Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar pesou essa semana com o vencimento julho/23 encerrando o pregão de sexta-feira a 24.74 centavos de dólar por libra-peso, uma retração de 63 pontos ou quase 14 dólares por tonelada. A valorização do real frente ao dólar no acumulado da semana, embora de apenas 0.5%, ajudou a encolher os preços em mais de 100 reais por tonelada.
A curva do açúcar em NY achatou cerca de 60 pontos nos meses referentes a safra 23/24 do Centro-Sul, encolheu em média de 6 pontos na 24/25 e teve valorização média de 20 pontos na 25/26. A percepção de menor taxa de juros no Brasil e a possibilidade de aumento da taxa de juros lá fora, diminui a quantidade de reais ofertados ao longo da curva, o que demanda maior preço de equilíbrio em centavos de dólar por libra-peso lá adiante. Essa é a nossa visão.
O total de cana moída na primeira quinzena de maio, segundo relatório da UNICA, foi de 79 milhões de toneladas, volume 24% acima do mesmo período no ano passado, mas ainda bem menor do que as seis safras anteriores. A produção acumulada de açúcar cresceu 48%, enquanto o mix de produção pró açúcar subiu sete pontos percentuais, de 38.50% no ano passado para 45.61% este ano. E deve bater nos 48%.
O valor do açúcar negociado na bolsa de NY convertido em reais pela taxa publicada pelo Banco Central e ajustado pela inflação, encerrou a sexta-feira a 2,816 reais por tonelada, quase 150 reais por tonelada abaixo da média observada durante o mês de maio. Como dissemos a semana passada nesse espaço, o mercado vai precisar de notícias fresquinhas e saborosas para conseguir manter esse nível alto de preços. Por enquanto, elas não existem.
Os fundos não-indexados começaram a se desfazer de suas posições compradas. Na semana que passou, pelo COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes publicado na sexta-feira com base na posição da terça-feira anterior, eles já liquidaram 28,698 contratos. O mercado corrigiu apenas 47 pontos com essa saída. Se liquidarem 50,000 contratos podemos ver uma queda de mais 100 pontos em NY? Eu não duvido, e você, caro leitor?
Atente para o fato de que a média de 50 dias do fechamento de NY está em 24.52 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o mercado bateu 24.57 centavos de dólar por libra-peso na sexta-feira. Esse pode ser um ponto sensível para os fundos. Uma quebra acentuada nesse nível pode acionar uma nova onda de liquidação. Mas, se você fixou preços do seu açúcar em reais por tonelada e comprou uma call (opção de compra) 150-200 pontos acima, não tem porque se preocupar. Mas, se você não fixou nada e está esperando NY chegar a 30 centavos de dólar por libra-peso ou R$ 3,500 por tonelada, é melhor aumentar o estoque de oferendas para o seu santo predileto.
Resta aos altistas acreditarem piamente em estresses climáticos (leia-se El Niño) para que NY consiga se sustentar nesses níveis. Enquanto isso, petróleo e gasolina continuam derrapando na semana, colocando ainda maior pressão no hidratado com a valorização do real e as usinas – como temos visto no relatório da UNICA – virando a chave para maximizar a produção de açúcar. Cadê o déficit?
O que se vê e ouve por aí é o mercado começando a ajustar para cima a previsão de moagem da safra corrente do Centro-Sul. Um número superior a 600 milhões de toneladas já é consensual. E a produção de açúcar que alguns colocavam em 37 milhões de toneladas, começa a encostar em 39 milhões de toneladas. Déficit? Aonde?
Portanto, para os altistas, resta esperar que a temperatura chegue a 50 graus na Tailândia. Que El Niño venha com força total. Que a chuva interrompa a moagem no Centro-Sul. Que o porto fique congestionado com a super safra de grãos. Que haja uma tempestade perfeita para que os altistas possam comemorar em alto estilo. Cuidado: tem um urso à espreita.
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