Se o Centro-Sul do Brasil conseguir moer 610 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no ciclo 2023/24 (abril de 2023 a março de 2024), os preços do contrato outubro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) seriam pressionados para uma faixa entre 21 centavos de dólar por libra-peso e 23 centavos de dólar por libra-peso, estimou a consultoria HedgePoint. “Para que esse cenário se concretize, o clima deve ficar mais seco do que o previsto atualmente”, afirmou a analista de Inteligência de Mercado de Açúcar e Etanol, Lívea Coda, em relatório.
O vencimento outubro encerrou a última sessão cotado a 23,80 centavos de dólar por libra-peso. Até o momento, a consultoria estima moagem de 595 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e produção de 37,6 milhões de toneladas do adoçante no Centro-Sul do País. Neste cenário, há um aperto entre a oferta e demanda global. Mas, caso a região consiga processar 610 milhões de toneladas de cana e produzir 38,5 milhões de toneladas de açúcar, a disponibilidade internacional também aumentaria, principalmente no segundo semestre de 2023. “Até agora, os dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) mostraram que os rendimentos da cana estão melhorando ano a ano”, afirmou Coda.
A consultoria reforça manter as previsões conservadoras tanto para o Brasil quanto em relação às safras do Hemisfério Norte, que foram prejudicadas pelo clima desfavorável. Por isso, mesmo na hipótese de o Centro-Sul conseguir processar 610 milhões de toneladas no ciclo 2023/24, os preços do vencimento março do açúcar demerara em NY tenderiam a permanecer mais altos, já que fazem referência aos contratos do Hemisfério Norte e a disponibilidade da região permanece incerta.
A HedgePoint estima produção de 31,4 milhões de toneladas de açúcar na temporada 2023/24 (outubro de 2023 a setembro de 2024) pela Índia. Se o país conseguir chegar a produzir 33,5 milhões de toneladas, poderia exportar até 1,5 milhões de toneladas a mais do que a consultoria estima hoje. Essa possibilidade, no entanto, leva em conta liberações de cotas de exportação pelo governo, que controla fortemente os estoques.
Se o governo permitisse o aumento das cotas antes de fevereiro de 2024, a HedgePoint prevê que haveria um alívio no déficit de 993 mil toneladas no balanço global do primeiro trimestre de 2024 e um superávit de 1,2 milhão de toneladas no segundo trimestre de 2024. “Os preços podem finalmente cair abaixo do nível de 20 centavos de dólar por libra-peso”, afirmou Coda.
Essa conjuntura, no entanto, ainda carrega muita incerteza. “Qualquer um dos casos (mais oferta do Brasil ou da Índia) ou a combinação de ambos significaria que a tendência baixista está ganhando forças. Porém, não acreditamos que os preços chegariam a cair para os níveis de 2019 (perto de 15 cents)”, afirmou a analista, reforçando que o consumo avança, o clima gera desafios à produção e os investimentos na cadeia sucroenergética estão cada vez mais altos (Broadcast, 18/7/23)