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O país da soja se torna o país do petróleo

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Por Vinicius Torres Freire

Exportações petrolíferas podem passar as de soja; país depende mais do ouro preto.

Que a Petrobras tenha estado no centro do noticiário e das controvérsias políticas sociais é um sintoma de que o Brasil se tornou um país petroleiro. Mas talvez não tenhamos percebido o quanto o ouro preto é central na economia brasileira.

No entanto, já está na pauta do debate se devemos dar fim à exploração do petróleo e começar uma transição energética, para a qual também ainda não há rumo. Enquanto isso, torramos as receitas petrolíferas públicas, “do governo”, no dia a dia, sem que o país invista em capacidade produtiva e em transição verde ou melhore a situação das contas públicas.

Nos anos do governo das trevas (2019-2022) e no início de Lula 3, a Petrobras era notícia por causa do preço dos combustíveis. No momento, discute-se outra vez se a petroleira deve bancar investimentos e subsídios de acordo com os planos do presidente da República. Não é por menos, pois a estatal prevê investir cerca de R$ 100 bilhões anuais de 2023 a 2028, quase o dobro dos recursos que o governo dispõe para investimentos.

Em 2023, 7,6% da arrecadação do governo federal veio da Petrobras: de impostos, royalties, participações e dividendos. A receita total do petróleo foi um pouco maior. A depender de preços internacionais e domésticos, da distribuição de dividendos e da decisão de quanto mais petróleo explorar, a receita petrolífera do governo pode variar.

Nos últimos 12 meses, o valor das vendas de bens para o exterior, as exportações, foi de US$ 345,6 bilhões. De petróleo e óleos combustíveis foram US$ 58,4 bilhões, 16,9% do total. De soja e farelos de soja, foram US$ 63,2 bilhões (18,2% do total).

É possível que as exportações de petróleo e combustível ultrapassem as de soja neste ano. Já aconteceu antes, em anos ruins para os grãos e de extravagância do preço do barril. Porém, nunca antes se produziu tanto ouro preto; nunca antes seu peso foi tão grande no comércio exterior ou teve tanta importância sistemática nas contas públicas.

De 2011 a 2023, a produção de barris aumentou mais de 61%; no mesmo período, a parcela do petróleo exportado passou de quase 29% para quase 47% da produção nacional.

As exportações em geral têm crescido muito. A fim de dar perspectiva mais comprida: passaram de US$ 221 bilhões por ano no final de 2019, o ano anterior à pandemia, para US$ 345 bilhões, atualmente. Desse aumento, quase 23% veio de petróleo e óleo combustível; quase 25% de soja e farelo.

De um ano para cá, as vendas de petróleo continuaram a crescer, quase ao passo de soja e minério de ferro, embora o grande destaque do período tenham sido os açúcares. Nos últimos 12 meses, o país vendeu US$ 18,8 bilhões em açúcar.

Em 2024 e 2025, o grosso do aumento da oferta de petróleo no mundo deve vir de EUA, Guiana, Canadá e Brasil, segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos. Pelas estimativas da Empresa de Pesquisa Energética, a produção brasileira de petróleo vai crescer cerca de 42% até por volta de 2030. Daí em diante, cairia, sem novas reservas e explorações.

Dado o mau estado das contas públicas, talvez seja possível aproveitar a bonança petroleira apenas a partir de 2027, sendo otimista, a fim de aumentar o investimento público em geral ou subsidiar a transição energética.

Um plano de substituição do petróleo depende de um planejamento de longo prazo de como arrumar mais energia limpa, O QUE NÃO TEMOS. Depende também de quanto mais ainda se pretende explorar, do que se vai fazer do gás e da capacidade da Petrobras de manter a produção e também de render receita para o governo.

Uma empresa com as finanças estropiadas por investimentos ruins e tabelamento de preços vai ser um problema para as contas públicas e para a transição (Folha, 19/5/24)

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