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Desmatamento como legado

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Editorial Estadão

Passivo ambiental de Bolsonaro é simbolizado pela devastação no último ano de seu governo.

O principal legado do governo de Jair Bolsonaro na área ambiental foi o desmatamento de 6,6 milhões de hectares, dos quais 99% com indícios de terem ocorrido na ilegalidade. A devastação equivaleria à destruição total de uma vez e meia o território do Estado do Rio de Janeiro. Os dados divulgados no último dia 12 pelo MapBiomas, em seu Relatório Anual de Desmatamento (Rad 2022), jogam luz sobre o imenso desafio da gestão de Lula da Silva de frear as motosserras e reverter esse cenário a bem do interesse nacional e do compromisso assumido pelo Brasil de zerar o desmatamento até 2030.

No último ano da administração Bolsonaro, quando a máquina governamental operou com concessões e benefícios em favor de sua reeleição, a leniência oficial abriu as porteiras para o desmatamento mais acelerado. Foram destruídos 2,1 milhões de hectares – sobretudo, na Amazônia e no Cerrado. Tratou-se de área 22,3% superior à desmatada em 2021 e de um terço da devastação ocorrida em todo o mandato presidencial.

Tal passivo desqualificaria a ficha de serviço de qualquer líder, mas não surpreende em se tratando do empenho de Bolsonaro em deixar a “boiada passar”. Seu governo fez irresponsável vista grossa aos apelos de setores organizados, empresariais e políticos do País em favor da proteção aos biomas e à agenda econômica cada vez mais restritiva ao comércio, ao acesso ao crédito e ao investimento para negócios maculados pelo mau desempenho ambiental.

Desde seu início, o governo Lula da Silva mostra-se empenhado na reversão desse cenário, seja por convicções próprias sobre o valor da biodiversidade brasileira, seja por ambições de liderança nas negociações multilaterais sobre mudança climática, seja pelos potenciais prejuízos econômicos decorrentes da inação. A reconstrução dos órgãos ambientais de vigilância e controle, demolidos na gestão anterior, aponta seriedade nesse novo rumo, assim como o combate ao garimpo ilegal e à grilagem em terras indígenas.

As derrubadas, porém, prosseguem – e nem sempre na legalidade. Dados deste mês do Deter, programa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontam o desmatamento de 1.986 quilômetros quadrados na Amazônia legal de janeiro a maio. Houve redução de 31%, na comparação com igual período de 2022. No Cerrado, desbravado nas últimas décadas pelo agronegócio, o quadro piorou. Foram ceifados 2.612 quilômetros quadrados, 35% a mais.

Há muito a ser feito para o Brasil chegar a 2030 com desmatamento zero – contraditoriamente, um compromisso firmado pelo governo que se empenhou na destruição ambiental. O esforço envolve a tarefa de convencer o segmento arcaico do agronegócio a parar a derrubada de árvores e investir em tecnologia para obter ganhos de produtividade, como faz o mais arrojado. Igualmente há o desafio do ataque aos garimpos ilegais e aos grileiros, hoje dominados por organizações criminosas. Não será fácil. Mas, a bem da sociedade brasileira, recuos não serão tolerados (Estadão, 18/6/23)

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