar/etanol em 45%-55%, respectivamente (Reuters, 8/11/22)