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Reduzir desmatamento abre caminho para promover energia e agro na COP28

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O coordenador do Insper Agro Global, professor Marcos Jank, avalia que caso o Brasil consiga reduzir o desmatamento no próximo ano, como prometeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua passagem pela 27ª Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP 27), terá mais força para promover avanços na redução de emissões vindas de outras duas frentes, as energias limpas e a agropecuária.

“Na COP 28, acho que o Brasil deveria atacar em três frentes: desmatamento, energia e agropecuária. Mas a redução do desmatamento é condição básica para que qualquer coisa ande”, disse Jank, que também viajou a Sharm El-Sheikh, no Egito, onde foi realizada a COP 27, em entrevista ao Broadcast.

“Se o Brasil trouxer resultados de diminuição do desmatamento, terá uma ação para comunicar. Ao mesmo tempo, tem um ano para que outros pontos da agenda ganhem força”, continuou. A COP 28 será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023.

Na COP 27, o governo brasileiro escolheu as energias renováveis como tema para seu estande. Mas o Brasil contou com outros dois espaços, muito próximos entre si: um do Consórcio Interestadual Amazônia Legal, que abrigou os governadores da região, focados em tratar de iniciativas na floresta amazônica, e o do Brazil Climate Action Hub, que concentrou representantes da sociedade civil e políticos aliados a Lula.

Jank consente que o desmatamento no Brasil de fato aumentou nos últimos anos. Lembrou que, entre 2004 e 2014, caiu 80%, saindo de uma faixa de 1,5 a 3 milhões de hectares por ano para 500 mil hectares por ano. Desde então, voltou a subir e hoje está em torno de 1,5 milhão de hectares desmatados por ano, dos quais 94% de forma ilegal. “Esta curva tem de baixar. Entrando o novo governo, tenho certeza que será uma prioridade”, disse.

Em torno de 40% das áreas desmatadas estão no Pará, que possui algo como 60 milhões de hectares de terras devolutas (sem destinação pelo Estado), o que abre espaço para invasões e cortes de madeira. “A grande causa do desmatamento no Brasil não é criação de boi ou da mineração, mas os grandes e pequenos grupos que invadem estas áreas”, apontou.

A aplicação do Código Florestal, do qual o professor se diz “defensor”, também se faz necessária, ainda que permita o desmate, no bioma amazônico, de 20% da área de uma propriedade. “O Código deve ser respeitado, mas o produtor de Mato Grosso, por exemplo, que tenha direito a desmatar 20% de sua área, deveria ser estimulado a não fazê-lo”, pontua ele, citando como exemplo o REDD, mecanismo de compensação financeira para países em desenvolvimento ou comunidades desses países, pela preservação de suas florestas. “Há caminhos que não são desrespeitar o Código Florestal”, enfatizou.

Energias limpas 

Saindo da posição de vilão do desmatamento, o Brasil poderá promover ações nas frentes da energia e da agricultura, nas quais tem bons projetos para mostrar, diz Jank. Na energia, além de uma matriz 50% limpa, com energia elétrica gerada por hidrelétricas, usinas eólicas e solares, também tem combustíveis feitos com biomassa, como o etanol de cana-de-açúcar e de milho, biodiesel com óleo de soja, biogás e biometano.

Nem todas estas soluções servem para outros países, lembra ele, mas há uma em desenvolvimento com potencial: a conversão do etanol em hidrogênio para ser utilizado em células de combustível – espécie de bateria para carros, movida a hidrogênio e não a eletricidade. “O etanol não é a solução para todo mundo, mas a célula de hidrogênio, sim, será. Ainda depende de amadurecer a tecnologia, mas pode ser uma solução global”, afirma.

Outro campo no qual a atuação do Brasil deve ser reconhecida é justamente a agropecuária, avalia Jank. Práticas mais eficientes de produção, progressivamente adotadas no País, ajudam a capturar emissões de gases de efeito estufa e podem ser replicadas em outros países de clima tropical, defende ele.

Na pecuária, a conversão de pastos degradados, com rebanhos com média alta de idade de abate, em pastagens com menor idade média de abate do gado, além de melhoramento genético e nutrição especial, é um exemplo. Na agricultura, o sistema Integração Lavoura Pecuária (ILP), já adotado em 20 milhões de hectares, deverá chegar a 50 milhões em 2050, afirma o professor, citando estimativa da Embrapa. “Quando ajudamos a agropecuária a reduzir suas emissões de carbono, estamos ajudando a cadeia produtiva (tradings, varejistas) a reduzir suas emissões. Isso também diminuiu a pressão sobre o desmatamento”, lembra.

Jank explica que esse tema nunca foi trabalhado em uma COP porque a agenda sempre foi pautada por países ricos. “Seria importante que o Brasil recebesse esse reconhecimento. Deveria ser parte central da solução da questão climática, tem de ser colocado no centro da discussão”, afirma. Uma possibilidade seria o País buscar alianças com países que tenham de lidar com a insegurança alimentar e climática.

COP no Brasil 

Jank considera “ótima” a ideia de o Brasil ser sede da COP 30, em 2025, levantada nesta semana na COP 27 pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva levou a proposta durante a COP 27 ao secretário geral da ONU, António Guterres, em encontro realizado no Egito. “Pode ser um estímulo para avançarmos nas três áreas” (Broadcast, 29/11/22)

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