Com mudança em licenciamento de usinas de álcool, Guilherme Piai Filizzola lidera movimento para que o estado comece conversão de plantas atuais para o biometano.
Aos 34, Guilherme Piai Filizzola é o secretário mais novo do governo de São Paulo. Nascido em uma família de ruralistas em Presidente Prudente, ele trocou a eleição à prefeitura por um posto no governo paulista para ajudar o amigo Tarcísio de Freitas, para quem tinha feito campanha no oeste do estado.
Depois de liderar o processo de regularização fundiária no pontal do Paranapanema, Piai passou a conduzir o plano de massificação do biometano, riqueza que ele chama de pré-sal caipira e quer, a partir de São Paulo, dominar o país.
Qual a força de São Paulo para massificar o consumo de biocombustíveis?
Dos 10 milhões de hectares de cana plantados no Brasil, mais de 5 milhões estão em São Paulo. Há quase 180 usinas registradas, a maioria no interior, e 70 estão a 20 quilômetros de gasodutos existentes. É um pré-sal caipira.
Elas ainda não produzem biometano. Quanto custa fazer a conversão?
Cada planta biodigestora sai por R$ 200 milhões. A conversão das 70 exigirá R$ 14 bilhões.
Com a mudança nas regras de licenciamento dessas usinas, que passou para dois meses, qual é o potencial de negócio?
O potencial de produção é de 100 milhões de metros cúbicos por dia. Isso permitiria substituir 70% do diesel consumido no país e 40% da demanda de energia elétrica.
Como distribuir?
As próprias concessionárias de gasoduto têm interesse em realizar o investimento para se conectarem com essas 70 usinas. A gente também soltou o procedimento para facilitar o licenciamento do transporte [por caminhões]. Será o mesmo prazo [até dois meses].
Mas isso só resolve a logística até os grandes centros. Como massifica no varejo?
No campo federal, o projeto de lei do Combustível do Futuro traz segurança jurídica. Em São Paulo, o governador mandou um projeto de lei para a assembleia que, primeiro, isenta o IPVA de caminhões e ônibus movidos a hidrogênio, biogás, biometano e os híbridos que tenham como segunda fonte o etanol. Depois, vai aumentando a cobrança. Esse projeto vai incentivar a demanda. Vai ser aprovado.
Nos próximos dois anos, a previsão é de, pelo menos, 30 novas unidades se instalem para a produção de biometano. Dessas 30, 20 estão em São Paulo.
O senhor descreve um cenário de insucesso completo para os elétricos, como os da BYD.
A vocação do Brasil é o carro híbrido. O elétrico está entrando agora porque teve essa importação, mas com a taxação e a nossa tecnologia de carro híbrido, o cenário pode mudar.
São Paulo prevê então um pré-sal verde para o Brasil?
Esse termo é perfeito. É isso.
Quem coloca dinheiro?
O BNDES tem linha de crédito para isso com juros subsidiados [TR, cerca de 2% ao ano]. O Banco Mundial e outros bancos multilaterais também procuram iniciativas como essa.
Raio-X | Guilherme Piai
Formado em Administração (Toledo Prudente) com pós em Gestão Pública (UniCesumar). Foi deputado federal suplente e, em 2023, dirigiu o Instituto de Terras do Estado de São Paulo, onde coordenou um processo de regularização fundiária para assentados no Pontal do Paranapanema. Foi transferido para a Secretaria de Agricultura como número 2 em setembro daquele ano e, um mês depois, tornou-se secretário (Folha, 23/6/24)