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Pesquisa agropecuária precisa se reinventar, diz pesquisador

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Universidades e laboratórios ainda não estão preparados para a complexidade que virá.

Os modelos agrícolas de há 20 ou 30 anos não servem mais para a realidade atual. E o atual não servirá para daqui uma, duas ou três décadas à frente.

O país saiu de um período de expansão de fronteiras, passou pela busca do aumento de produtividade, elevou rapidamente a produção e recebeu sinais positivos do mercado externo, que adquire essa produção.

Os desafios pela frente, no entanto, serão muito maiores do que os já enfrentados, na avaliação do pesquisador e ex-presidente da Embrapa Maurício Lopes. O país não pode mais viver apenas de produção e exportação, afirma ele.

Os novos desafios passam pela aceitação da sociedade de que os eventos climáticos, mais constantes, não podem ser ignorados e que temos de desenvolver modelos mais coerentes e compatíveis com a lógica dos ecossistemas, que perduram no planeta por milhões de anos, diz o pesquisador.

“Temos de olhar a agricultura como o conceito de nexo. É a integração das coisas que no mundo real estão todas imbricadas”, diz.

Não dá mais para falar de alimento, sem levar em consideração a nutrição e a saúde. E estes dependem do clima. É preciso entender que alimentos são conectados à nutrição e à saúde, e que agricultura está conectada à energia também, afirma

O problema, segundo o pesquisador, é que o mundo não está preparado ainda para funcionar por nexo. Não dá mais para pensar e pesquisar agropecuária apenas na perspectiva de produzir e exportar.
É importante não perder de vista a questão da transição energética, das transições nutricionais e do tipo de alimento que a sociedade vai exigir daqui a cinco ou dez anos. Este tem de ser o olhar da Embrapa, afirma ele.

O problema é que o país precisa de ajustes. “Na universidade, aprendemos alimento em um departamento, saúde em outro e nutrição em outro diferente.” Mas alimento, energia e clima estão cada vez mais integrados.

“Isso tem uma implicação muito forte na conformação das equipes de pesquisas, nas cabeças que vão liderar o processo e como os laboratórios vão ter de funcionar no futuro para responder a perguntas críticas para a sociedade.”

“As nossas universidades, os departamentos e os centros de pesquisas ainda estão formatados, em grande medida, de acordo com um modelo que serviu muito bem lá trás.” As universidades vão precisar evoluir para formar pessoas com uma noção mais sofisticada de nexo. Esse é um grande desafio que o país tem daqui para a frente, segundo o pesquisador.

A formação dos profissionais que vão atuar daqui para o futuro terá de evoluir muito. Será outro modelo de agricultura, outra infraestrutura e outra visão. “O mundo vai precisar de outras cabeças.”

Para Silvia Massruhá, pesquisadora e presidente da Embrapa, o mundo tem pela frente um desafio que vai de segurança alimentar, transição energética e mudanças climáticas a desigualdades sociais. “São grandes desafios mundiais, e o Brasil tem como ajudar esse consumidor mais exigente e preocupado com a nutrição, com a saúde e com a origem dos alimentos.”

A Embrapa, como empresa pública de pesquisa agropecuária, e que trabalha com agricultura tropical, terá de atender a esses desafios globais. É necessário trabalhar com uma agricultura mais preditiva, segundo ela.

Celso Moretti, pesquisador e ex-presidente da empresa, diz que, para avaliar a participação da Embrapa no desenvolvimento tecnológico futuro, precisamos olhar para três grandes eixos: bioinsumos, agricultura digital e mitigação climática.

Os pesquisadores da Embrapa concordam, porém, que a empresa precisa contar com mais recursos, e o melhor caminho são parceiras no mercado. É muito difícil sobreviver apenas com fontes de recursos governamentais. Uma instituição de pesquisa precisa de gente bem preparada, e isso custa, diz Alberto Portugal, pesquisador e ex-presidente da empresa. É muito complicado não poder negociar o que produz, afirma.

Portugal, em seu mandato, buscou melhorar a imagem da Empresa, levando-a até os produtores e trazendo a sociedade para conhecer a sua estrutura.

A biotecnologia batia à porta no final dos anos 1990, e foi criada uma unidade para cuidar do assunto e da propriedade industrial. Além disso, nesse período, foi criado o programa Labex, que envia pesquisadores para laboratórios de vários países.

Avaliando os 50 anos de Embrapa, os pesquisadores entendem que ela promoveu o desenvolvimento de uma agricultura baseada em ciência.

Segundo Moretti, foram várias etapas, entre elas a de fixação biológica de nitrogênio, plantio direto, manejo integrado de pragas, controle biológico, integração lavoura, pecuária e floresta, bioinsumos e agricultura digital.

Para Lopes, no primeiro momento foram buscadas soluções para a expansão do setor. Em sequência, veio busca para aumentar produtividade e para ganhar escala. Importante também, segundo ele, foi a automação.

A partir da virada do século, entrou fortemente a agenda da sustentabilidade, bem diferente da das décadas anteriores. Surgia o fenômeno China, com forte demanda, e pressões de sustentabilidade.
Essas demandas fizeram com que fosse necessária uma reorientação das pesquisas, diz Lopes. Eram duas realidades, a do crescimento do mercado e a das críticas.

O pesquisador diz que nessa caminhada foram cometidos muitos erros, não intencionais, mas em razão do conhecimento que estava à disposição no momento. Um deles foi a quantidade de área de pastagens degradas que existem atualmente.

Para Sílvia, ciência e tecnologia, assistência técnica rural, além de um atrelamento de políticas públicas baseadas em ciência, permitiram o avanço das últimas décadas da empresa (Folha, 24/5/24)

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