Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY parece ter se convertido em um daqueles parques de diversões de antigamente que se instalavam nas areias das praias de Santos que eu frequentava na minha infância distante.
Mesmo que a gente tivesse andado dezenas e dezenas de vezes nos equipamentos simplórios disponíveis naqueles tempos pueris, as emoções se renovavam a cada nova volta, ainda que a próxima ocorresse apenas no inverno seguinte, época em que essa trupe se instalava na cidade praiana.
Cada participante ativo desse ambiente de desvairados em que se transformou o mercado futuro de açúcar e que procura encontrar – ainda que sem sucesso – justificativas lógicas a todo movimento desatinado dos preços, vai se ver nessa minha imagem singela.
A que mais salta aos olhos é a Montanha Russa, em especial nessa última semana. Percorre-se do Céu ao Inferno em questão de minutos, dependendo do lado em que o participante se encontra posicionado. O mercado fechou na sexta-feira a 25.35 centavos de dólar por libra-peso, 62 pontos de alta na semana, equivalentes a quase 14 dólares por tonelada. Nesse mesmo pregão, o mercado chegou a negociar a 26.15 centavos de dólar por libra-peso, para depois derreter e fechar nas mínimas.
Pior, que apesar de valorizar 53 pontos (11.68 dólares por tonelada) nos meses correspondentes à safra 23/24 do Centro-Sul, 27 pontos (6 dólares por tonelada) na 24/25 e inalterado na 25/26, a valorização do real em relação ao dólar de 1.76% na semana (encerrou cotado R$ 4,8714), os valores em reais por tonelada apresentaram valorização de 12, queda 14 e queda de 43 reais por tonelada, respectivamente. Uma ilusão monetária como aqueles espelhos mágicos do parque que nos refletiam ora mais altos, ora mais baixos, ora mais magros, ora mais gordos. Era divertido.
O ponto alto dos parques, pelo menos para as crianças de então, era o trem fantasma. Naquela época a criançada lia gibis de terror, acreditava em lobisomem e almas penadas e o teste de coragem era passar em frente aos cemitérios à meia-noite. Portanto, nada mais apropriado do que visitar o tal brinquedo.
Aos olhos adultos de hoje, tudo no parque era incrivelmente rudimentar, mas estávamos ali pelo susto. A catarse de outrora remete ao mercado de açúcar de agora. Muitos assombros tem perturbado o sono dos diretores financeiros das empresas, com o fantasma das chamadas de margem pairando sobre suas cabeças. E justamente quando muitos respiravam aliviados com a acomodação do mercado, eis que começa o terror novamente.
Esqueçam os fundamentos. O que se vê no mercado futuro de açúcar em NY é algo sobre-humano, mas não no sentido de forças superiores, ou algo de teor extraordinário ou qualquer significado místico. É porque o mercado virou uma batalha de algoritmos, de sistemas computadorizados sem a participação humana. Não tem fundamento um mercado que sobe 50 pontos e depois que você volta do banheiro ele despencou 80. Conscientize-se: o que está acontecendo com o mercado nada tem a ver com a percepção relacionada ao mercado físico. Há de se ter muito cuidado para não embarcar nessas narrativas.
Ah, mas a China comprou 700,000 toneladas, dirão os crédulos. Realmente, algum impacto pode até ter causado, e um pequeno movimento pode atingir níveis em que os algoritmos viram uma oportunidade rápida de se ganhar dinheiro. Outro ponto que pode trazer ainda mais sustos são as noticias conflitantes acerca do El Niño (todo ano é a mesma ladainha) e o vencimento das opções na semana que vem.
Já o mundo real nos mostra que a safra no Centro-Sul está caminhando bem, muitas usinas afirmando que a produtividade tem superado as expectativas. Vai ter açúcar para todo mundo. O fluxo de capital está derrubando o dólar, provável migração de dinheiro que saiu da Turquia em busca de outro país emergente. Ou seja, é possível que já tenhamos visto o nível mais alto em reais por tonelada, assunto que abordamos aqui. Tá na hora de descer da Roda Gigante.
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