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Por que o etanol continua caro mesmo após início da safra?

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Segundo representantes do setor em Ribeirão Preto, queda em produtividade na lavoura e elevações do diesel e da gasolina frustram expectativa de alívio para os motoristas. No estado de São Paulo, ainda há cidades em que valor médio do litro do combustível ultrapassa os R$ 5,00.

Preço do etanol em postos sofreu seguidas altas em abril — Foto: Reprodução/EPTV

Para o entregador Gilberto Miranda, de Ribeirão Preto (SP), está cada vez mais difícil garantir um ganho razoável no fim do mês com a alta nos combustíveis. “Se for repassar [para o consumidor], nós perdemos as entregas. Nós estamos diminuindo o nosso lucro, ganhando menos pra poder servir, pra ver se vai melhorar pra frente”, diz.

A situação de motoristas como ele não melhorou mesmo com o início da colheita da cana de açúcar. Historicamente, a tendência geralmente é de queda no preço do etanol, por conta da abertura da safra, no primeiro semestre, e do aumento da oferta de matéria-prima e do subproduto da cana. Mas este ano, isso não aconteceu na proporção esperada pelos consumidores.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do etanol caiu cerca de 5% em regiões como as de Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP) e São Carlos (SP). Levantamentos de anos anteriores mostram, no entanto, que o normal para essa época seria uma queda de até 20%.

“Está complicado. Por enquanto não vi diferença de nada na bomba”, afirma o médico veterinário Ruy Alves de Lima, de Ribeirão Preto, onde o litro do etanol mais em conta sai a R$ 4,72 nas bombas, R$ 0,22 a menos em relação à última semana de abril.

O valor ainda não é o mais caro no estado de São Paulo, onde, em plena safra, há cidades que chegam a cobrar, em média, R$ 5,65 pelo combustível – caso de Cubatão (SP).

Especialistas e representantes setoriais entrevistados pela EPTV, afiliada da TV Globo, listam os principais fatores que ajudam a explicar por que o preço do etanol não caiu com o início da safra. São eles:

  • Queda na produtividade
  • Aumento do diesel
  • Aumento da gasolina

A seguir, veja as explicações sobre cada um deles:

Queda na produtividade

Segundo o consultor em agronegócio José Luis Coelho, uma das questões que mantém o etanol caro nos postos é a baixa na produtividade no campo, que reduz a quantidade de matéria-prima e, consequentemente, a disponibilidade de combustível que deixa as usinas.

Ele aponta um atraso na colheita deste ano em função de períodos de seca, geadas e incêndios que prejudicaram os canaviais em 2021. A cana demorou para crescer e isso atrapalhou o trabalho no campo. As usinas já registram, desde o início da safra, uma queda de 26% na moagem em relação ao mesmo período do ano passado.

Além disso, menciona baixas na qualidade da matéria-prima, que afetam o volume de etanol produzido pelas indústrias.

“As canas que estão entrando agora estão com uma produtividade um pouco menor, 2%, 3% menor, e muitas regiões estão menos ricas, ou seja, tem menos ATR [açúcar total recuperável]. Essa combinação – menos cana, canas menos produtivas e canas menos doces – vai restringir a conversão industrial”, afirma o consultor.

Caminhão com colheita de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto — Foto: Reprodução/EPTV

Aumento do diesel

Outro ponto que atrapalha a queda do etanol nos postos é o aumento do diesel, resultante de sucessivos reajustes da Petrobras e da alta nos preços internacionais do petróleo após a Rússia ter invadido a Ucrânia.

Segundo Fernando Rocca, diretor do Núcleo Postos de Ribeirão Preto, a elevação encarece os custos do etanol, porque o produto abastece a frota que transporta o derivado da cana para os postos.

“Toda cana de açúcar e o próprio etanol produzido são transportados com caminhões a diesel. Então o impacto do aumento desse combustível certamente também afetou o preço do etanol”, afirma.

Aumento da gasolina

Outro fator que ainda mantém o etanol em patamares acima do esperado é a elevação na procura pelo combustível, que em muitos casos acaba compensando em relação à gasolina, também em alta, segundo o presidente da Associação Brasileira de Distribuidoras de Combustíveis, Valdemar de Bortoli Junior.

“Se a procura está grande e a oferta está pouca, o preço do etanol continua alto. E ele sempre vai ficar parametrizado no valor de 70% do valor da gasolina, os consumidores fazem esse cálculo. Se o preço está abaixo de 70% [do valor da gasolina], eles vão para o etanol. Se está acima dos 70%, eles vão para a gasolina”, afirma (G1, 26/5/22)

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