Além de definir novos cargos do alto escalão, cúpula do bloco aprovou plano para os próximos cinco anos que põe a economia antes da proteção do clima.
Além de definir os novos cargos do alto escalão da União Europeia e endossar a recondução de Ursula von der Leyen à presidência da Comissão Europeia, a reunião de cúpula do bloco, encerrada na noite de quinta para sexta-feira (28/06), terminou com uma reorganização da lista de prioridades no bloco: economia e competitividade em primeiro lugar, com a proteção do clima subordinada a esse objetivo maior.
“Vamos fechar os gaps de crescimento, produtividade e inovação entre nós e nossos parceiros internacionais e concorrentes. Isso requer grandes esforços conjuntos nos investimentos, na mobilização de recursos públicos e privados”, consta da declaração do encontro, que dedica a maior parte de suas linhas ao resgate da competitividade do bloco.
Intitulado “agenda estratégica”, o documento de oito páginas detalha os objetivos políticos da UE e dá a von der Leyen, caso ela seja reconduzida à chefia do bloco, uma orientação concreta de governo.
Desenvolvimento, produção e geração de valor de tecnologias de ponta devem, no futuro, ocorrer mais dentro da UE. Além disso, o bloco quer diminuir a dependência de importações da China, de outros países asiáticos e dos EUA.
Especialmente crítico foi o tom da Comissão Europeia em relação à Alemanha, maior economia da UE: os investimentos são lentos e falta dinamismo.
Produção de semicondutores em Barcelona UE quer voltar a criar cadeias de abastecimento. Foto JOSEP LAGO Getty Images
Acordo Verde Europeu em segundo plano
Diferentemente de 2019, desta vez o documento que esboça a nova linha de governo da UE já não menciona uma política climática ambiciosa: “Agiremos com pragmatismo em nosso caminho rumo à neutralidade climática em 2050.”
Para os líderes europeus, a política climática – cuja visão foi expressa na legislatura anterior no Acordo Verde Europeu – não é um fim em si mesmo, e sim deve estar a serviço do fortalecimento da competitividade e da soberania energética da Europa.
Eurodeputado verde, Michael Bloss criticou o posicionamento, afirmando que o Acordo Verde não é uma “questão secundária”, e sim “o projeto central para tornar a economia competitiva e sustentável e alcançar as metas climáticas”. “O Acordo Verde precisa continuar”, frisou.
Ampliação do bloco como meta estratégica
Presidente do Conselho Europeu em fim de cargo, Charles Michel argumentou que, diante da guerra de agressão russa à Ucrânia e da situação geopolítica cada vez mais insegura com a China e uma possível volta de Donald Trump ao comando dos Estados Unidos, a UE precisa se concentrar mais na própria segurança e defesa.
Isso pressupõe, segundo Michel, a ampliação do bloco com a incorporação de seis novos países nos Bálcãs, bem como da Ucrânia e da Moldova – o que, por sua vez, pressupõe a realização de reformas que vêm sendo exigidas por alguns líderes europeus há anos, como o francês Emmanuel Macron.
“Precisamos verificar nosso processo e nossa capacidade de absorção”, afirmou Michel. “Precisamos pensar como uma expansão vai afetar as diferentes áreas políticas da UE, seu financiamento e nossos métodos de tomada de decisão.”
O primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que na segunda-feira assumirá a presidência rotativa do Conselho da UE, está satisfeito com o foco na competitividade para a agenda do bloco, mas também pressiona pela cooperação com Rússia e China. O líder nacionalista de direita prefere deixar de lado a guerra contra a Ucrânia e outros temas controversos como migração, Defesa ou Estado de Direito.
Contudo, o Estado de Direito, a proteção da democracia e a defesa dos valores fundamentais europeus também são uma parte central da agenda estratégica da UE. “Asseguraremos e expandiremos o respeito pelo Estado de Direito, pois ele é a base para a cooperação europeia”, consta do documento. A UE há anos acusa a Hungria justamente de não respeitar esse princípio.
Novos nomes para o alto escalão da UE
Pelo acordo preliminar entre os líderes do bloco, a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, assumirá a chefia da diplomacia da UE, e o ex-ministro português Antonio Costa, a presidência do Conselho Europeu.
Já von der Leyen recebeu o aval do centro-direitista Partido Popular Europeu (PPE), dos Socialistas e Democratas e dos liberais do Renovar a Europa para ser reconduzida à chefia da Comissão Europeia, órgão executivo da UE.
O provável novo comando da UE pelos próximos cinco anos: Ursula von der Leyen à frente da Comissão Europeia, Antonio Costa no Conselho Europeu e Kaja Kallas como chefe da diplomacia. Foto Zhao Dingzhe Xinhua IMAGO Sean GallupmGetty Images LUDOVIC MARIN Getty Images
O acordo foi rejeitado parcialmente ou totalmente pela maioria dos políticos europeus de ultradireita, incluindo Orbán e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
Kallas, que era cotada para a presidência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), se cacifou para a diplomacia europeia com a sua retórica firme contra a Rússia. A confirmação tanto dela quanto de von der Leyen, porém, ainda depende de aprovação por maioria em votação em julho pelo novo Parlamento Europeu. Já Costa deve ser empossado em dezembro (DW, 30/6/24)