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The Economist: O novo drama do mercado de petróleo

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Indústria discreta e de baixa margem de lucro, refinarias passam a ser o centro das atenções.

A temporada de carros na estrada e de maior demanda por combustível começou oficialmente nos Estados Unidos. Apesar da inflação em alta e da persistente ameaça da pandemia, os motoristas chegaram às rodovias com entusiasmo no recente fim de semana prolongado devido ao feriado do Memorial Day, na última segunda-feira de maio. Cerca de 40 milhões de americanos viajaram de carro, um aumento de 8,3% em relação ao mesmo fim de semana em 2021. Esse forte desejo de viajar surgiu mesmo quando os preços na bomba estavam cerca de 50% acima daqueles do ano passado, alta motivada por uma intensa limitação nas refinarias em todo o mundo.

 Em tempos normais, a atividade de refino é um coadjuvante de baixa margem de lucro e pouco drama para as operações upstream de produção de petróleo, acusadas geopoliticamente, e para as operações downstream, acusadas do ponto de vista político. As refinarias costumam ter margens de lucro de US$ 5 a US$ 10 por barril e muitas vezes passam por períodos dolorosos sem lucros. Desta vez, entretanto, o refino está desempenhando um papel de protagonista – apesar das maquinações dos países produtores de petróleo, da guerra na Ucrânia e das sanções às exportações russas de petróleo. As margens para muitas refinarias dispararam e os gargalos no setor estão impulsionando os aumentos do preço da gasolina em todo o mundo.

Razões da apreensão

Três fatores explicam por que o refino está no centro das atenções. O primeiro é uma queda de longo prazo no investimento em economias avançadas. Com a previsão de redução da demanda de petróleo no mundo rico nas próximas duas décadas, os investidores estão com receio de gastar muitos bilhões de dólares em instalações que podem se tornar ativos improdutivos. Somando-se a isso está a pressão ambiental sobre o refino, que é visto como particularmente poluente, e as legislações na Califórnia e na Europa que favorecem combustíveis mais ecológicos. Fora da China e do Oriente Médio, onde a capacidade está se expandindo, a capacidade de refino diminuiu cerca de 3 milhões de barris por dia desde o início da pandemia, calcula Alan Gelder, da consultoria de energia Wood Mackenzie.

O segundo fator que abalou a atividade de refino é a formulação de políticas chinesas. A China historicamente é um país que exporta mais do que importa produtos refinados, vendendo grandes volumes para outros países asiáticos. No entanto, na tentativa de combater a poluição local e ajudar a atingir as metas climáticas, as autoridades reduziram as cotas de exportação de grandes refinarias de gasolina, combustível de aviação e outros produtos em mais de 50% este ano. Nos planos oficiais, a China deve parar de exportar a maioria dos produtos refinados com uso intensivo de carbono até 2025. O resultado perverso disso é que o país detém cerca de 7% da capacidade ociosa global, mesmo enquanto o resto do mundo está sedento por combustíveis para transporte.

O peso da guerra

A terceira grande força perturbadora é, sem dúvida, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e as consequentes sanções impostas às exportações de hidrocarbonetos de Moscou. Os EUA e o Reino Unido proibiram a compra de petróleo russo; a UE anunciou um embargo parcial às importações de petróleo bruto, inclusive um para produtos refinados ainda este ano. O efeito de tudo isso não é evidente. Segundo relatos generalizados (inclusive de especialistas em acompanhamento de navios-petroleiros), a Rússia atualmente está exportando mais petróleo bruto do que antes da guerra. O país está vendendo uma grande quantidade de petróleo bruto a preços reduzidos, em especial para a Índia, que está importando mais de 700 mil barris por dia a mais do que antes da invasão russa.

No entanto, quando se trata de produtos refinados, tanto as sanções oficiais quanto as sanções voluntárias adotadas por conta própria pelas empresas ocidentais parecem estar tendo efeito. De acordo com Natasha Kaneva, do banco JPMorgan Chase, a Rússia está vendendo aproximadamente 500 mil barris a menos de produtos refinados por dia do que antes da guerra, e talvez isso a tenha forçado a deixar de produzir até 1,4 milhão de barris por dia de capacidade de refino em maio. A consequência é uma mudança sem precedentes, defende Richard Joswick, da empresa de pesquisa S&P Global: “o mundo tem capacidade de refino suficiente, mas a capacidade ociosa está mudando para a Rússia e a China”. Como resultado, ele calcula que as taxas de utilização por refinarias no restante do mundo serão muito maiores do que o previsto anteriormente.

A crise nas refinarias pode continuar por um tempo ainda. A próxima temporada de furacões no Atlântico, prevista para ser mais intensa que o habitual, talvez paralise as refinarias no Golfo do México. Outro fator é o momento exato e a intensidade da última rodada de sanções da Europa às exportações russas de petróleo. Se implementadas de forma agressiva, elas podem comprimir ainda mais o setor.

As leis do mercado ainda poderiam salvar a pátria. Os picos dolorosos de preços vistos nas bombas de gasolina mais cedo ou mais tarde esfriarão um pouco a demanda e podem levar a melhorias na eficiência energética, ambos ajudariam a equilibrar os mercados.

Uma mudança nos fluxos comerciais também poderia socorrer a Europa. As refinarias de renome mundial da Índia, por exemplo, estão transformando a crise global em oportunidades locais. O RBC Capital Markets, banco de investimentos, avalia que o país “está se tornando, na prática, o centro de refino para a Europa”. Novas grandes refinarias estão programadas para entrar no mercado em breve no Kuwait e na Arábia Saudita, o que deve ajudar a amenizar a escassez também. Como observa Joswick, “com margens de lucro tão grandes, todo mundo tem um incentivo para operar as refinarias a todo vapor” (O Estado de S.Paulo, 19/6/22)

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