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Açúcar: Início ruim da moagem no Centro-Sul traz mais dúvidas

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

A expiração do contrato futuro de maio/22 nesta sexta-feira resultou numa entrega física de açúcar de pouco mais de 180 mil toneladas. Não foi um evento importante que pudesse trazer qualquer alteração no quadro fundamentalista do açúcar. O maio/22 expirou a 19.38 centavos de dólar por libra-peso. O contrato de julho/22, agora o primeiro vencimento, encerrou a semana cotado a 19.14 centavos de dólar por libra-peso uma variação negativa positiva de apenas pontos, menos de dois dólares por tonelada.

A desvalorização do real por conta do cenário macro que rejeita o risco, atingiu os ativos de risco e colocou as commodities no modo mau humor. No acumulado da semana, as commodities que mais se desvalorizaram foram aveia, café, trigo e açúcar, tudo que vai no seu café da manhã.

A moeda norte-americana encerrou a semana apreciando acima de 3.5% cotada a R$ 4.9700 e inflando os valores convertidos em reais das cotações do açúcar na bolsa de NY. Os vencimentos correspondentes à safra 22/23 do Centro-Sul tiveram elevação de 72 reais por tonelada, enquanto os da safra 23/24 ganharam 64 reais por tonelada na semana.

O início ruim (baixo rendimento) da moagem do Centro-Sul trouxe a devida sustentação nos preços comandada pelo ajuste dos livros das casas comercializadoras com forte exposição no açúcar físico e pelos fundos que continuam em frenético vai-e-vem, ora comprando e colocando os preços nas alturas (lembrando que NY bateu 20.51 centavos de dólar por libra-peso) ora detonando o mercado liquidando as compras de modo bem agressivo (NY chegou a cair até 18.73 centavos de dólar por libra-peso). Pelos números do COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, os fundos reduziram suas posições de compra em 36,000 lotes, mas ainda estão comprados 139,000 (sete milhões de toneladas de açúcar).

Esse largo intervalo de preços observado no mercado, isto é, 180 pontos em apenas 10 sessões, considerando que o mercado futuro de commodities é um jogo de soma zero e que a posição em aberto (número de contratos em jogo) chegou a variar quase 90.000 lotes no mesmo período, aponta que a transferência de dinheiro de um bolso para outro foi significativa, um eufemismo para dolorida.

Os fundamentos do açúcar para a 22/23, em nossa opinião, sinalizam um mercado internacional adequadamente suprido de açúcar, sem perspectiva de qualquer intercorrência no horizonte. A Índia já fala em exportação acima de 9.5 milhões de toneladas de açúcar, tendo já exportado 5.8 milhões de toneladas e registrado vendas de pelo menos 7 milhões de toneladas.

O mercado, paradoxalmente, só não caiu mais nesse início de safra no Centro-Sul porque as usinas brasileiras já estão fixadas em pelo menos 20 milhões de toneladas de açúcar e, portanto, não tem como adicionar novas vendas até que estejam confortáveis com o volume total produzido quando o final da moagem se aproximar. Além disso, as usinas devem aproveitar os preços remuneradores do etanol hidratado, que encerrou a sexta-feira negociado a R$ 4,0700 por litro, equivalentes à cotação do açúcar em NY mais um prêmio de 90 pontos.

Mas, espera um pouco. Essas notícias não são altistas? Sim, elas seriam altistas caso o Brasil não tivesse compromissos assumidos contratualmente de entregar 20 milhões de toneladas de açúcar para esta safra; ou, se não tivesse despejado 26 milhões de toneladas no mercado global nos últimos doze meses; ou, se a Índia não tivesse aumentando substancialmente suas exportações nesta safra; ou ainda se a Tailândia não tivesse uma promissora e volumosa safra adiante; e se a inflação e o aumento da taxa de juros em níveis globais não trouxessem genuína preocupação de que os consumidores finais deverão trabalhar da mão para a boca.

Por enquanto a curva de NY mostra um mercado em ligeiro carrego (3% ao ano), o que invalida a tese de falta de produto. Problemas ainda podem ocorrer nesta safra de cana do Centro-Sul, mormente relacionados ao rendimento do canavial. Os primeiros números publicados pela UNICA mostram 10 kg a menos de ATR por tonelada de cana comparados aos do ano passado.

“Será que essa safra guarda alguma semelhança com a safra 2011?”, provoca um usineiro. Se guardar, pode ser explosiva. Mas, ainda é muito cedo (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting)

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