Por Mauro Zafalon
Retração em 2022 foi de 1,7%, segundo o IBGE.
A agropecuária perde força na economia nacional. Pela segunda vez em dez anos, o setor registra um PIB (Produto Interno Bruto) negativo. Em 2022, conforme os dados desta quinta-feira (2) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a agropecuária recuou 1,7%, em relação a 2021.
O setor vem agregando tecnologia em várias áreas, principalmente as voltadas para a exportação, mas perde força no cultivo de produtos básicos, muitas vezes os mais pulverizados na economia.
Em 2017, o PIB da agropecuária cresceu 14,2%, mas, a partir daquele ano, as taxas foram sempre em patamares baixos, à exceção de 2020, quando houve evolução de 4,2%.
Muitas dessas taxas reduzidas se devem a fatores alheios ao setor, uma vez que o volume de produção vem crescendo, mas sempre abaixo das perspectivas iniciais, devido a sérios fatores climáticos que têm afetado o país.
Em 2021, a produção de milho, o segundo mais importante produto do país, teve quebra de 20 milhões de toneladas de sacas, em relação ao potencial produtivo.
No ano passado, foi a vez da soja, a principal lavoura do país, que também teve uma redução parecida à do milho devido a seca, principalmente no Sul.
Com isso, a participação da agricultura na economia total, que saiu de 4,9%, em 2019, para até 8,8% em 2021, recuou para 7,9% no ano passado, informa o IBGE.
A pecuária, outro componente importante do PIB, também perdeu força no último trimestre de 2022, em relação ao terceiro, com produção menor de carnes bovina e suína, mas com alta na de frango.
Esse desempenho fraco do setor ajudou na queda de 2,9% na taxa de evolução do PIB da agropecuária, quando comparados os dados de outubro a dezembro de 2022 com os de igual período de 2021.
Os números da pecuária referentes ao quarto trimestre de 2022, ainda provisórios, porém, registram um desempenho melhor do que os de 2021.
Nas lavouras, a perda de produtividade de importantes produtos do setor justifica a queda média do PIB. O principal, a soja, teve uma retração de 11% na produção de 2022, com perda de 15,5% na produtividade.
O arroz, terceiro principal item da produção nacional de grãos, teve recuo de 8,2% na safra e redução de 5,2% na produtividade. O percentual de queda da produção foi maior do que o da produtividade porque o cereal vem perdendo área para a soja ano a ano.
Com a evolução que vem obtendo na área e na produtividade, o trigo poderá assumir o posto do arroz no ranking nacional.
Em 2022, a safra de trigo foi recorde e esteve acima de dez milhões de toneladas. A produtividade subiu 9,4%.
Os cultivos de fumo e de mandioca, com predominância entre pequenos e médios produtores, também perderam força em 2022 e auxiliaram na queda do PIB do setor.
Entre os pontos positivos, estiveram milho, cana-de-açúcar, café e laranja, todos com crescimento de produção.
O milho, o principal entre eles, após a forte perda de produção de 2021, conseguiu uma evolução de 26% na produção de 2022 e de 15% na produtividade. A colheita de café superou em 6,5% a de 2021, enquanto as de laranja e de cana foram 4,4% e 2,9%, respectivamente, superiores.
Para 2023, o cenário, com base nas perspectivas atuais, poderá ser melhor. A safra de grãos indica volume superior a 300 milhões de toneladas, se o clima ajudar.
Já no setor de pecuária, o tempo de resposta da China para o retorno das importações de carne bovina do Brasil será importante. A decisão chinesa acaba influenciando também no desempenho das outras proteínas (Folha de S.Paulo, 3/3/23)