O sol se põe atrás de turbinas eólicas geradoras de energia perto de Waremme, na Bélgica
Relatório da Agência Internacional de Energia aponta que fontes limpas evitaram 2,2 bilhões de toneladas de emissões de CO2.
Os investimentos em energia limpa aumentaram quase 50% de 2019 a 2023, atingindo US$ 1,8 trilhão (R$ 8,91 trilhões) no ano passado, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), autoridade máxima nesse assunto.
O crescimento da geração de eletricidade a partir da energia limpa superou o dobro do crescimento da geração a partir de combustíveis fósseis.
A produção de eletricidade de baixas emissões cresceu cerca de 1.800 TWh (Terawatt-hora), apesar da estagnação da energia hidrelétrica e da queda da energia nuclear por causa da seca e das paradas forçadas da frota nuclear na União Europeia.
Já a geração de eletricidade à base de combustíveis fósseis cresceu 850 TWh.
A agência credita esse movimento aos pacotes bilionários de estímulos aprovados pelos países durante a pandemia de Covid-19.
Essa geração de energia verde evitou cerca de 2,2 bilhões de toneladas de emissões de CO2 anualmente. Sem ela, segundo a AIE, o aumento das emissões de CO2 globalmente no mesmo período teria sido mais de três vezes maior.
De acordo com o relatório Monitor de Mercado de Energia Limpa —cuja primeira edição foi divulgada nesta segunda-feira (4)— a implementação global de energia limpa atingiu novos patamares em 2023, com adições anuais de energia solar fotovoltaica e eólica crescendo 85% e 60%, respectivamente.
Juntas, essas duas tecnologias fornecem cerca de 540 GW (gigawatts) de potência; em comparação, a capacidade total de geração de energia elétrica no Brasil é de 218 GW.
Ainda assim, 90% desse acréscimo ficou concentrado na China, ecoando as narrativas de especialistas e políticos de países emergentes sobre a dificuldade de captar recursos internacionais para projetos verdes.
No final do ano passado, durante a COP28, 116 países, incluindo o Brasil, se comprometeram a triplicar a capacidade instalada de energias renováveis no mundo até 2030, alcançando cerca de 11 mil gigawatts.
A China e os países desenvolvidos também foram responsáveis por 95% das vendas globais de carros elétricos.
No mundo todo essas vendas cresceram cerca de 35% em 2023, atingindo 14 milhões de veículos —um a cada cinco carros vendidos no mundo foram elétricos; na China foram um a cada três e na União Europeia um a cada quatro.
Já as adições de capacidade de eletrólise de hidrogênio cresceram 360% em 2023, mas a partir de uma base muito baixa, o que explica o aumento acentuado.
Em 2022, o mundo tinha capacidade de produzir 131 MW (megawatts) de energia a partir dessa tecnologia e, em 2023, 600 MW. Em comparação, o salto de geração solar, por exemplo, foi de 228 GW para 420 GW (1 GW equivale a 1.000 MW).
O aumento na produção de hidrogênio verde se deveu em grande parte à China, que passou a União Europeia na capacidade de geração.
Os Estados Unidos também aumentaram a velocidade de implantação, mas as adições anuais permaneceram modestas em termos absolutos.
Já as adições de capacidade nuclear caíram para 5,5 GW em 2023; em 2022 eram 7,9 GW.
Ainda assim, de acordo com a AIE, cinco projetos de construção de novos reatores nucleares começaram em 2023 e, no início de 2024, havia 58 reatores em construção em todo o mundo —podendo acrescentar uma capacidade total de mais de 60 GW. A energia nuclear, vale ressaltar, não é renovável.
Por outro lado, a eficiência energética no mundo está avançando em passos bem mais lentos. A AIE avaliou uma melhoria na intensidade energética de cerca de 1% em 2023, quatro vezes menor do que o compromisso da COP28 de dobrar a taxa até 2030.
ENERGIA LIMPA EVITA COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
De acordo com a AIE, esse aumento da capacidade instalada de energia renováveis entre 2019 e 2023 evitou uma demanda anual de energia de combustíveis fósseis de cerca de 25 EJ (exajoule).
Isso equivale a 5% da demanda global total de combustíveis fósseis em todos os setores em 2023 ou quase a demanda total de energia do Japão e da Coreia do Sul juntos.
Esse acréscimo, por exemplo, evitou a queima de cerca de 580 milhões de toneladas equivalentes de carvão (Mtce) por ano, o que equivale à demanda anual de carvão para geração de eletricidade da Índia e da Indonésia juntas.
O maior impulsionador da demanda de carvão evitada foi a implantação de energia solar fotovoltaica e energia eólica nos setores de eletricidade ao redor do mundo, com as duas tecnologias evitando cerca de 320 e 235 Mtce de demanda anual de carvão, respectivamente.
A demanda evitada de gás natural é de cerca de 180 bcm anualmente em termos de equivalente energético. A demanda evitada é maior do que as exportações de gás natural da Rússia para a União Europeia antes da Guerra da Ucrânia, que foram de cerca de 150 bcm em 2021.
A implementação de energia eólica e solar fotovoltaica fornece a maior parte dessa demanda evitada (155 bcm), embora a implantação de bombas de calor também tenha evitado cerca de 15 bcm da demanda anual.
Já a demanda evitada de petróleo chega a quase 1 milhões de barris por dia em termos de equivalente energético. Sem isso, a demanda de petróleo teria ultrapassado o nível pré-pandêmico em vez de permanecer ligeiramente abaixo em 2023 em termos de equivalente energético. Os carros elétricos forneceram a maioria da demanda de petróleo evitada (Folha, 5/3/24)