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Brasil descuidou da política nacional de fertilizantes

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País desativou minas de produção porque importar era mais barato do que produzir.

O Brasil desativou algumas minas de produção de fertilizantes em anos recentes porque importar era mais barato do que produzir.

As escolhas que foram feitas em um passado recente têm sérias consequências para o setor agora, diz Ricardo Tortorella, diretor-executivo da Anda (Associação Nacional para a Difusão de Adubos).

O produtor rural deseja fertilizante na fazenda na hora certa, produto com qualidade e preço justo. Para ele, não interessa se o produto vem do Nordeste, de Marrocos ou da Argentina. A origem, no entanto, deve ser uma preocupação da política pública.

“Demos uma bobeada sem precedentes, dependendo muito de insumo fundamental para um país que quer ser líder no celeiro mundial de alimentos”, afirma Tortorella.

Com o PNF (Plano Nacional de Fertilizantes), o país tem a chance de repensar o setor e reduzir essa dependência forte, acelerada agora por questões geopolíticas, afirma o executivo da Anda.

Na avaliação de José Carlos Polidoro, da Embrapa Solos, o Brasil chegou a uma tempestade perfeita, mas não pode abdicar dos fertilizantes.

Sem adubação e correção do solo por longos períodos, as consequências podem ser muito mais graves do que o remédio de agora.

Os solos brasileiros, à exceção de algumas regiões do Sul, são pobres e necessitam de fertilizantes. “Os produtores devem cortar custos, mas não a adubação da terra”, diz Polidoro. Na avaliação dele, dificilmente vai faltar fertilizantes, mas a que preço?

Importar fertilizantes não é problema. Todos os grandes produtores mundiais de grãos importam. O problema do Brasil é a quantidade e a importação da tecnologia. O solo brasileiro é diferente do dos países produtores de adubo, segundo o pesquisador da Embrapa.

O que fazer agora, pergunta ele? Conhecer o solo, adotar boas práticas e manejo de produção. Boa prática não é por falta de conhecimento, mas de uso. Além disso, adotar tecnologias com comprovação científica. O pior é que temos e não usamos, diz.

Os patamares recordes de produção de grãos no Brasil ocorrem devido à adubação da terra. Área e demanda, porém, vêm aumentando muito nos últimos anos. Atualmente a dependência externa de nitrogenados é de 80%; a de fosfatados, 55%; e a de potássio, 95%, afirma Tortorella.

Em 2021, a indústria entregou 45,9 milhões de toneladas de fertilizantes. Desse volume, 39,2 milhões foram importados.

As importações de cloreto de potássio atingiram 12,5 milhões de toneladas, 3,4 milhões da Rússia e 2,3 milhões da Belarus. Aqui mora o perigo, devido à logística e às sanções políticas, diz o executivo da Anda.

As importações cresceram 43% nos últimos três anos, e o desequilíbrio entre demanda e oferta eleva preços.

Para Tortorella, várias medidas estão sendo discutidas e podem aliviar os desafios do setor. Entre elas, a prioridade no desembarque e a abertura de novos mercados.

A discussão sobre segurança alimentar encabeçada pela ONU também é importante. Nas punições para a Rússia, é preciso ter cuidados com o setor de fertilizantes, afirma ele.

O executivo acredita ainda que o setor deva ser considerado como uma cadeia, na qual estão incluídos transporte, sementes, fertilizantes e defensivos, além de um aprimoramento das estatísticas.

Bruno Caligaris, diretor de projetos estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, afirma que o país precisa buscar um modelo diferenciado, com a possibilidade de exploração compartilhada de fertilizantes por parte de produtores, cooperativas e associações no exterior.

Tortorella, da Anda, deixa claro que “o país está conseguindo trazer fertilizantes, mas não na velocidade que queríamos. Está bem mais difícil e acendeu o sinal amarelo de atenção”.

A demanda não está equilibrada e está forte. Portanto, teremos preços elevados por um bom período, como alertam os especialistas, afirma.

 Para Polidoro, o Brasil virou a chave para o bioinsumo. O país tem matéria-prima e vai assumir a liderança mundial nesse setor. Além disso, é preciso adequar as tecnologias que importamos à realidade brasileira. Temos tecnologia para isso.

“O Brasil vai ocupar a vanguarda em inovação em fertilizantes. Ficamos 20 anos sem apoio direto à pesquisa a esse setor, mas as universidades e as empresas públicas e privadas têm muito conhecimento”, afirma Polidoro.

Para Tortorella, o mundo só vai ter solução para esse problema a médio e longo prazos, quando a oferta crescer um pouco mais.

Diante de tantas incertezas no momento, o executivo da Anda recomenda gestão, gestão e gestão. Polidoro, Tortorella e Caligaris participaram de um painel sobre a dependência brasileira de insumos importados no Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Foz do Iguaçu na semana passada (Folha de S.Paulo, 24/5/22)

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