Em seu primeiro dia no Egito, presidente eleito abordou Guerra da Ucrânia em conversas com enviados do clima das duas potências.
Se querem paz, China e Estados Unidos são capazes de criá-la, disse Lula aos enviados especiais do clima da China, Xie Zhenhua, e dos Estados Unidos, John Kerry.
O presidente eleito recebeu as autoridades no hotel onde está hospedado em Sharm el-Sheikh, no Egito. Ele chegou na madrugada desta terça (15) para participar nos próximos dois dias da COP27, conferência do clima da ONU.
Os encontros com os emissários chinês e americano aconteceram separadamente e ambos trataram sobre a Guerra da Ucrânia. Segundo pessoas que acompanharam as reuniões, o presidente afirmou que o Brasil como mediador do mundo está de volta, pois o país sempre tivera esse papel, através da sua diplomacia.
Estados Unidos e China se reúnem ainda nesta terça (15) após conversas com Lula, segundo assessoria do presidente eleito. A reunião já estava na agenda dos países.
Com o representante chinês, Lula discutiu também sobre o fortalecimento da cooperação Sul-Sul. Já com John Kerry, Lula focou na agenda climática.
Antes da reunião com o petista, Kerry disse à BBC Brasil que está “confiante” de que o futuro presidente vai promover uma “guinada completa” na política ambiental do Brasil.
“Diga a Biden que o Brasil está de volta à agenda climática, ao cumprimento do Acordo de Paris. Seremos novamente um ator importante na agenda internacional”, disse Lula a Kerry, segundo presentes na reunião, mirando firmemente os olhos do americano.
Entre as duas agendas, Lula ainda conversou por telefone com o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, mas evitou temas delicados e adotou um tom protocolar, sob o qual mencionou estreitar as relações entre os dois países.
A sequência de reuniões de Lula começou com uma com a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), principal cotada para voltar ao comando do Ministério do Meio Ambiente no novo governo. A ex-ministra levou ao presidente eleito o estado das coisas da COP27 e o resultado das reuniões bilaterais que ela conduziu como parte do governo de transição, com países como Alemanha, Noruega, Estados Unidos e Japão.
Lula também recebeu em seu hotel, cujas diárias partem de R$ 9.000, segundo sites de reservas, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Kátia Abreu (PP-TO) e Fabiano Contarato (Rede-ES).
Com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como revelado pelo Painel, Lula defendeu retirar por quatro anos o valor do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) do teto de gastos, regra que limita aumento das despesas à inflação. Eles conversaram reservadamente por cerca de 15 minutos.
O convite a Lula para participar da COP27 partiu do governador reeleito do Pará Helder Barbalho (MDB) e também do presidente Sisi – a hospedagem no balneário onde é realizada a conferência está a cargo do governo egípcio, diz a assessoria do petista.
A agenda oficial de Lula na conferência começa, porém, apenas nesta quarta (16), com um evento ao lado dos governadores da Amazônia, seguido de um pronunciamento na área da ONU. No dia seguinte, ele se encontra com representantes da sociedade civil brasileira e participa do Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática.
O presidente eleito chegou ao balneário de Sharm el-Sheikh na noite desta segunda-feira (14; madrugada de terça-feira, 15, no Egito) a bordo de um avião do empresário José Seripieri Junior, fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde. Na sua comitiva, entre outros, está Janja, sua esposa, que nesta terça fez visita ao estande de ONGs brasileiras na COP e se reuniu com lideranças femininas.
Em meio a expectativas crescentes sobre o que o petista deve apresentar na conferência, organizações socioambientais do Brasil e de fora esperam e também sugerem novos compromissos que ele poderia trazer à COP.
Além da promessa feita em campanha de zerar o desmatamento na Amazônia – que provavelmente será reforçado -, alguns anúncios poderiam ser feitos com maior facilidade, sem comprometer a construção do governo. Entre eles está a possibilidade de comunicar que pretende levar a COP para o Brasil em 2025.
A presidência da COP do Clima tem rotatividade regional e volta a ser de um país latino-americano em 2025. A conferência teria acontecido no Brasil em 2019, mas foi cancelada por
Bolsonaro ainda em 2018, logo após sua eleição
Parte das organizações brasileiras também espera ouvir de Lula um compromisso de corrigir a meta climática brasileira no Acordo de Paris, que sofreu uma “pedalada climática” durante o governo Bolsonaro, com uma atualização que, na prática, reduz o compromisso com o clima.
Ainda assim, a grande questão que fervilha nos corredores entre os três pavilhões brasileiros na COP é a do nome que comandará o Ministério do Meio Ambiente do terceiro governo Lula.
Os nomes que são tidos como os mais cotados – das ex-ministras Marina Silva (Rede-SP) e Izabella Teixeira, e do senador Randolfe Rodrigues (Rede) – para ocupante do cargo estão, inclusive, na conferência do clima, o que traz ainda mais eco para a possibilidade de um anúncio.
A presença de Lula na COP27 termina na sexta-feira (18), quando irá para Portugal (Folha de S.Paulo, 16/11/22)