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Por que a solução energética mundial passa pelo campo

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Por Vera Ondei

Atingir as metas climáticas assumidas no Acordo de Paris depende de algumas soluções já conhecidas, mas para isso o investimento, até 2030, deve ficar na casa de US$ 44 trilhões.

A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, na sigla em inglês), em um documento do mês de março chamado “Perspectiva das Transições Energéticas Mundiais 2023: Percurso de 1,5°C”, em que cita os compromissos do Acordo de Paris em relação ao aumento da temperatura do planeta, coloca que, para a reversão dessa trajetória, a “única opção realista disponível é um aumento considerável de energia renovável e de soluções de eficiência”, entre elas a biomassa sustentável e o hidrogênio verde.

“As estruturas de energia atuais foram projetadas para suportar combustíveis fósseis e devem ser redesenhadas para suportar sistemas de energia renovável”, diz Francesco La Camera, diretor-geral do IRENA. Até o fim de 2022, as energias renováveis representavam 40% da capacidade instalada global de energia.

No Brasil, a biomassa – a partir da queima do bagaço e da palha da cana-de-açúcar nas usinas de etanol e açúcar – é a principal fonte de bioeletricidade nas energias renováveis. No entanto, a cogeração de energia vinda da biomassa pode ter diversas origens, como outros resíduos de lavouras de arroz; da indústria madeireira com o licor negro, óleos vegetais, biogás e biometano a partir de dejetos animais, entre outros.

“A cogeração é fundamental para uma matriz elétrica mais equilibrada, economizando água nos reservatórios das hidrelétricas”, diz Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (COGEN), entidade que reúne companhias como Raízen, Tereos, Usina Colorado, Atvos, Suzano, Siemens, Comgás, entre outras.

Cada tonelada de cana moída produz 250 quilos de bagaço e 200 quilos de palha, que podem ser destinados à cogeração de bioeletricidade. Na safra 2022/23, que vai de abril de um ano a março do ano seguinte, o volume de cana-de-açúcar processada foi de 548,28 milhões de toneladas na região Centro-Sul do país, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA). A consultoria DATAGRO, a maior do país para a cana, prevê, no ciclo 2023/24 uma moagem de 598,5 milhões de toneladas, um crescimento de 9,2%.

Segundo o Observatório da Cana e Bioenergia 2023, “a geração pelo setor sucroenergético representou 72% da produção total da bioeletricidade à rede em 2022, seguida pelo licor negro, com 20%, e pelo biogás, com 4%”. No ano passado, a oferta de bioeletricidade de biomassa à rede foi de 25,5 mil GWh, colocando esse tipo de energia em terceiro lugar na matriz de oferta do país.

Esse volume equivale a 37% da produção de energia elétrica gerada na usina Itaipu, hidrelétrica que fornece cerca de 8,6% da energia consumida no país, ou a 69% da geração pelo Complexo Belo Monte no ano passado. Mas a atual biomassa produzida nos canaviais brasileiros tem potencial para gerar 151 mil GWh de bioeletricidade, o que daria para atender mais de 30% do consumo de energia no Sistema Integrado Nacional (SIN).

Nos últimos 15 anos, entre 2008 e o ano passado, a geração acumulada de bioeletricidade sucroenergética para a rede foi de 238.105 GWh. O Observatório faz uma equivalência comparando as várias frentes de seu uso. Essa bioeletricidade seria suficiente para suprir o consumo de energia elétrica do mundo por quatro dias, ou da União Europeia por 31 dias. Entre os países, ela abasteceria a China por 16 dias, os Estados Unidos por 22 dias, o Reino Unido por 281 dias, Portugal por mais de 4 anos e a Argentina por 2 anos. No mercado local, equivale a quase seis meses de abastecimento do país e a um ano, se considerada a região Sudeste, a que mais consome energia local.

A estimativa da COGEN para 2023 é de que a capacidade de cogeração de energia do país possa crescer entre 400 MW e 500 MW, a partir da biomassa e gás natural. O Brasil possui 652 usinas de cogeração, das quais o bagaço da cana-de-açúcar responde por 386 usinas. Para processar o licor negro, há 21 usinas (com capacidade de 3,41 GW) e 50 para biogás (com capacidade de 371 MW), o que representa 1,8% da cogeração.

O crescimento estimado pela COGEN vai ao encontro do que prevê a IRENA. No ano passado, os investimentos globais em tecnologias de transição energética atingiram o recorde de US$ 1,3 trilhão (R$ 6,5 trilhões com o dólar a R$ 5,04). Mas, para cumprir as metas climáticas, é preciso ir para US$ 5 trilhões ao ano, o que equivaleria a investimentos acumulados da ordem de US$ 44 trilhões até 2030 com as tecnologias de transição.

No caso da biomassa, a IRENA inclui também os usos que ela considera modernos no processo de bioenergia, colocando o biogás e o biometano como importantes coadjuvantes nessa tarefa (Reportagem publicada na Revista Forbes (que pode ser acessada no aplicativo ou no impresso) que integra o Especial ESG na edição 108; Forbes, 29/7/23)

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