Impacto dos gases de efeito estufa e do El Niño pode fazer a temperatura média do planeta aumentar em 1,5°C no período.
Há 98% de chance de que as temperaturas globais atinjam níveis recordes nos próximos cinco anos e 66% de probabilidade de que esse aumento seja 1,5°C maior do que as temperaturas de nosso planeta na era pré-industrial, divulgou nesta quarta-feira (17) em Genebra, na Suíça, a OMM (Organização Meteorológica Mundial), organismo especializado da ONU (Organização das Nações Unidas).
A má notícia relativa ao quinquênio 2023-2027 se deve a gases de efeito estufa, que retêm o calor, e ao fenômeno meteorológico El Niño, geralmente associado a um aumento das temperaturas, maior seca em algumas regiões do mundo e chuvas intensas em outras áreas.
O relatório cita três vezes a Amazônia, alertando para menos chuvas na região, além de uma baixa de umidade por todo o quinquênio.
Os trechos em relação à Amazônia apontam que é provável haver menos chuvas na floresta em 2023, em relação à média de 1991 a 2020. O texto dá ênfase à provável estiagem de maio a setembro de 2023 a 2027.
O relatório indica ainda que, por consequência, poderá ser registrada baixa umidade na floresta no período, ainda que essa região seja de difícil medição —para essa previsão, especificamente, os cientistas atribuem um grau de confiança de médio a baixo.
Para Carlos Nobre, climatologista aposentado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as previsões são ruins para este ano tanto para a Amazônia quanto para o Nordeste e o Sul do Brasil. Também não são boas as previsões para Amazônia e Nordeste até 2027.
“A análise de chuva para 2023 indica uma alta probabilidade de continuidade da seca dos últimos três anos no Sul do Brasil. Isto tem a ver com o fato de que o El Niño, frequentemente associado a chuvas bem acima da média nesta região, não estar em forte intensidade pela maior parte deste ano”, diz o especialista.
“Também há uma probabilidade alta de seca no Nordeste do Brasil em 2023, fenômeno diretamente associado ao El Niño, que deve estar em plena atividade durante a estação chuvosa do semiárido de fevereiro a maio de 2023”, afirma.
Segundo o comunicado oficial da agência sobre o relatório, há também “98% de probabilidade de que um dos próximos cinco anos seja o mais quente já registrado” no planeta.
O atual recorde é de 2016, quando foi registrada a temperatura média global de 1,3°C a mais do que a temperatura pré-industrial, calculada entre 1850 e 1900. No ano passado, esse aumento foi de 1,15°C, afirma o documento.
O relatório diz também que, pela primeira vez na história, há mais chances de que atinjamos o temido aumento de 1,5°C em relação ao nível pré-industrial. Há agora 66% de probabilidade de que isso aconteça em algum ano entre 2023 e 2027. No relatório anterior, divulgado em 2022, essa probabilidade era de 50%
“A chance de excedermos temporariamente 1,5°C cresce constantemente desde 2015, quando estava próxima de zero. Para os anos entre 2017 e 2021, houve 10% de chance de superação”, anota o texto.
Em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu como objetivo limitar o aumento das temperaturas globais neste século a menos do que 2°C na comparação com os níveis pré-industriais de 1850 a 1900 —ou a 1,5°C, na medida do possível.
“Este relatório não significa que excederemos permanentemente o nível de 1,5°C especificado no Acordo de Paris, que se refere ao aquecimento de longo prazo no decorrer de muitos anos. No entanto, a OMM está soando o alarme de que iremos ultrapassar temporariamente o nível de 1,5°C com frequência cada vez maior”, explicou o secretário-geral do órgão, o finlandês Petteri Taalas.
“Espera-se que um aquecimento do El Niño se desenvolva nos próximos meses e isso se combine com a mudança climática induzida pelo homem para empurrar as temperaturas globais para um território desconhecido. Isso terá repercussões de longo alcance para a saúde, segurança alimentar, gestão da água e meio ambiente. Precisamos estar preparados”, disse Taalas.
O El Niño aconteceu pela última vez em 2018 e 2019 e provocou um episódio particularmente longo de La Niña, que causa os efeitos inversos e, em particular, uma queda nas temperaturas.
A OMM calcula em 60% a possibilidade de desenvolvimento do El Niño até o fim de julho e em 80% que aconteça até o fim de setembro.
“Prevê-se que as temperaturas médias globais continuem aumentando, nos afastando cada vez mais do clima a que estamos acostumados”, disse Leon Hermanson, cientista do Met Office inglês, que produziu os dados em parceria com a OMM (Folha de S.Paulo, 18/5/23)