Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado passou a semana inteira em aflição fazendo contas e discutindo prováveis cenários resultantes de uma eventual aprovação do projeto de lei que tramita no Senado Federal limitando em 17% a alíquota do ICMS de combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transportes coletivos.
Se passar pela câmara alta, segundo estimativas de Tarcilo Rodrigues, da BioAgência, o preço médio da gasolina no estado de São Paulo – o maior consumidor do País – cairia de R$ 6,9340 o litro (apurado em abril), para R$ 6,4550. Se quiser manter a paridade de 70% da gasolina, o hidratado teria que ser negociado a R$ 4,5185 o litro. Esse valor equivale aproximadamente a R$ 3,1500 o litro na Usina sem impostos ou o equivalente ao açúcar em NY a 18.65 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, em tese NY teria que cair 110 pontos para estar em linha com o hidratado. Se, no entanto, incorporarmos o valor do CBIO, essa diferença cai para apenas 50 pontos. Dessa forma, o pânico inicial de que o açúcar em NY poderia cair até 200 pontos se dissipou. NY pode até cair, mas não será por essa razão.
Contudo, é bom destacar que as conversas entre os produtores acerca do tamanho da safra no Centro-Sul são desanimadoras. Os números com os quais as usinas estão trabalhando diferem em muito das consultorias. Se estas estimam uma moagem de 540-550 milhões de toneladas, em média, a avaliação das áreas agrícolas das usinas é de 15-20 milhões de toneladas a menos.
Mas, voltando a questão do ICMS, independentemente da decisão do Senado, é bom lembrar que a defasagem no preço da gasolina na refinaria comparativamente ao mercado internacional era de 22.5% na sexta-feira. Isto é, toda essa confusão acerca de redução de preço do combustível pode ser neutralizada uma vez que se a Petrobras continuar sendo impedida de ajustar os preços podemos possivelmente correr o risco de desabastecimento interno.
Pelo sim, pelo não, o fato é que o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com ligeira queda de 30 pontos (6.60 dólares por tonelada) em relação à semana passada, com o vencimento julho/22 cotado a 19.65 centavos de dólar por libra-peso acompanhado por quedas entre 30 e 5 pontos ao longo da curva de preços que se estende até março/25. Os spreads (diferença entre os meses de vencimento) na Bolsa continuam a indicar que nenhum problema de disponibilidade de açúcar se avizinha.
Apesar disso, os fundos não-indexados seguem apostando na alta do açúcar, afinal, no acumulado do ano, a commodity subiu apenas 4% face a – por exemplo – a gasolina 76%, o petróleo 53% e o trigo 50%. A posição dos fundos aumentou quase 5,500 lotes na semana, alcançando agora 134,600 contratos.
A troca no comando da Petrobras por parte do Governo Federal pela terceira vez este ano deve fazer o economista Adriano Pires sentir-se aliviado por ter recusado o convite do presidente da república para ocupar o cargo. Na verdade, para esta importante função numa das maiores empresas do país, o presidente está pouco se lixando para a qualidade técnica do profissional que vai ocupá-la, o que ele quer é uma marionete que diga amém a todas as suas demandas. Alguém mais ou menos com o perfil daquele ministro sabujão que se agarra ao cargo como um cachorro faminto ao osso.
O fato concreto é que o represamento de preços da Petrobras provoca óbvia redução no lucro da empresa e menor distribuição de dividendos cujo maior beneficiário é o próprio governo, mas o ocupante do Planalto não entende nada de economia. O novo presidente da Petrobras deverá introduzir uma nova política na formação de preço dos combustíveis em linha com o desejo do supremo chefe, que só pensa na reeleição que parece cada vez mais distante.
Um doce para quem adivinhar quem vai pagar essa conta do represamento de preços. Acertou quem disse que é o contribuinte e o setor sucroenergético que, considerando uma defasagem média dos preços de 11% apenas no acumulado do ano, já tomou uma tungada estimada em R$ 2.5 bilhões. Em termos de governo federal, seja esse ou os anteriores petistas que trataram o país como gafanhotos no milharal, o Brasil está sempre na vanguarda do atraso. E não há perspectiva alguma de que vamos melhorar (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 27/5/22)