Persistem as preocupações com a previsão de safra do Brasil devido às chuvas dispersas, diz a consultoria.
Os preços do açúcar tiveram uma ligeira recuperação com duas importantes conferências internacionais que forneceram informações sobre a próxima temporada no Hemisfério Norte e no Brasil. Entretanto, a força da quarta-feira não foi mantida, e o contrato de maio caiu para menos de 21,5 c/lb ainda na sessão de quinta-feira. É o que indica a análise da Hedgepoint Global Markets.
“Um dos principais fatores que impulsionaram o sentimento de alta no mercado foi o surgimento de uma perspectiva mais pessimista entre alguns participantes do mercado com relação à previsão de produção de açúcar para a região Centro Sul em 24/25, que é o principal produtor global de açúcar”, observa Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint.
“Alguns analistas projetaram um declínio de 5%, sugerindo que a disponibilidade do adoçante poderia potencialmente diminuir para cerca de 40,5 Mt. Isso, por si só, poderia ser interpretado como altista, especialmente porque resultaria em uma redução de 1,2 Mt em comparação com nossas estimativas atuais, impactando diretamente as exportações”, diz.
E prossegue: “Essa situação pode significar uma tendência de alta no médio/longo prazo, pois intensificaria um déficit esperado para a safra 24/25 (outubro a dezembro) e possivelmente aumentaria a força do contango N/V. Entretanto, a ideia de um déficit ainda não é um consenso, especialmente considerando a inversão da curva de preços no curto prazo e as melhorias nos resultados das safras do Hemisfério Norte: se o clima cooperar, podemos esperar um maior volume”.
O Hemisfério Norte enfrentou desafios com clima adverso durante o verão de 2023, principalmente devido à influência do El Niño. No entanto, as recentes reavaliações feitas pelas autoridades indianas pintaram um quadro mais otimista para a temporada. De acordo com a apresentação da AISTA na Conferência de Dubai, a Índia deverá produzir aproximadamente 32 Mt de açúcar na temporada 23/24, alinhando-se com nossas estimativas anteriores de 31,85 Mt. Essa revisão para cima sugere que o país poderia repor seus estoques de açúcar em cerca de 3,5 Mt.
Essa previsão contrasta com as expectativas iniciais do mercado, que estimavam uma produção de menos de 30 Mt no início da temporada. Consequentemente, essa perspectiva revisada pode ser vista como baixista para as temporadas 23/24 e 24/25.
“Apesar dos relatos de redução do plantio nos estados do sul da Índia para a safra 24/25 devido às condições de seca, a AISTA destaca que a cana-de-açúcar continua sendo a cultura mais lucrativa para o agricultor indiano médio. Nesse sentido, por que a área deveria cair drasticamente? Supondo que ocorra uma diminuição na área de plantio, uma modesta redução de 2% poderia ser compensada por uma produtividade mais alta se as condições climáticas cooperarem, especialmente se o impacto do La Niña for menos severo”, explica.
Nesse cenário, a Índia poderia potencialmente redirecionar 5,5 Mt de açúcar para seu programa de etanol sem entrar em suas reservas. Posteriormente, a decisão de exportar cerca de 1 Mt ou alocá-las para os estoques domésticos dependeria da dinâmica dos preços nacionais e internacionais e das políticas governamentais vigentes.
Segundo Lívea, “até o final de fevereiro, a Tailândia já alcançou uma produção de açúcar de 8 Mt. Esse número está muito próximo de nossa previsão inicial e até mesmo superou as expectativas médias do mercado ao início da safra, o que nos levou a revisar nossas projeções para cima. Com o ritmo atual de moagem, a Tailândia poderá atingir 8,5 Mt de produção de açúcar em 23/24. Olhando para a temporada 24/25, dadas condições climáticas favoráveis, não seria surpreendente se o país atingisse cerca de 10 Mt de açúcar e processasse 92-95 Mt de cana-de-açúcar, o que poderia levar a um aumento nas exportações”.
A analista conclui: “portanto, mesmo que o Brasil tenha uma redução maior da safra, a disponibilidade global pode limitar os ganhos futuros de preço, especialmente se o clima for favorável durante o verão do Hemisfério Norte. No entanto, a disponibilidade do Centro Sul continua sendo a principal variável a ser monitorada.
As chuvas foram dispersas, tornando extremamente difícil acessar a verdadeira extensão da seca de dezembro-janeiro. As usinas podem continuar moendo a cana de 23/24, dando mais tempo para que a safra de 24/25 se desenvolva. Contudo, se estivermos de fato caminhando para uma quebra de safra maior, os spreads K/N devem diminuir perto de seu vencimento no próximo mês”.
É claro que a ideia de um déficit em 24/25 deve ser suficiente para manter os preços sustentados, pelo menos acima de 20c/lb. Mas uma coisa é certa, muitos fatores ainda precisam ser adicionados a essa previsão: o déficit pode até se transformar em um superávit se o clima cooperar – como vimos acontecer em 23/24.
Os preços do açúcar tiveram uma ligeira recuperação depois de informações de conferências internacionais sobre as próximas temporadas no Hemisfério Norte e no Brasil. No entanto, essa força não se manteve, com o contrato de maio caindo abaixo de 21,5 c/lb. O sentimento de alta decorreu de preocupações com um possível declínio de 5% na produção de açúcar prevista para a região Centro Sul do Brasil em 24/25, o que poderia afetar as exportações.
A perspectiva de produção otimista da Índia de 32 Mt para 23/24 contrasta com as estimativas iniciais e pode ser vista como baixista. Apesar dos desafios, uma modesta redução na área de plantio na Índia poderá ser compensada por uma produtividade mais alta se as condições climáticas colaborarem.
A Tailândia superou as expectativas com 8 Mt de produção de açúcar em fevereiro, podendo chegar a 8,5 Mt em 23/24 e perto de 10 Mt em 24/25. A disponibilidade global pode limitar os ganhos de preço, principalmente se as condições climáticas favorecerem a produção no Hemisfério Norte. Persistem as preocupações com a previsão de safra do Brasil devido às chuvas esparsas (Assessoria de Comunicação, 14/3/24)