Por José Roberto Mendonça de Barros
Só a sustentabilidade associada à educação e ao progresso tecnológico poderá trazer de volta uma perspectiva de futuro maior.
A sólida aprovação do chamado arcabouço fiscal na Câmara, que deverá se repetir no Senado, abre espaço para um período mais construtivo na área macroeconômica.
Ainda que as regras aprovadas sejam insuficientes para garantir primeiro uma estabilização e, depois, uma queda da relação dívida/PIB, devendo ser objeto de ajustes mais adiante, o fato aceito por todos os analistas é que fica afastado o risco de descontrole dos gastos públicos.
Além disso, parece seguro que o Conselho Monetário Nacional não irá alterar o valor da meta de inflação, mas retirar sua referência ao ano civil, um aprimoramento amplamente aceito.
Finalmente, a reforma tributária está andando, e eu, como muitos, acredito que será aprovada neste ano.
Tudo reunido, está aberta a porta para que o BC anuncie o início da redução de juros, até porque é cada vez mais claro que a inflação vai cair mais do que o esperado pelo mercado no início do ano. Meu número para o IPCA é de 5,5%, com viés de baixa.
Acho seguro esperar que as projeções do Focus para as próximas semanas mostrem isso, como, aliás, se vê claramente nas contínuas quedas da estrutura dos juros, especialmente os longos.
Então, tudo pronto para voltar a crescer?
Não ainda, especialmente tendo em vista o desastre destes dias ocorrido na área ambiental.
Já há muito, a maioria dos produtores rurais aprendeu que a sustentabilidade das práticas é o que vai garantir o futuro. Isso inclui a regeneração florestal e do solo.
Do ponto de vista do País, a entrada na seara da sustentabilidade e da descarbonização, dada a limpeza de nossa matriz energética, é o único caminho para garantir uma onda de investimentos que tragam o crescimento, e não pautas regressivas como carros populares, petróleo em lugares delicados e outras. A própria indústria só retomará o protagonismo se entrar firme nessa direção.
E essa frente só avançará se a permissividade do último governo quanto à destruição da Amazônia for substituída por uma agenda verde, cada vez mais madura, como atesta o trabalho internacional de governadores da região, de empresas e da pesquisa.
Só a sustentabilidade associada à educação e ao progresso tecnológico poderá trazer de volta uma perspectiva de futuro maior.
Pautas setoriais importantes, como energia elétrica, também têm de ser atualizadas.
Buscar voltar ao País dos anos 2000 ou trazer a indústria de antigamente não vai dar certo. Especialmente num governo desarrumado e fraco no Congresso (Estadão, 28/5/23)