Por José Roberto Mendonça de Barros
As novas tendências globais, como a busca da sustentabilidade e da descarbonização, têm criado uma abertura para a indústria diretamente ligada ao agronegócio.
O desenvolvimento do agronegócio tem sido consistente e fortemente baseado na melhoria tecnológica e na crescente utilização de produtos industriais e serviços mais sofisticados. A agregação de valor tem se acelerado tanto em setores mais tradicionais quanto em produtos menores. Essa tendência continuará nos próximos anos.
Agronegócio está em uma fase de grande geração de valor
Queria hoje olhar o impacto na indústria, fazendo isso em duas frentes: analisando os setores industriais diretamente influenciados pela demanda do agronegócio e as novas oportunidades decorrentes da resposta ao aquecimento global, via energia sustentável e descarbonização de processos e produtos.
Em 2018, preparei para o IEDI um texto em que avaliei a parte da produção industrial brasileira diretamente conectada com o agro: dos 805 grupos de produtos que compõem a pesquisa industrial do IBGE, divididos em 33 setores, selecionei 189 deles que, inequivocamente, têm relação com o agro. Por exemplo, na área têxtil considerei apenas fios e tecidos de algodão; na área de máquinas, apenas equipamentos para a produção e industrialização de produtos agrícolas. Esses produtos representavam 35% do valor de produção industrial na época.
Não considerei nada na área de veículos (incluindo comerciais leves e motos), mesmo sabendo que 1/3 da produção de caminhões é feita para atender o agronegócio. Considerando que, de 2015 em diante, o PIB agro cresceu sistematicamente, essa participação deve ter crescido.
Por outro lado, as novas tendências globais, como a busca da sustentabilidade e da descarbonização, têm criado uma bela abertura para a indústria diretamente ligada ao agronegócio.
A linha do biogás, amônia e hidrogênio verde ilustra à perfeição esses novos tempos. Em documento recente, a Abiquim aponta que o setor tem boas oportunidades na área de bioprodutos (com fertilizantes, condicionantes, defensivos, álcoolquímica e outros), novos combustíveis (como o Sustainable Aviation Fuel – AF) e energias sustentáveis.
Os carros híbridos a etanol representam uma grande oportunidade. Várias montadoras já os produzem no Brasil. Essa rota da descarbonização tem inúmeras vantagens. Nosso híbrido emite apenas 1/3 do CO2 na comparação com um carro elétrico que roda na Europa. Além disso, esses veículos são bem mais baratos do que um elétrico puro e, finalmente, não é necessário investir em equipamentos “plug in”, já que todos os postos do País têm o etanol.
Novos materiais, novos alimentos e novas matérias-primas serão produzidos em novas plantas industriais.
Opor agro e indústria é simplesmente um erro (O Estado de S.Paulo, 30/4/23)