Por Luiz Carlos Trabuco Cappi
País foi pioneiro em energia renovável há quase meio século, com criação do Proálcool; programa nasceu para proteger Brasil das altas do petróleo.
Produzido com cana-de-açúcar, milho e derivados, o etanol é o biocombustível que desponta como uma solução simples, eficiente e competitiva no esforço pela descarbonização do planeta. Já consolidado no mercado, esse combustível renovável é uma das razões pelas quais o Brasil se tornou o epicentro de uma rodada de investimentos de R$ 117 bilhões de grandes montadoras de veículos, um volume recorde.
O programa Mover do governo federal foi o catalisador desse movimento ao promover vários indutores e incentivos. Os aportes serão realizados até 2030, abrangendo novas plantas industriais e o desenvolvimento de uma nova geração de carros híbridos.
Trata-se de uma vitória da matriz energética brasileira. O País foi pioneiro em energia renovável há quase meio século, em 1975, com a criação do Proálcool. Na época, o Brasil importava 80% dos combustíveis, hoje é exportador líquido. O programa nasceu para proteger o País das altas do petróleo.
É preciso comemorar. Inicialmente, o Proálcool consistia só na adição de etanol à gasolina. Com o tempo foi ocupando espaços, com o desenvolvimento de motores a álcool. O primeiro protótipo flex surgiu em 1994. Em 2005, a Embraer anunciou a produção de um avião movido a etanol.
Os vilões do aquecimento global são os combustíveis fósseis. E os veículos com motores a combustão estão entre os principais responsáveis pelas emissões de CO₂. Uma solução apontada é a substituição dos motores de combustão pelos elétricos. Todavia, a matriz energética de diversos países ainda se baseia no carvão e outros combustíveis fósseis. O carro elétrico não emite gases diretamente, mas a energia usada nesses países, sim.
O caminho pragmático seria a convivência das várias matrizes de modo a suavizar os custos e impactos da transição energética. O etanol torna-se assim solução rápida e econômica entre várias alternativas.
A convergência anunciada pelas montadoras, o governo e o setor sucroalcooleiro é uma bússola que aponta na direção certa. Ela se encaixa na agenda de prioridades que começa pelo crescimento econômico. O desenvolvimento moderno é o que traz empregos, renda e medidas de combate à crise climática.
Ele resulta de confiança no futuro. E confiança é a soma da coragem empreendedora, da estabilidade macroeconômica e da política que busque o consenso. Esse contexto propicia inúmeras oportunidades ao Brasil, um país que oferece soluções econômicas, práticas e opções viáveis de transição energética, como o etanol (Luiz Carlos Trabuco Cappi é presidente do Conselho de Administração do Bradesco; Estadão, 25/3/24)