Editorial Folha de S.Paulo
Campo puxa alta do PIB, mas melhora ampla depende de boa política econômica.
Com a alta de 21,6% no desempenho da agropecuária no primeiro trimestre, a economia brasileira surpreendeu positivamente —o crescimento do Produto Interno Bruto no período foi de 1,9%, acima das projeções de analistas de mercado, que rondavam 1,2%.
Devem subir, portanto, as expectativas para o ano. Caso a atividade se mantenha estável, o resultado do primeiro trimestre já proporciona um avanço de 2,4% em 2023.
Favorecida pelo clima e pelo contínuo avanço tecnológico, que impulsiona a produção sem aumento concomitante da área plantada, a safra crescerá cerca de 15% neste ano, segundo estimativas mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Com impactos na produção de máquinas e nos serviços associados, a renda agrícola se espalha nas regiões produtoras e favorece segmentos como o de transportes. É esperado, porém, que o ritmo arrefeça, já que a colheita surpreendente traz dificuldades de estocagem e escoamento.
Já o restante da economia mostra pouco vigor e tendência de desaceleração. O consumo subiu apenas 0,2%, e o investimento teve queda de 3,4%, a segunda consecutiva. Com o aperto monetário dos últimos meses, o agravamento da escassez de crédito e menor expansão da renda das famílias, não será surpresa uma piora adiante.
Como contraponto há a ampliação das transferências assistenciais do governo para famílias mais pobres —além da queda do desemprego para o patamar em torno de 8,5%, não muito distante dos menores em anos recentes.
Some-se a isso o legado positivo de reformas aprovadas nos últimos anos, como a trabalhista, concebida para facilitar as contratações com carteira assinada.
A melhora nos modelos de concessões de infraestrutura garantiu razoável número de projetos em andamento, como no saneamento —ora objeto de contestação por forças retrógradas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ademais, deve haver expansão em setores produtivos importantes para a renda nacional, como extração de petróleo e gás.
No geral, o país começou este 2023 em situação razoável, que, entretanto, precisa do amparo de boas políticas públicas.
Reverter reformas importantes, recuar no ajuste dos bancos públicos e empresas estatais e afugentar investimentos com ameaças de descontrole orçamentário seriam ações contraproducentes.
Sinais no sentido correto contribuirão para o aumento da confiança geral e facilitarão o corte dos juros do Banco Central —passo necessário, embora não suficiente, para a retomada do crescimento duradouro da renda nacional (Folha de S.Paulo, 2/6/23)