Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o vencimento outubro/24 cotado a 19.20 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 94 pontos acumulados na semana, que correspondem a pouco mais de 20 dólares por tonelada. Com a apreciação de 1.25% do real frente ao dólar na semana, os valores do açúcar em reais por tonelada tiveram uma queda expressiva de 125 reais por tonelada para os dois últimos vencimentos da safra 24/25 do Centro-Sul.
Recentemente, o mercado falhou em manter uma alta significativa, influenciado pela mudança nas posições dos fundos, que passaram de vendidas para compradas e, em seguida, retornaram às posições vendidas e – agora – conforme o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado nesta sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com os dados de terça-feira passada, voltaram a ficar ligeiramente comprados em pouco mais de 6,500 lotes. Se eles estão assim baratinados imagina quem tem boleto para pagar.
Já comentamos aqui que a flutuação cambial teve um impacto decisivo na queda de NY, resultando no encolhimento de 200 pontos nas cotações. Esse é um ponto que foge do entendimento dos fundos pois é um fator exógeno que entra na formação de preços do açúcar pelo peso que as fixações de venda por parte do Brasil exercem no volume total negociado em NY.
Como exemplo, em 2 de julho, o preço do açúcar atingiu R$ 2.692, comparável aos R$ 2.690 registrados em 1º de abril, enquanto o câmbio variou de R$ 5,043 para R$ 5,677. Nesse mesmo período, os preços em Nova York caíram de 22,72 para 20,45 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, a conta da queda quase que integralmente deve ser imputada à desvalorização cambial.
No Centro-Sul, pelos números publicados pela UNICA a produção acumulada de cana atingiu um recorde histórico, apesar do consenso entre usineiros de uma redução de 25% no volume de moagem para o último quarto da safra. Ainda assim, estima-se que a produção total de cana deve ficar em torno de 605 milhões de toneladas, em linha com a previsão da Archer Consulting.
Em relação ao câmbio, fator que pode servir de suporte aos preços, a expectativa é de um real mais forte, mesmo porque a recente desvalorização foi contaminada por uma série de fatores internos e externos que devem se dissipar ao longo do tempo. Um forte argumento é que a expectativa do saldo comercial do Brasil este ano deve alcançar US$ 79,2 bilhões, e a taxa de juros real ainda é atrativa. Além disso, esperam-se cortes nas taxas de juros americanas, enfraquecendo o dólar e trazendo suporte para as commodities e, consequentemente, para o açúcar.
Na contraparte, contudo, há preocupações fiscais do Brasil e a constante possibilidade de instabilidades geopolíticas, além do impacto potencial da retórica do presidente Lula, falando mais do que deve, e a possível eleição de Donald Trump, que poderiam trazer instabilidade aos mercados e o enfraquecimento das moedas emergentes. Não está fácil para a tomada de decisão.
Vale observar o seguinte: nos últimos cinco anos, o preço médio do açúcar em Nova York foi de 18,04 centavos de dólar por libra-peso, com o terceiro quartil em 20,31 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, em apenas 25% das vezes nos últimos 5 anos o preço ficou acima de 20.31 centavos de dólar por libra-peso. Curiosamente, os preços acima de 22,00 centavos representaram 17,7% do tempo, acima de 24,00 centavos 11,6%, e acima de 26,00 centavos 5,9%. A pandemia de COVID-19 teve um impacto negativo significativo, piorando a média de preços.
A espada na cabeça do mercado é que o Brasil continua a ser um exportador dominante, inundando o mercado global com 36,5 milhões de toneladas de açúcar, um novo recorde, nos últimos doze meses. Apenas nos primeiros cinco meses do ano, as exportações de açúcar aumentaram 62% em comparação com o mesmo período de 2023, dificultando uma recuperação de preços. As exportações em termos de valor também atingiram recordes, com quatro anos consecutivos de preços crescentes.
Como já comentamos aqui em outras oportunidades, uma análise dos últimos 25 anos revela que os preços médios mensais mais altos nunca ocorreram entre abril e julho, com pressões nos preços se manifestando no período abril/julho. Em abril, a média de preços em NY foi de 20.32 centavos de dólar por libra-peso, em maio foi de 18,82 centavos e em junho de 19,18 centavos por libra-peso. É o melhor período para os consumidores industriais fixarem suas compras, inclusive para as próximas duas safras. Acreditamos que os preços em centavos de dólar por libra-peso têm potencial de alta de 150 pontos para a 25/26 e 250 pontos para a 26/27.
Com estoques elevados, e segundo algumas fontes estimados em cerca de 9 milhões de toneladas de açúcar, a Índia pode decidir exportar alguma coisa. Na Tailândia, a safra 24/25, que começa em dezembro, é estimada entre 100 e 110 milhões de toneladas, com uma produção de açúcar de 10,8 milhões de toneladas.
Os fatores altistas incluem a possível redução na safra do Centro-Sul para abaixo de 600 milhões de toneladas, o fortalecimento do real frente ao dólar, a entrada de fundos comprados (já se posicionaram, resta aguardar se é para valer), usinas bem fixadas que reduzem a pressão vendedora, a recuperação do consumo mundial a longo prazo, a redução da taxa de juros no Brasil e a recuperação do mercado de etanol.
Por outro lado, os fatores baixistas compreendem o desempenho recorde do Centro-Sul, taxas de juros inalteradas nos EUA afetando o consumo, estoques recordes de petróleo no mundo, crescimento econômico chinês abaixo do esperado, a eleição de Trump e conflitos geopolíticos.
Marcelo Moreira, que colabora com a gente na análise técnica destaca que “o Out-24, como mencionado no comentário da semana anterior, encontrou intensa resistência em todas as principais médias-móveis (9/50/100/200 dias) conspirando contra o mercado! O Out-24 encerrou em cima do importante suporte da média-móvel dos 50 dias @ 19,20 c/lb. Perdendo esse suporte próximos objetivos agora nos 18.60 e 17.90 centavos de dólar por libra-peso. Com o indicador “estocástico” indicando “mercado sobrevendido”, se o Out-24 conseguir se “segurar” acima dos 19.20 centavos de dólar por libra-peso então deverá buscar as próximas resistências nos 19.97/20.13/20.47 e finalmente os 20.61 centavos de dólar por libra-peso”.
Quer adquirir o livro “Commodities Sem Fronteiras”? Você encontra na Livraria Martins Fontes, em São Paulo, ou pelo link abaixo. Boa leitura. https://oseulivreiro.com.br/produto/commodities-sem-fronteiras/ (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 12/7/24)