Relatório publicado na revista Nature diz que probabilidade de rendimentos menores é cada vez maior.
O risco de as mudanças climáticas afetarem as colheitas de trigo nos principais celeiros do mundo é bastante subestimado, aponta um estudo publicado nesta terça-feira (4), que alerta para a possibilidade de desestabilização do sistema alimentar mundial.
A probabilidade de colheitas ruins ou de rendimentos menores simultâneos nas principais regiões produtoras é cada vez maior, ressalta o relatório, elaborado por pesquisadores radicados nos Estados Unidos e na Alemanha e publicado na revista Nature.
A queda nas colheitas em várias regiões pode provocar uma disparada dos preços, insegurança alimentar e até uma revolta civil, disse à AFP o autor principal da pesquisa, Kai Kornhuber, da Universidade de Columbia.
O acadêmico lembrou o que ocorreu em 2010, quando as safras foram afetadas pelo calor extremo na Rússia e pelas enchentes no Paquistão, com uma repercussão global importante.
A produção de alimentos é uma das principais causas das emissões de gases do efeito estufa e, portanto, do aquecimento global, estando, ao mesmo tempo, altamente exposta às suas consequências.
O estudo concentrou-se em dados meteorológicos e nos modelos climáticos de 1960 a 2014, e fez simulações para o período 2045-2099.
Em primeiro lugar, examinou-se o impacto do “jet-stream” —correntes de ar em altura que determinam as condições meteorológicas— nas principais regiões produtoras de cereais do mundo. Constatou-se que um jet-stream com oscilações fortes tem repercussões importantes na América do Norte e no leste europeu e asiático, com uma redução das safras de até 7%, um fenômeno que teve um papel importante na crise de 2010.
O estudo demonstrou, ainda, que os modelos de informática atuais preveem corretamente o movimento atmosférico do jet-stream, mas subestimam a dimensão dos fenômenos extremos resultantes do mesmo.
O estudo “alerta para as nossas incertezas” relacionadas ao impacto das mudanças climáticas no setor alimentar, apontou Kai Kornhuber. “Temos que nos preparar para este tipo de risco climático complexo e os modelos atuais parecem não levá-lo em consideração” (Folha, 5/7/23)