Balsa fará viagens sem custos para os passageiros como parte de um programa piloto de seis meses; transporte marítimo produz quase 3% do total de emissões de gases de efeito estufa do mundo
A primeira balsa comercial de passageiros movida a hidrogênio do mundo começará a operar na Baía de São Francisco, nos Estados Unidos, como parte dos planos para eliminar gradualmente as embarcações movidas a diesel e reduzir as emissões de carbono que aquecem o planeta, disseram autoridades da Califórnia na sexta-feira, 12, ao apresentar a balsa.
O catamarã de 21 metros, chamado MV Sea Change, transportará até 75 passageiros ao longo da orla marítima entre o Pier 41 e o terminal de balsas do centro de São Francisco a partir de 19 de julho, segundo as autoridades. O serviço será gratuito por seis meses, enquanto estiver sendo executado como parte de um programa piloto.
“As implicações disso são enormes, porque essa não é sua última parada”, disse Jim Wunderman, presidente da Autoridade de Transporte de Emergência Aquática da Área da Baía de São Francisco, que opera balsas de transporte regional na baía. “Se conseguirmos operá-la com sucesso, haverá mais embarcações desse tipo em nossa frota e em outras frotas nos Estados Unidos e, acreditamos, no mundo.”
O Sea Change pode viajar cerca de 300 milhas náuticas e operar por 16 horas antes de precisar ser reabastecido. As células de combustível produzem eletricidade combinando oxigênio e hidrogênio em uma reação eletroquímica que emite água como subproduto.
A tecnologia poderia ajudar a limpar o setor de transporte marítimo, que produz quase 3% do total de emissões de gases de efeito estufa do mundo, segundo as autoridades. Isso é menos do que os carros, caminhões, ferrovias ou aviação, mas ainda é muito – e está aumentando.
Frank Wolak, presidente e CEO da Fuel Cell & Hydrogen Energy Association, disse que a balsa é significativa porque é difícil reduzir as emissões de gases de efeito estufa das embarcações.
“O valor real disso é quando você multiplica pelo número de balsas que operam em todo o mundo”, disse ele. “Há um grande potencial aqui. É assim que você pode começar a reduzir a intensidade de carbono de seus portos.”
Os apoiadores também esperam que as células de combustível de hidrogênio possam vir a alimentar navios porta-contêineres.
A Organização Marítima Internacional, que regulamenta a navegação comercial, quer reduzir pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até meados do século.
Como as emissões de combustíveis fósseis continuam a aquecer a atmosfera da Terra, o governo de Joe Biden está se voltando para o hidrogênio como fonte de energia para veículos, fabricação e geração de eletricidade. Ele vem oferecendo US$ 8 bilhões para atrair as indústrias, os engenheiros e os planejadores do país a descobrir como produzir e fornecer hidrogênio limpo.
Grupos ambientalistas, porém, afirmam que o hidrogênio apresenta seus próprios riscos climáticos e de poluição.
Por enquanto, o hidrogênio que é produzido globalmente a cada ano, principalmente para refinarias e fabricação de fertilizantes, é feito com gás natural. Esse processo aquece o planeta, em vez de poupá-lo. Na verdade, um novo estudo realizado por pesquisadores das universidades de Cornell e Stanford descobriu que a maior parte da produção de hidrogênio emite dióxido de carbono, o que significa que o transporte movido a hidrogênio ainda não pode ser considerado energia limpa.
No entanto, os defensores do transporte movido a hidrogênio dizem que, a longo prazo, a produção de hidrogênio está destinada a se tornar mais segura para o meio ambiente. Eles preveem um uso crescente de eletricidade proveniente de energia eólica e solar, que pode separar o hidrogênio e o oxigênio na água. À medida que essas formas renováveis de energia ganham uso mais amplo, a produção de hidrogênio deve se tornar um processo mais limpo e menos caro.
O projeto Sea Change foi financiado e gerenciado pela empresa de investimentos SWITCH Maritime. A embarcação foi construída pela Bay Ship and Yacht em Alameda, Califórnia, e pela All-American Marine em Bellingham, Washington (Estadão, 13/7/24)